Geralmente programas, ações, políticas e projetos desenvolvidos pelos órgãos públicos da esfera federal são tomados como referência pelas respectivas pastas das administrações estaduais e municipais. No que diz respeito a piscicultura, Cuiabá provocou uma mudança e fez com que esta relação tomasse o caminho inverso: a capital mato-grossense serve como referência para o Ministério da Pesca e Aqüicultura (MPA).
Para falar sobre o assunto, o
Agro Olhar entrevistou o diretor de Agricultura e Abastecimento da prefeitura Municipal de Cuiabá, Jilson Francisco especifica que a atividade (um dos ramos da aqüicultura), que se destina à criação de peixes, na sua grande maioria de água doce, em ambiente com condições propícias para o seu melhor desenvolvimento, se difundiu pelo mundo a partir da pesca excessiva em mares e rios, o que provocou uma sucessiva destruição da fauna.
Apesar de pouca difundida no Brasil, a atividade cresce anos após ano e Mato Grosso se posiciona como um dos principais protagonistas neste panorama. O governo federal estima uma taxa de crescimento de aproximadamente 30% ao ano, tendo em vista o potencial do país: 13% de toda a água doce disponível no mundo se encontra em território brasileiro.
Entretanto, a produção brasileira está bem aquém da demanda dos consumidores. Dados do Ministério da Pesca mostram que mais de 200 mil toneladas de pescados precisam ser importadas por ano para suprir o mercado interno.
Neste contexto, Cuiabá, terra que tem no peixe um dos seus principais pratos típicos, aparece como um dos mercados mais promissores.
Confira a seguir entrevista com o diretor de Agricultura e Abastecimento do município, Jilson Francisco.
Agro Olhar – Qual a realidade da piscicultura em Cuiabá? Como o executivo municipal encara esta atividade?
Jilson Francisco - A piscicultura é uma das atividades aquícolas que mais tem se destacado na capital mato-grossense dentre os programas desenvolvidos pela Diretoria de Agricultura e Abastecimento (órgão subordinado a Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Econômico); existe enorme interesse de diversos seguimentos em incrementar a oferta de peixe regional e de oferta-lo a um preço menor. O prefeito Mauro Mendes tem feito diversos esforços para tornar isto realidade; o Caminhão do Peixe é um deles; outra ação determinada pelo prefeito é a perfuração de 150 tanques, num erro que inclusive já foi aprovado pelo Ministério da Pesca. Em Cuiabá construímos a infraestrutura inicial sob a supervisão de profissionais especializados, de forma que não apresentem problemas futuros, os que podem refletir em perdas financeiras.
Agro Olhar – O que mais a prefeitura tem feito pela piscicultura local?
Jilson Francisco – temos o programa Nosso Peixe, que objetiva apoiar o pequeno piscicultor, fazendo com que ele possa efetivamente garantir o sustento família. São 177 famílias de pequenos piscicultores cadastrados no programa, que recebem a doação de alevinos e outros tipos de auxílio. A revitalização de tanques/viveiros, abertura de outros que já possuem licenças ambientais também já é uma realidade.
Agro Olhar – Atrelado a este programa temos o Caminhão do Peixe. Qual sua função?
Jilson Francisco – O programa Nosso Peixe desenvolve atividades paralelas de comercialização, visando proporcionar renda ao pequeno piscicultor e oferecer peixes a preço acessível à população cuiabana. E uma das ferramentas de comercialização a ser usada é o Caminhão do Peixe, que oferta um peixe de qualidade, saborosa e com preços acessíveis. O projeto deu tão certo que fez com que diversas redes de supermercado baixassem o preço do quilo do peixe em suas unidades.
Agro Olhar – Como funciona o Caminhão do Peixe?
