O aquecimento global promoverá grandes impactos na maioria das culturas agrícolas do país. No entanto, seus efeitos afetará pouco a cana de açúcar, desde que haja investimento tecnológico, possibilitando, inclusive, o favorecimento da cultura. A informação é da climatologista do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Francis Lacerda. Os desafios e oportunidades das mudanças climáticas na agricultura serão apresentados pela pesquisadora na Feira dos Produtores de Cana do Nordeste (Norcana). A palestra será realizada nesta quarta-feira (19), às 14h30, na Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP).
Nos últimos 40 anos, em função do aquecimento global, diversos locais do Brasil, do Rio Grande do Sul até o Maranhão, teve um aumento de temperatura de 1ºC. O aumento, em algumas áreas, já chega a 3ºC. Neste sentido, vários trabalhos vêm sendo publicados na tentativa de avaliar os cenários de aumento global da temperatura e os reflexos diretos na produção de alimentos. Dentre eles, Francis destaca o estudo sobre o aquecimento global e a cana de açúcar, desenvolvido pela Escola Superior da Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo o estudo, as mudanças climáticas e o aumento da concentração de CO2 aliados aos avanços tecnológicos poderão proporcionar um aumento significativo na produção de cana nos próximos 70 anos. “A cana é uma gramínea do tipo C4, resistente à falta de água e mais robusta, assim sendo, o aumento do CO2 e o consequente aquecimento do clima ira favorecer o processo de fotossíntese da cana”, destaca a pesquisa.
No entanto, em relação à resistência à falta d´água, a pesquisadora ressalta que o cenário depende do nível de produtividade que se pretende alcançar. “Para produzir 40 toneladas por hectares não tem problemas, porém, para ser competitivo, o alvo da produtividade deve ser de 90 ton/ha no mínimo”, pontua, destacando que, neste caso, a deficiência hídrica deve ser olhada com mais cuidado. Francis antecipa que existem duas soluções: introdução de variedades mais tolerantes à seca e adubação mais carregada em calcário e gesso, que permite aprofundar as raízes da planta, melhorando a absorção de água em profundidade.
“O avanço tecnológico na implementação de técnicas de cultivo, bem como em estudos que visam o melhoramento genético da planta frente às adversidades climáticas já é uma realidade no Brasil”, destaca Francis. Assim, o futuro da cana nordestina dependerá somente dos produtores adotarem mais tecnologia, uma vez que não será competitivo permanecer nos patamares de produtividade contemporânea de cerca de 60 ton/ha. Porém, ela antecipa dizendo que para os estados de Alagoas e Pernambuco, maiores produtores da região, a irrigação de complementação dos canaviais de 50 milímetros por mês continuará a ser uma necessidade com a nova situação climática.