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Sexta-feira, 06 de dezembro de 2024

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Técnicos e agricultores trabalham para controlar a mosca das frutas

Um inseto bem pequeno, que não passa de cinco milímetros. Mosca das frutas é o nome popular dado a dezenas de espécies de moscas que se alimentam de frutas, mas é na fase de larva que o bicho causa mais estrago.


A mosca coloca seus ovos diretamente na fruta. Deles nascem as larvas que se alimentam da polpa madura. Entre sete e nove dias, a larva pula para o solo, onde se transforma em pupa e, depois, em adulto novamente, recomeçando o ciclo.

“Estou perdendo em torno de duas a três toneladas por hectare, numa produtividade de 11 a 12 toneladas”, diz agricultor Leduar Carvalho. Já o agricultor Gabriel Santana diz que sua produção de uva chegou a apresentar perda de 30%.

Leduar Carvalho e Gabriel Santana são produtores de frutas no perímetro irrigado do Rio São Francisco, bem na divisa dos estados da Bahia e Pernambuco. Os dois têm propriedade em Petrolina, do lado Pernambucano, e andam com dificuldade pra controlar a mosca. É que o comportamento do inseto e o clima da região favorecem a multiplicação da praga: sol, calor e uma boa oferta de água o ano todo. Sempre tem fruta em algum pomar e isso dificulta o controle da mosca.

A espécie mais comum na região é a Ceratitis captata. Ela tem apetite voraz e pouco exigente. É capaz de comer uma extensa variedade de frutas. Como os pomares são vizinhos, ficam um do lado do outro, se acaba a manga numa área, ela pula pra acerola, pra uva, pra goiaba e pra sapota.

No caso da sapota, é bem fácil ver o estrago que a mosca causa já do lado de fora da fruta. Ela solta um leite, um látex, em cada lugar que a mosca fura. Na uva, por exemplo, por onde a larva anda, vai deixando um rastro. E a baga tem que ser descartada. Na acerola, que tem pele muito sensível, o ataque da mosca deixa pequenos furos. Depois, a fruta fica com aspecto de podre.

Normalmente, o controle da mosca é feito com inseticidas, mas nem sempre adianta. Os técnicos recomendam que todos os frutos que caem no chão sejam recolhidos e retirados do pomar, para interromper o ciclo de vida da mosca, mas nem todo mundo consegue fazer o controle do jeito ideal.

Todos os produtores de frutas hospedeiras da mosca que estão do lado pernambucano do perímetro irrigado vão ter que combater a praga. É que uma portaria do governo do estado tornou o controle obrigatório, como explica Ebis Santos, agrônomo da Adagro - Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco: “Se eu fizer o controle aqui e o meu vizinho não fizer, o que ocorre? Ele vai mandar a praga dele, mandar as moscas dele pro meu pomar. Ou todos controlam ou fica muito difícil.” A lei federal já obrigava os produtores de manga para exportação a controlar a mosca em seus pomares.

Controle
Tem jeito de manter a praga em níveis que não causem dano econômico. É o que se vê em uma fazenda deJuazeiro, na margem baiana do Rio São Francisco. A propriedade é uma das pioneiras na produção de uva no sertão nordestino.

O agrônomo Henrique Aquino é o responsável pelos pomares da empresa. Ele explica que a propriedade faz o chamado manejo integrado da mosca. Como determina a lei, a área passa por um monitoramento semanal. Serviço é feito com o uso de dois tipos de armadilhas.

A do tipo MacPhail usa um alimento líquido que atrai diversas espécies de insetos. As moscas vão comer, ficam presas lá dentro e morrem afogadas. A do tipo Jackson captura apenas os machos da espécie usando um feromônio, um atrativo sexual que tem o cheiro da fêmea. O bicho pousa e fica colado num adesivo.

“O monitoramento é realizado de acordo com o tamanho da área a ser monitorada. Se a propriedade é de 100 hectares, são 10 armadilhas”, explica a agrônoma Ítala Dasmasceno que coordena o monitoramento.

Ela trabalha para a Moscamed, uma organização social sem fins lucrativos, criada para ajudar no controle da praga na região. Uma vez por semana, um técnico vai à propriedade e conta o número de moscas capturadas em cada armadilha. Depois manda esses dados para a sede da organização, onde se faz um cálculo meio complicado.

O resultado dessa conta gera o chamado índice MAD, iniciais de Mosca Armadilha Dia, que determina o grau de infestação da propriedade e as providências que o agricultor deve tomar.
“Se o índice chegar a 0,5, então ele tem que entrar com controle químico, com inseticida biológico. Se atingir 1 de MAD ele já não consegue exportar seus produtos”, diz a agrônoma.

Para controlar a praga, a Moscamed trouxe para a região a técnica do macho estéril. As moscas são criadas em laboratório e, no estágio de pupas, os machos são esterilizados com exposição ao Raio X e depois liberados no campo. À medida que vai liberando machos estéreis, eles vão cruzando com fêmeas e elas vão pondo ovos que não eclodem e, assim, vão diminuindo as gerações de mosca.

Essa técnica, já usada em vários países como uma política pública, foi implantada numa parceria com o governo federal. “Nós mostramos a redução em áreas como Curaçá onde tivemos uma redução de quase 70%. Ou seja, reduzimos a 30% a população. Então, realmente, funciona bem desde que bem aplicado”, diz Aldo Malavasi, presidente da organização.

Em 2011, o Ministério da Agricultura cancelou o contrato baseado em relatórios técnicos que mostraram o aumento da população das moscas. Sem a técnica do macho estéril, o controle da praga no Vale do Francisco é feito com um inseticida biológico que mistura alimento com uma bactéria. A mosca é atraída pelo cheiro da calda, se contamina com a bactéria e morre.

Exportação
Apesar de caro, aumentando o custo de produção em torno de 10%, o controle vale a pena porque possibilita a exportação até para mercados muito exigentes, como os Estados Unidos.

Para exportar, as frutas ainda passam por um tratamento pós-colheita para eliminar qualquer vestígio do inseto. Isso pode ser feito de duas maneiras: aquecendo ou resfriando a fruta.

Depois de selecionada, lavada e embalada em caixas plásticas, a manga é mergulhada num tanque com água aquecida a pouco mais de 46 graus. Essa técnica mata qualquer larva de mosca que tenha ficado dentro da manga.

No caso da uva, as frutas exportadas pros Estados Unidos têm que passar por um tratamento a frio. São armazenadas à temperatura de zero grau por, pelo menos, 15 dias.

A mosca causa prejuízo em pomares por todo o país, mas nessa região, que responde por 90% da exportação de manga e quase 100% da exportação de uva do Brasil, a situação é ainda mais difícil. Todo esforço para controlar a praga é bem-vindo.
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