Olhar Agro & Negócios

Sábado, 27 de abril de 2024

Notícias | Economia

Rentabilidade da safrinha de milho: balanço de 2012

13 Nov 2012 - 07:58

Rubens Augusto de Miranda e João Carlos Garcia - Embrapa Milho e Sorgo

É fato conhecido por todos que se interessam pelo mercado de grãos de milho que o ano de 2012 foi especial para a segunda safra deste cereal, também conhecida como safrinha. Pela primeira vez, a produção da safrinha superou o colhido na safra verão. Segundo o último levantamento da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para a safra 2011/12, a produção brasileira de milho na segunda safra (cuja metodologia passou a considerar áreas plantadas em parte dos estados de RO, TO, MA, PI, BA, AL e SE) passou de 22,46 milhões de toneladas em 2011 para 38,7 milhões em 2012 e superou a safra verão do ano em quase 5 milhões de toneladas. Este aumento decorreu do crescimento da área plantada e da produtividade, que aumentaram, respectivamente, 23% e 40%. A produtividade, especificamente, passou de 3.641 kg/ha para 5.095 kg/ha, um aumento de quase uma tonelada e meia por hectare.

Os números de produção por si só são impressionantes. Todavia, com a safra de milho recorde de 72,7 milhões de toneladas em 2011/12, 26,7% superior à do anterior, havia expectativa de baixa nos preços do grão. Frente a tais previsões de queda, o imponderável aconteceu: a grande seca nos Estados Unidos fez os preços do milho explodirem no mercado internacional e, no Brasil, os preços internos continuaram altos.

É fácil concluir que a combinação rara para o mercado de milho de produção recorde (com altas produtividades) e preços altos teve como resultado grandes lucros para os produtores. Diversas análises no decorrer do ano utilizaram a referida junção de fatores para enaltecer o ano excepcional para os produtores de milho, mas sem se aprofundar no exame dos ganhos efetivos dos mesmos. Tal investigação passa por uma série de dificuldades pela impossibilidade de obtenção de informações precisas relativas aos custos e aos preços recebidos pela produção de cada agricultor. Por outro lado, é possível fazer uma aproximação que possibilite dimensionar os ganhos do setor. Para tanto, façamos a análise do aumento de produtividade, preços e custo de produção sobre os lucros operacionais dos produtores nos estados do Paraná e do Mato Grosso. Lucro operacional consiste no resultado depois de se deduzir os custos operacionais da receita líquida das vendas.

Apesar de serem os dois maiores estados produtores, as características do mercado de milho em cada localidade são distintas. O Paraná situa-se em uma região consumidora de milho, pois as indústrias de aves e suínos concentram-se na região Sul do país. Por outro lado, o Mato Grosso situa-se em uma região produtora, mas que não é grande consumidora. O estado de MT consome menos de 20% do que produz. Adicionalmente, no Mato Grosso os produtores vendem grande parte da produção antecipadamente junto aos traders, travando os preços em um nível remunerador, mas acabam não usufruindo de altas inesperadas como a deste ano. No Paraná, as negociações não costumam ocorrer de forma antecipada e os produtores normalmente vendem a sua produção para as cooperativas das quais que fazem parte. Estes fatores, dentre outros, fazem com que exista uma diferença interregional dos preços do milho, sendo que no Paraná há a ocorrência de preços maiores do que os negociados no Mato Grosso.

Outro ponto importante na análise é que um aumento de produtividade não resulta, necessariamente, em uma maior rentabilidade. Primeiro, existe a questão do custo de produção. Uma maior utilização de insumos, que consequentemente aumenta o custo de produção, via de regra aumenta a produtividade. Adicionalmente, o preço é determinado, principalmente, pela oferta e pela demanda. Neste sentido, um aumento de produtividade e uma área plantada pelo menos igual resultará em um aumento da produção. Em algumas situações, o produtor pode optar por não ofertar a sua produção à espera de preços melhores. Mas, no geral, um aumento de produção leva a um aumento de oferta. Caso a demanda não acompanhe este aumento de oferta, o resultado será queda nos preços. Entretanto, no esquema de negociação via contratos futuros, habitualmente utilizados no Mato Grosso, tal lógica não necessariamente é observada, pois depende das expectativas futuras no momento da venda antecipada. O que aconteceu no Brasil é que, apesar do grande aumento da oferta de milho, a demanda externa aumentou proporcionalmente e o país vem atingindo níveis recordes de exportação do grão. Feitas essas colocações, vejamos o que aconteceu nos dois referidos estados.

