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Sexta-feira, 03 de maio de 2024

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Especialista defende projetos para minorar efeitos da seca nordestina

Fenômeno secular que afeta, determinadamente, o semiárido nordestino (regiões sertanejas) a seca ocorre em intervalos de 30 em 30 anos, segundo o professor Humberto A. Barbosa, PhD, técnico do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (LAPIS) e professor da Universidade Federal de Alagoas.

Existe estiagem e seca, e a diferença está em que esta última tem caráter permanente e por tempo prolongado. Em entrevista à repórter Luciana Barbosa, do Primeira Edição, Humberto Barbosa explica tecnicamente as causas das secas e por que elas só atingem os sertões nordestinos, causando sede e fome e provocando grande sofrimento às populações atingidas. Ele também afirma que obras como a transposição do São Francisco e o Canal do Sertão são importantes para atenuar os efeitos das estiagens e secas periódicas.

De que resulta a periódica falta de chuvas nos estados do Nordeste?
As principais causas são resultados da interação de vários fatores, tais como o processo de circulação dos ventos, as correntes marinhas, que se relacionam com o movimento atmosférico, impedindo a formação de chuvas no sertão nordestino e topografia. A região semiárida do Nordeste está localizada numa área em que as chuvas ocorrem poucas vezes durante o ano.

Por que chove quase que regularmente na região litorânea e no Agreste, mas não ocorre o mesmo no Sertão?
Ao contrário do que muitos pensam, a seca não atinge toda região nordeste. Ela se concentra numa área conhecida como sertão. Ali, o clima apresenta temperaturas elevadas, forte evapotranspiração (2.500 mm ao ano) e concentração (250 e 600 mm ao ano) de chuvas em poucos meses do ano (fevereiro a maio), por isso é considerado semiárido. No litoral, as temperaturas elevadas são amenizadas pelas brisas marítimas que sopram do mar em direção ao continente. As chuvas são mais abundantes (abril a setembro) e a umidade é bem maior do que no sertão.

Alagoas está vivendo uma seca ou apenas uma estiagem?
O sertão Alagoano está sofrendo uma seca. A seca é um fenômeno climático causado pela insuficiência de chuva numa determinada região por um período de tempo muito grande. A seca se manifesta com intensidades diferentes. Depende do índice de precipitações pluviométricas (chuvas). Quando há uma deficiência acentuada na quantidade de chuvas no ano, inferior ao mínimo do que necessitam as plantações, a seca é absoluta. No caso da estiagem não é permanente, já a seca é permanente.

No passado, em períodos de seca, o governo mandava bombardear nuvens com sal. Isso faz chover?
A indução artificial de chuva diretamente nas nuvens foi e continua sendo uma alternativa apara aliviar os prejuízos causados pela seca no sertão, com alto custo no mercado. O procedimento consiste em semear água nas nuvens com potencial para chuva e acelerar seu processo natural. A partir de informações de radar/satélite, um avião carregado de água potável entra na nuvem e, estimula o processo de crescimento da gota de água nas nuvens precipitando-as.

O que o governo pode fazer para permitir que o sertanejo possa conviver com os efeitos da seca sem tanto sofrimento?
Transposição do rio São Francisco e ações para mitigar o impacto da seca como construções de cisternas, açudes e barragens, investimentos em infraestrutura na região, distribuição de água através de carros-pipa em épocas de seca/estiagem em situações de emergência, implantação de um sistema de desenvolvimento sustentável na região para que as pessoas não necessitem sempre de ações assistencialistas do governo e incentivo público à agricultura adaptada ao clima e solo da região com sistemas de irrigação.

Nessa questão da seca, que é histórica, o governo federal não gasta o suficiente, não gasta o necessário ou simplesmente gasta mal?
Não tenho acesso aos dados relacionados com os gastos do governo federal na questão da seca.

A bilionária transposição do rio São Francisco é uma obra válida, ou o dinheiro poderia ser empregado em outros projetos?
A transposição do rio São Francisco e canal do Sertão são projetos dos governos federal e estadual (Alagoas) que visam levar água para regiões semiáridas do Nordeste. Desta forma, diminuiria o impacto da seca sobre a sofrida população residente, pois facilitaria o desenvolvimento da agricultura na região.

A seca ocorre aleatoriamente ou existe um tempo devido para ela acontecer?
Estudos realizados a partir de dados meteorológicos apontam que as secas rigorosas do sertão são cíclicas e ocorrem em um intervalo médio de 30 em 30 anos. A última seca rigorosa como essa de 2012 ocorreu em 1982. A seca de 1982 foi bastante documentada pelas grandes veículos de comunicação, que a apontaram como a mais rigorosa de todos os tempos. Trinta anos após a seca de 82, o sertão enfrenta outra rigorosa seca – a seca de 2012.

Como explicar o fenômeno da seca?
Historicamente, a região da Caatinga sempre foi afetada por grandes secas e o principal fenômeno meteorológico associado à ocorrência das secas no bioma da caatinga é o ENOS. Durante a fase positiva do ENOS, a região da Caatinga experimenta uma diminuição sazonal das chuvas e, por conseguinte, um aumento de intensidade das secas. É fácil verificar que, de modo geral, ocorrem anos de secas após anos de ocorrência do fenômeno do El Niño. O ano seguinte a um ano de El Niño, entretanto, nem sempre é um ano seco. Há também anos secos que não foram antecedidos por anos de El Niño, entretanto, relatos de secas na região podem ser encontrados desde o século 17, quando os portugueses chegaram à região. Na grande seca de 1877-79, por exemplo, teriam morrido mais de 500 mil pessoas na Província do Ceará e vizinhanças, vitimadas pela fome, sede, epidemias, falta de condições sanitárias, e ausência de infraestrutura; embora haja, por parte dos historiadores, certa divergência em relação a esse número.
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