A Rede de Produção Orgânica da Amazônia Mato-grossense (Repoama) foi credenciada como um Sistema Participativo de Garantia (SPG) pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) neste mês. Essa modalidade de certificação orgânica permite que os próprios agricultores da rede realizem visitas e fiscalizações na propriedade de todos os participantes para analisar se os requisitos da legislação orgânica estão sendo cumpridos. Caso não estejam, todos podem ser punidos.
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O casal de agricultores familiares Roseli Alves e Osvaldo de Brito, de Paranaíta (838 km ao norte de Cuiabá) deixou de usar agrotóxicos e fertilizantes químicos em sua produção desde 2018. Ainda assim, não conseguia vender suas hortaliças, frutas e verduras com o selo de orgânico. Isso gerava dúvida nos consumidores e deixava de agregar valor aos produtos vendidos. No entanto, com o credenciamento da Repoama, a produção dos dois recebe o selo.
Conforme explicou o coordenador do programa de Negócios Sociais do Instituto Centro de Vida (ICV), Eduardo Darvin, este é o primeiro SPG da agricultura familiar não indígena em Mato Grosso. Para os pequenos produtores, é o método mais rentável, democrático e viável de certificação.
"Isso para nós representa a valorização dos produtos da agricultura familiar, que poderão ser comercializados com valor agregado. Ainda, representa a chance de levar para a mesa da população um alimento saudável, justo e ambientalmente correto", pontuou.
No caso de Roseli e Osvaldo, a agricultura orgânica veio primeiro por meio da mudança e consciência. Eles, que têm a venda de hortaliças, frutas e verduras como única fonte de renda, passaram a acreditar que não era justo vender para o consumidor um produto cheio de agroquímicos.
"Plantar, passar veneno, colher e dar para os outros não está certo. Era muito produto químico em cima de uma planta. A gente deixava quase 80% da nossa renda em casas agrícolas e trabalhava no vermelho direto. Depois que a gente começou a trabalhar com orgânico a gente viu depois que também poderia ter um pouco mais de renda", explicou.
O agricultor familiar Rodrigo Alves, de Alta Floresta (a 791 km ao norte de Cuiabá), presidente da Repoama, cresceu em uma família que sempre produziu sem venenos. Já mais velho, ao tentar comercializar seus produtos na feira do município, também descobriu que não poderia utilizar a palavra orgânica para denominar o café, o abacaxi, o mel e o própolis que cultivava.
"Depois disso a gente descobriu que existia a certificação por meio de auditoria, mas era muito caro e para o pequeno produtor não faz sentido. E no caso da Organização de Controle Social (OCS) só era possível vender de porta em porta, não diretamente para os supermercados, por exemplo. Quando soubemos da SPG, isso fez brilhar os olhos."
Repoama
A rede foi formalizada em 2019 e é composta por 13 organizações comunitárias dos municípios de Alta Floresta, Paranaíta, Nova Monte Verde, Nova Bandeirantes, Cotriguaçu e Colniza, nas regiões norte e noroeste de Mato Grosso.
Ela surgiu a partir de uma iniciativa do ICV, com financiamento do Fundo Amazônia/BNDES, do Programa Global REDD Early Movers (REM) e da União Europeia.