Um levantamento feito pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) demonstrou que Mato Grosso é o terceiro estado brasileiro com o maior número de massacres no campo. Os dados foram levantados entre 1985 e 2017 e apontam dois crimes do tipo, que deixaram pelo menos 13 vítimas. Para além dos massacres o Estado apresentou aumento de 33% nos casos de conflitos agrários, sendo o primeiro do Centro Oeste com maior número de crimes contra trabalhadores do campo em 2016, segundo estudo da entidade.
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Em abril deste ano nove posseiros foram mortos na Linha 15 do projeto de assentamento Taquaruçu do Norte, no município de Colniza, extremo norte do estado. Cinco pessoas foram indiciadas pelo crime. O grupo de extermínio responsável pelas mortes está preso, mas o mandante, um madeireiro da região, permanece foragido. Os dados estão disponíveis na nova
página da CPT.
O massacre anterior ocorrera em Terra Nova do Norte. O fazendeiro Clemente de Almeida Souza Neto, conhecido como “Quele” foi apontado pela morte de quatro pessoas de uma mesma família de assentados. Foram assassinados Creuza Cardoso de Oliveira, Franciene, José P. Martins de Souza e Raimundo Ferreira de Souza no dia 15 de outubro de 1990.
“Quele” só foi preso um ano depois, quando viajava pra o estado do Tocantins. Ele foi submetido a júri e condenado a 67 anos de prisão. Além dele também foi preso o jagunço Sinval do Nascimento França, com pena de 35 anos de detenção.
Chacina de Colniza
O que contribuiu para o aumento no número de mortes foi a chamada “Chacina de Colniza”, quando nove posseiros do Projeto de Assentamento Taquaruçu do Norte foram mortos supostamente a mando de um empresário do setor madeireiro na região.
Valdelir João de Souza, o empresário responsabilizado pelo crime, é conhecido pelo apelido de “Polaco”. Ele é acusado de contrabandear madeira de áreas de proteção. Polaco é teria contratado “guaxebas”, ou seja, um grupo de extermínio especializado que trabalhava para proprietários do norte do estado.
Com o fim do inquérito, o Ministério Público denunciou “Polaco” e mais quatro envolvidos. Foram indiciados o ex-policial militar ex-sargento da Polícia Militar de Rondônia Moisés Ferreira de Souza, Ronaldo Dalmoneck, Pedro Ramos Nogueira e Paulo Neves Nogueira - sendo esses dois últimos tio e sobrinho.
Estruturação da pistolagem
De acordo com o coordenador estadual da CPT, Cristiano Cabral, nestes locais existe uma estruturação da pistolagem, que encontra subterfúgios na impunidade para reforçar suas ações pelo interior. Segundo ele, os atos antes cometidos por pistoleiros isolados, hoje podem ser atribuídos a associações de pistoleiros mantidas por fazendeiros para fazer sua “segurança”.
Com os homens armados seriam gastos de R$9 a R$ 12 mil reais por mês. Com resultado disso, nos últimos anos 272 famílias foram vítimas dos criminosos, sendo que 175 foram expulsas de suas propriedades apenas em Mato Grosso.