Jilson Francisco – O veículo visita diversas regiões três vezes por semana e tem capacidade de transportar e armazenar até 3,5 toneladas de pescado fresco e congelado. É composto por duas câmaras frias, espaço para manuseio do peixe, balança, máquina para emissão de cupom fiscal e um balcão para atendimento ao consumidor. É um trabalho que ajuda, de forma efetiva, a população a ter acesso a uma comida mais saudável. Por outro lado, fomenta a atividade da piscicultura, promove o crescimento de atividades relacionadas, como a criação de alevinos, produção e consumo de ração, revitalização e aberturas de mais tanques. Outro benefício direto às comunidades são as orientações técnicas dadas por nossa equipe e o apoio para comercialização do pescado.
Agro Olhar – A atividade é lucrativa?
Jilson Francisco – É considerada uma das mais importantes do agronegócios atualmente. É, de fato, uma atividade lucrativa, contudo é preciso que se faça a aplicação de técnicas já estabelecidas experimentalmente para que o produto seja aproveitado comercialmente e tenha aceitação da população. A assistência técnica especializada é o primeiro passo para o desenvolvimento dessa atividade, onde as boas práticas serão adotadas com a garantia de um negócio dentro dos padrões técnicos/científicos e devida aplicação de recursos. Desta forma, o produtor terá ótimo retorno financeiro. Grandes empresas como o Grupo Bom Futuro, do Eraí Maggi, estão investindo pesado neste ramo.
Agro Olhar – Então a piscicultura é uma alternativa viável?
Jilson Francisco – Levando-se em consideração a busca de alternativas capazes de fornecer alimentos de grande valor nutritivo em curto prazo e com preço bastante acessível, a piscicultura tem se mostrado uma das atividades mais viáveis. E Cuiabá tem mostrado isto para o resto do país. Temos uma capacidade enorme, um potencial muito grande, e estamos explorando de forma sustentável e responsável.
Agro Olhar – Em quais locais ela pode ser desenvolvida?
Jilson Francisco – A piscicultura pode ser desenvolvida em áreas hídricas ociosas e/ou exauridas, podendo auxiliar no repovoamento de rios com acentuado esforço de pesca que promovem a redução dos estoques pesqueiros, podem ser, com as devidas técnicas, promovidas em quase qualquer ecossistema e/ou bioma.
Agro Olhar – E como a atividade é desenvolvida?
Jilson Francisco – A piscicultura é desenvolvida de acordo com a sua finalidade (produção de alevinos, cria e engorda, lazer, para fins sanitários, etc.) e com o sistema de criação (intensivo, extensivo, semi-intensivo). É importante ressaltar que ela deve ser desenvolvida em material (água) de boa qualidade, sem a proximidade de indústrias químicas, matadouros, ou quaisquer outras atividades que podem afetar a criação de peixes. A água a ser utilizada deve ter boa procedência, sendo preferencialmente de nascentes, igarapés, lagos e reservatórios.
Agro Olhar – E quanto as espécies, quais devem ser as especificidades?
Jilson Francisco – Deve-se dar preferência a criação de espécies que ocorram nas bacias hidrográficas encontradas no estado. Devem, preferencialmente, conviver bem com outras espécies, tendo em vista que as vezes é necessário cria-las em um mesmo tanque. O hábito alimentar deve ser similar e o animal deve ser capaz de converter o máximo deste alimento em proteína de boa qualidade, além de um desenvolvimento corporal significativo.
Agro Olhar – Podemos concluir que o cenário é favorável para piscicultura?
Jilson Francisco – O cenário para o desenvolvimento da piscicultura é extremamente favorável. Temos um povo acostumado a comer peixe, porém por causa do preço ele se tornou um artigo de luxo na mesa de muitas famílias. Mas ainda é preciso aumentar a porcentagem de consumo do pescado produzido no estado e que tem origem fazendas da região, assim como em Cuiabá. Potencial, vontade dos produtores, de toda a cadeia produtiva, apoio do prefeito Mauro Mendes, do secretário Elias Alves de Andrade. Temos tudo isso. Basta continuarmos o trabalho.