A sede de uma das maiores empresas comercializadoras de tomate do país fica em Araguari. São tomates de todo tipo, vendidos para o Brasil inteiro e exportados para diversos países da América do Sul, que só saem depois de uma rigorosa seleção eletrônica feita por máquinas que ainda lavam e embalam os frutos automaticamente.
A empresa mantém três unidades para receber, selecionar e embalar o tomate. Ficam em Minas Gerais, São Paulo e Santa Catarina. Juntas elas processam cerca de 320 toneladas de tomate por dia.
O tomate entrou na vida do seu Edson Trebeschi, dono da empresa, meio por acaso. Filho de pequeno produtor de café do interior de São Paulo, ele foi trabalhar em Minas Gerais logo que concluiu o curso de técnico agrícola.
"Tive o privilégio e a oportunidade de ingressar na cooperativa agrícola de Cotia com 17 anos. Comecei como coordenador de produção, atuando na área de comercialização, junto às regionais dos cooperados da extinta cooperativa agrícola de Cotia", diz Edson.
Em 1994, quando a cooperativa fechou, ele decidiu continuar no ramo. Abriu uma pequena empresa para vender tomate e logo percebeu que poderia expandir o negócio se investisse também na produção. Hoje, a Trebeschi planta 1.200 hectares de tomate nos estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo e Santa Catarina.
Edson também começou a investir no cultivo de variedades especiais, que têm frutos de melhor qualidade e preço mais alto no mercado: os chamados tomates gourmet.
O primeiro tomate especial que a empresa passou a produzir foi o tipo italiano. "O intuito foi proporcionar um tomate melhor pros nossos consumidores. O italiano tem menos água e mais polpa. Você pode fazer salada e, a partir do momento que ele esteja com a maturação avançada, fazer um molho do próprio tomate. Como se fazia antigamente", explica Edson.
Pragas
Nessa empresa se usa muita tecnologia. Todas as lavouras são irrigadas e plantadas sobre plástico, que ajuda a preservar a umidade do solo. Não há mais trabalhadores lidando com agrotóxicos: as pulverizações são feitas com trator.
"Se fosse manual, teria que ter 30 pessoas pulverizando. Tendo o trator, um operador só pulveriza a roça inteira, então a gente tem uma economia. Fora a segurança do trabalhador na aplicação", como explica o agrônomo Pedro Galvão.
Mesmo caprichando no manejo, tomate a céu aberto é mais suscetível ao ataque de pragas e doenças. A agrônoma Letícia Magalhães conta que a área vem sofrendo com uma virose que compromete muito a produção.
"É uma doença virótica, transmitida pela mosca branca. O controle é difícil em função do grande nível de infestação encontrada nas nossas áreas e áreas vizinhas. Com uma infestação severa, a perda fica em torno de 70%", diz Letícia.
Para diminuir o problema, Edson resolveu literalmente afastar as pragas da lavoura e produzir os tomates especiais dentro de estufas. "Quando você parte para um produto diferenciado, não pode abrir mão de um manejo diferenciado".
A empresa montou 17 estufas muito modernas. Elas têm paredes feitas com uma malha bem fina, que impede a entrada de insetos, mas deixa passar o ar, refrescando o ambiente. Se algum inseto consegue furar as barreiras, se faz o controle biológico. Uma cartelinha contém ovos de uma vespa, que nascem dentro da estufa e depois localizam e destroem os ovos das pragas. O uso de agrotóxicos só acontece em casos extremos.
Cultivo
Essa estrutura também afasta insetos importantes para o sucesso do cultivo, aqueles que ajudam na polinização das flores do tomateiro. Nessa hora entra em cena o soprador: "uma coluna de ar faz com que o pólen de uma flor caia na outra e a gente melhora a eficiência da polinização. Garante maior número de frutos e uma uniformidade, que é importante para nossa produtividade", diz o técnico agrícola Clóvis Nunes, responsável pelo cultivo.
Ele explica que os tomateiros são plantados em vasos plásticos num substrato estéril, que não contém nutrientes. "A gente considera o substrato como mero acondicionador de raiz. Ele está lá para suportar a planta e suportar o sistema radicular. Nada mais." Todo o fertilizante que a planta precisa vai junto com a água, num sistema de irrigação por gotejamento. A adubação é formulada de acordo com a variedade e com a idade dos tomateiros.
Todos os processos utilizados na produção são monitorados constantemente. Um equipamento faz a medição da fertilização usada para o cultivo de tomate. Ele mede quanto da água e do adubo lançados no sistema chegam até o vaso e permite saber quanto o tomateiro realmente aproveita dos nutrientes que recebe.
"Esse monitoramento é constante, diário e, a partir das condições de clima e da idade de planta, nós vamos fazendo pequenos ajustes na nutrição para garantir toda a produção", conta Clóvis.
Outro aparelho mede a temperatura e a umidade do ar dentro da estufa. Para manter níveis ideais de temperatura e umidade, o sistema liga nebulizadores automaticamente.
Como todo o cultivo é irrigado, a água é um componente essencial. Especialmente na região do cerrado mineiro, que fica meses sem chuva. Por isso, a empresa investiu R$100 mil na implantação de um sistema que capta e armazena a água da chuva durante o verão. Calhas instaladas no teto das estufas coletam essa água que depois é armazenada em um reservatório.
Tomates gourmet
Com tanta tecnologia, essas estufas custam caro, em torno de R$ 130 mil para um conjunto de 2.400 metros quadrados. Para justificar o investimento, as estufas abrigam variedades de tomate que conseguem preço mais alto no mercado.
Um deles é o sweet grape, nome inglês que significa uva doce. Além de doce, o tomatinho é muito produtivo. Fora do país tem gente colhendo até 20 quilos por planta, por safra, que dura em torno de sete meses. Mas no Brasil a produtividade é menor, por volta de 8 a 10 quilos por planta.
Uma nova variedade que a empresa introduziu no Brasil há menos de 2 anos se chama intense. A genética foi desenvolvida na Alemanha. O que ele tem de diferente dos tomates convencionais é que ele possui 70% menos água. "Um dos motivos que faz com que o tomate seja tão perecível é, justamente, o excesso de água que tem nas variedades convencionais", explica Edson.
Em fase de adaptação às condições brasileiras, os tomates gourmet ainda tem alto custo de produção: "Um pé hoje das variedades especiais custa em torno de R$ 24 a planta. O rendimento tem variado de R$ 4,50 a 5,00. A meta é de 35 a 40% de rentabilidade", diz Edson.
A empresa quer aumentar a oferta desses tomates no mercado. Para isso, vem fazendo parcerias com outros agricultores. Irineu Montina, um tradicional produtor de café, decidiu investir também no tomate. A cultura ocupa dois dos 52 hectares da propriedade. Ele tem um contrato com a empresa que garante a compra de todo o tomate, por um preço fixo. Hoje, a empresa já tem 48 parceiros. Juntos eles geram mais de 2.500 empregos.