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Quarta-feira, 16 de outubro de 2024

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Drogas para criar ‘super vacas’ deixam bovinos com comportamento de ‘cães’ fotos

China, Rússia e União Europeia já proibiram a importação de carne de bovinos e suínos alimentados com estes suplementos e proibiram seus criadores de fazer uso dos beta-agonistas, até que suas agências de vigilância sanitária descubram quais são os reais efeitos destes medicamentos na saúde humana.

Foto: Reprodução

Espécime de 'Belgium Blue' criada a base de beta-agonistas

Espécime de 'Belgium Blue' criada a base de beta-agonistas

Alguns apresentam dificuldade para andar, enquanto outros se sentam em posições estranhas, se assemelhando a cães. "Já vi gado descendo a rampa do caminhão na ponta dos pés", diz Temple Grandin, doutora em ciência animal e consultora da indústria pecuária. "Normalmente, eles descem a rampa rápido e pulam para fora. Não queremos ver algo anormal tornar-se normal", disse a especialista em entrevista a uma publicação científica norte-americana.


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A preocupação de Grandin é compartilhada com diversos outros veterinários e cientistas especializados em pecuária, que suspeitam que a origem dos problemas está no uso de suplementos como Zilmax e Optaflexx, aditivos para ração, dados ao gado para que estes ganhem peso.

“Este produtos são chamados de beta-agonistas e estão sendo cada vez mais usados, em escala cada vez maior, em bovinos enviados para abate nos frigoríficos dos Estados Unidos”, explicou o veterinário Cássio Urguenti, que atua em propriedades do interior de Mato Grosso do Sul.

Um vídeo apresentado este mês em uma conferência da indústria de carne bovina em Denver, nos Estados Unidos, pela doutora Lily Edwards-Callaway, chefe de bem-estar animal da JBS USA, unidade da brasileira JBS, mostra imagens de bovinos com dificuldade para andar e apresentando sinais de angústia. Os animais demonstram o ‘tal’ comportamento estranho - caminham com hesitação, outros mancam, no que aparenta ser o reflexo de sérios problemas no sistema nervoso.

O vídeo foi mostrado como parte de um painel de discussão sobre os prós e contras no uso dos beta-agonistas, que chegam a acrescentar mais de 13 quilos ao peso do animal. E são justamente os animais alimentados com estes suplementos que tem mostrado sinais de que há algo errado com eles.

A Tyson Foods Inc., maior processadora de proteína animal do EUA ameaçou seus fornecedores – inclusive a JFS USA, de interromper a compra de gado alimentado com tais suplementos, devido aos problemas que estes animais apresentavam.

A introdução do Zilmax e de outros suplementos usados com a mesma finalidade, aliadas a ações como melhoramentos genéticos e na ração, fez com que a indústria norte-americana conseguisse a proeza de produzir mais de 11,8 bilhões de quilos de carne bovina a partir de ‘apenas’ 91 milhões de cabeças de gado em 2012. Em 1952, foram necessárias 111 milhões de cabeça para produzir 9,5 bilhões de quilos de carne.

O estranho comportamento apresentado por estes animais fez com que a farmacêutica americana Merck Sharp & Dohme (MSD), responsável pela fabricação do Zilmax, anunciasse a suspensão temporária das vendas do produto, em resposta ao aumento das preocupações sobre o bem-estar animal na indústria pecuária americana devido ao uso de produtos farmacêuticos na produção de carne.

Brasil

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) liberou a licença de uso de beta-agonistas em bovinos em setembro do ano passado, com a justificativa de que a utilização destes produtos podiam melhorar o rendimento do produtor rural.

Antes proibidos, já que animais alimentados com estes produtos não encontram mercado na Europa, seus status foi alterado motivado pelo setor privado, para permitir o uso de novas tecnologias na produção animal. A área técnica do Mapa, ao analisar o pleito do setor privado, considerou a conveniência, sua viabilidade e o interesse público, especificamente nos aspectos relacionados à segurança para os consumidores das novas tecnologias.

Beta-agonistas

Originalmente concebidos para aliviar a asma em humanos, os beta-agonistas são adicionados à ração animal durante as últimas semanas antes do abate para promover ganho de peso, estimulando o crescimento da massa muscular em vez de gordura. Eles não são hormônios, mas o Zilmax, ou zilpaterol, pode adicionar cerca de 2% — de 10 a 15 quilos — no peso final de um animal. Seu rival, o Optaflexx, à base de ractopamina, pode adicionar até nove quilos.

Beta-agonistas como o Zilmax e o Optaflexx, são produtos de um negócio em expansão de suplementos e antibióticos desenvolvidos nos últimos anos para ajudar os animais a ganharem peso rapidamente ou prevenir doenças, e foram aprovados em 2006 e 2003, respectivamente, pela FDA, a agência americana que regula as indústrias de alimentos e medicamentos.

China, Rússia e União Europeia já proibiram a importação de carne de bovinos e suínos alimentados com estes suplementos e proibiram seus criadores de fazer uso dos beta-agonistas, até que suas agências de vigilância sanitária descubram quais são os reais efeitos destes medicamentos na saúde humana.
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