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Quinta-feira, 02 de maio de 2024

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Pecuária do Rio Grande do Sul não é ameaçada pela 'vaca louca'

A confirmação da incidência do agente da chamada “vaca louca” em um animal que morreu em 2010 no Paraná fez com que o Japão, África do Sul, China e, posteriormente, Egito e Arábia Saudita suspendessem a importação de carne brasileira na semana passada. Apesar da notícia repercutir negativamente para o Brasil, quando pode influenciar outros países a aderirem às restrições, não representa uma ameaça significativa à pecuária do Rio Grande do Sul, conforme o Superintendente Federal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Estado (MAPA), Francisco Signor. A Região Sul do Brasil corresponde a 11,4% da produção agropecuária bovina brasileira e o Rio Grande do Sul, com 14 milhões de cabeças de gado de corte no campo, tem apenas 3% da produção destinada à exportação. No Norte e no Planalto Médio do Estado, os reflexos desses embargos são ainda menores, pois as plantas frigoríficas que praticam a exportação estão em municípios como Bagé, Alegrete, São Gabriel e Santa Maria, pertencentes às regiões Sudoeste, Oeste, Central e Campanha Gaúcha.

O Superintendente do MAPA acredita que o fato não deve ser motivo de preocupação devido à Organização Mundial de Saúde Animal considerar atípica a incidência de “vaca louca” no país. Mas apesar de considerar pequenas as ameaças que os embargos causam à pecuária gaúcha e avaliar que não devem causar maiores impactos, Signor observa algumas questões que notícias como essa podem gerar. A apreensão pode diminuir, mesmo que de forma pequena, o consumo interno e ainda alguns países aproveitarem a oportunidade para comprar o produto por um preço menor. “Isso é resultado do mundo globalizado. Futuramente, a diminuição da exportação pode ainda influenciar no excedente de carne para o consumo interno, quando a produção de outros estados brasileiros podem vir para o Rio Grande do Sul. Assim, o aumento dessa oferta acaba sendo bom para o consumidor em decorrência da baixa dos preços, mas negativo para o os pecuaristas locais”, analisa.

O pecuarista Plínio Formigheri, que fornece o produto para um frigorífero que disponibiliza a carne para consumo interno do Estado, considera que o aumento na procura da carne bovina para o fim do ano demonstra que a região não está e nem será afetada pelos embargos. “Quem está preparado para trabalhar com a pecuária e com os negócios montados não vai deixar de produzir, não precisa se preocupar”, sugere.

Já o presidente do Sindicato Rural de Passo Fundo – que ainda abrange os municípios de Ernestina, Pontão, Mato Castelhano, Gentil, Ciríaco, David Canabarro, Vanini e Santo Antonio do Palma - João Batista Fernandes da Silveira, acredita que os embargos são comerciais no sentido de evitar a entrada da carne brasileira nesses países. “A nossa carne é uma das melhores do mundo em termos de qualidade e quantidade na produção. Esses embargos acontecem para que não tenhamos um mercado cativo em países da Ásia, Europa e África”.

Silveira lembra ainda que os impactos econômicos na região são pequenos, pois a agricultura predomina e a pecuária é uma atividade secundária. “Poucos sãos os produtores que se dedicam de forma exclusiva à pecuária, tanto pelo favorecimento da agricultura em decorrência do solo e do clima, quanto pela área de produção restrita, que não permite uma pecuária extensiva. O que mais existe hoje e que envolve o gado é a produção leiteira, que não sofre nenhum tipo de influência desses embargos”, observa.

Mesmo que grande parte da carne bovina produzida no Rio Grande do Sul seja consumida internamente, há ainda a demanda por importação do produto de países vizinhos como Argentina e Uruguai e de estados do Centro-Oeste brasileiro, conforme Signor. O representante do Mapa no Estado também destaca que as ameaças desses embargos são pequenas por envolverem a produção pecuária bovina. Porém, se passasse a afetar a exportação de suínos e aves, o impacto seria significativo, levando em conta que cerca de metade do que é produzido no estado nessas duas últimas áreas é destinada a outros países. Ao mesmo tempo, a diminuição da exportação da carne bovina nos embargos do exterior pode representar aumento na exportação dos suínos e aves.

Controle da vaca louca
As medidas tomadas pelo Estado e que se relacionam com o controle de doenças é o rigor acentuado nos insumos para alimentação do gado e a cautela em manter a integridade sanitária dos rebanhos. “O que estamos preocupados é em intensificar o controle dos insumos dos animais. Essa vigilância sanitária só pode ser feita no campo e o animal é aquilo que ele come”, comenta Signor, ressaltando que as fiscalizações são resultado de um trabalho conjunto com a Secretaria Estadual da Agricultura, secretarias municipais e Emater.

O professor o curso de Medicina Veterinária da UPF e especialista em Microbiologia e Doenças Infecto-Contagiosas, Luiz Carlos Kreutz, explica que esse é o primeiro relato de um diagnóstico positivo da Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), no Brasil e ainda identificado em um animal que morreu em 2010 por outras causas. O surgimento mundial da doença foi na década de 1980 na Inglaterra, passou por um período de pico e foi se extinguindo a partir de 1990. Hoje a doença acontece de forma pontual e esporádica.

Kreutz defende que a atitude dos países que embargaram a importação de carne brasileira está baseada em questões econômicas e de saúde. O professor diz que é natural que isso aconteça até que haja os esclarecimentos necessários e acredita que a questão se resolva dentro de alguns meses.
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