Receitas líquidas, custos de produção e lucros operacionais

Segundo dados da Conab, a produção de milho na safrinha do Mato Grosso passou de 7,25 milhões de toneladas para 15 milhões de toneladas, um aumento de 107%. O aumento da produtividade de 43,8% decorreu principalmente de fatores climáticos e não necessariamente da intensificação de insumos e tecnologia, passando de 3.950 kg/ha (65,83 sacas/ha) para 5.680 kg/ha (94,67 sacas/ha). Em termos de preços, boa parte da produção de milho na safrinha 2011 do Mato Grosso foi vendida antecipadamente para os traders em contratos pactuados entre janeiro e fevereiro de 2011 com um preço médio na casa dos R$ 18,00, enquanto que 30,2% da safrinha de 2012 foi vendida antecipadamente ainda em 2011, mas especificamente entre setembro e dezembro, e até junho de 2012 54,5% já havia sido comercializada a um preço médio de R$ 18,50 a saca de 60kg. As comercializações posteriores ocorreram com os preços à vista. Ao final de agosto, 88,2% da produção já estava vendida, estabilizando-se neste patamar, pois no fechamento de outubro a taxa de comercialização parou em 89,8%. O curioso é que, na mesma data em 2011, a taxa de comercialização da produção estava em 96,6%. Há dois argumentos para isso: a) uma safra 107% maior para ser vendida; e b) com a ligeira queda dos preços em setembro e em outubro, os produtores que ainda não comercializaram a sua produção podem estar esperando preços melhores.

A produção de milho na safrinha do Paraná passou de 6,2 milhões de toneladas para 10,2 milhões de toneladas, previsão da Conab, um aumento de 64,5%. O aumento da produtividade foi de 39%, passando de 3.610 kg/ha (60,17 sacas/ha) para 5.026 kg/ha (83,77 sacas/ha). Assim como no Mato Grosso, este aumento decorreu basicamente de fatores climáticos. Em relação aos preços de venda da safrinha de milho no Paraná, é mais complexo determinar os ganhos dos produtores, pois é difícil saber exatamente quando e por quanto cada um vendeu a sua produção, mesmo na média. Feita a colheita, os produtores entregam a produção em suas cooperativas e recebem um determinado valor, próximo ao do mercado à vista. Assim, como aproximação, consideremos que os preços obtidos pelos produtores do Paraná consistem na média dos preços à vista no período final da colheita e no período posterior à mesma. Dado que a safrinha de 2012 começou sua colheita no final de julho, utilizemos a média dos preços à vista no decorrer dos meses de agosto e setembro, que ficou em R$ 26,37 a saca.

Segundo o levantamento do Imea (Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária), a média dos custos operacionais de produção da saca de milho na safrinha de 2012 ficou em R$ 13,53 (custo ponderado pelas áreas das principais regiões produtoras de Mato Grosso). Considerando a produtividade de 94,67 sacas/ha e o preço recebido de R$ 18,50 a saca de 60 kg, o faturamento por hectare ficou na média de R$ 1.798, gerando um lucro operacional médio de R$ 470,51 por hectare. Os produtores que não venderam antecipadamente para travar preços puderam usufruir da alta de preços posterior à quebra de safra norte-americana. As médias dos preços da saca de milho em julho e em agosto no Mato Grosso ficaram em R$ 19,16 e R$ 21,87, respectivamente. Nos dois últimos meses, setembro e outubro, ocorreu uma ligeira queda na média dos preços para R$ 18,62. Assim, esses produtores obtiveram aumentos no lucro operacional, ficando na média de R$ 532,99 em julho, R$ 789,55 em agosto e R$ 481,87 nos meses de setembro e outubro.

No Paraná, uma das instituições que fazem o levantamento do custo de produção é o Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná). Segundo o Deral, os custos operacionais de produção do milho na safrinha do Paraná em 2012 ficaram na média de R$ 19,68 a saca. Assim, considerando um faturamento de R$ 2.209 por ha (produção média de 83,77 sacas/ha e vendida por R$ 26,37 a saca), obteve-se um lucro médio de R$ 560,42 por hectare. Cabe ressaltar que a grande diferença dos custos de produção da safrinha 2012, por saca, entre os estados do Paraná e do Mato Grosso se deveu, principalmente, ao grande aumento de produtividade que ocorreu neste último.

Os resultados surpreendentes da última safrinha acabaram se revelando muito lucrativos. No agregado, segundo a metodologia aqui adotada, o cultivo de milho no Mato Grosso gerou lucros que atingiram a marca de 1,34 bilhão de reais. No Paraná, não foi diferente: a situação dos produtores na safrinha também foi ótima, com quase 1,14 bilhão de reais de lucros do setor.

E a próxima safra?

A pergunta que fica é: o que acontecerá na próxima safra? Os preços deste ano estimularão uma boa produção de milho no próximo ano agrícola, 2012/13, apesar da diminuição da área da safra verão, em decorrência dos altos preços da soja e dependendo das condições do clima. A princípio, a dificuldade que se delineava acerca do escoamento da segunda safra de Mato Grosso foi resolvida com a quebra de safra nos Estados Unidos e os nossos recordes de exportação. No próximo ano, uma possível grande safra brasileira de milho deve ser acompanhada de uma safra recorde nos Estados Unidos, cuja área plantada, que já foi recorde neste ano, deve aumentar ainda mais. Ou seja, no ano que vem, deve ocorrer uma queda nos preços do milho no mercado externo, mas eles ainda permanecerão altos em relação aos seus níveis históricos. Assim, caso ocorra uma nova safra recorde no Brasil, ou no mesmo patamar da atual, podemos esperar menores retornos da cultura do milho no próximo ano agrícola, mas ainda remuneradores.

*Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo

Entre em nossa comunidade do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
Sitevip Internet