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Segunda-feira, 18 de março de 2024

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Após união com multinacional francesa, sementeira de MT segue em ritmo de avanços

Foto: Rogério Florentino/Olhar Direto

Após união com multinacional francesa, sementeira de MT segue em ritmo de avanços
Uma das principais sementeiras de Mato Grosso, a Agro-Sol Sementes, tem avançado a passos largos nos últimos anos. Recentemente, no último dia 28 de maio, a empresa inaugurou o Seed Place 163 – uma unidade de distribuição e serviços às margens da BR-163, um grande progresso no atendimento a produtores de soja da região norte do Estado. Fundada há mais de 20 anos pelos irmãos Guidone Dallastra e Plínio Dall'Astra, a sementeira começou pequena e hoje atende a todo o Cerrado brasileiro. Em 2016, juntou-se à francesa InVivo – maior grupo de cooperativas agrícolas da França - e serve como exemplo da força do agronegócio no Estado.

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O ramo de produção de sementes é bem distinto do de produção do grão da soja em si. Dentro da cadeia produtiva da soja existem os obtentores, que é quem desenvolve a tecnologia, quem cria as sementes, existem os multiplicadores de sementes (as sementeiras), como é o caso da Agro-Sol, e na ponta há o produtor rural, que é quem planta. As sementeiras compram a tecnologia das obtentoras e multiplicam e beneficiam as sementes. Com a Agro-Sol existe um processo no campo e um processo industrial, onde os lotes de sementes são uniformizados.
 
“Existe uma diferença grande entre o grão de soja e a semente. A semente é um organismo vivo em que você deposita toda a expectativa para que ele germine e gere uma lavoura. Você tem um organismo vivo que tem que estar íntegro, bem cuidado, bem selecionado, com uniformidade de tamanho, forma e peso, e o grão não tem essa demanda de vida, tem a demanda da proteína, do óleo, e dos demais compostos da estrutura dele”, disse o CEO da Agro-Sol, Eduardo Dallastra.


 
As diferenças entre a lavoura para sementes e a lavoura para produção do grão da soja aparecem antes mesmo do plantio. Existe uma questão burocrática, pois para plantar uma área destinada à produção de sementes o campo deve ser previamente inscrito no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Na Agro-Sol, a produção destes campos é feita por sistema de cooperados, a grande maioria na região de Campo Verde.
 
“Para inscrever um campo no Ministério da Agricultura é necessário que exista um contrato de fornecimento entre a sementeira e o agricultor que vai plantar. Embora a lavoura seja do produtor cooperado - ele compra o fertilizante dele, o defensivo, tem as máquinas dele, tem o pessoal dele – nossa equipe técnica acompanha todo o desenvolvimento de perto. Fazemos indicações para o manejo de pragas e doenças, realizamos visitas para acompanhar a lavoura. Fornecemos as sementes e fazemos todo o planejamento das cultivares”, explicou o Diretor de Operações da Agro-Sol Sementes, Gladir Tomazelli.
 
Há também a necessidade de obtenção do licenciamento do obtentor da cultivar (quem desenvolveu a semente). Se não houver este licenciamento não há permissão para a produção da semente.
 
Além da questão burocrática, existem várias questões técnicas que diferenciam uma lavoura voltada à produção de semente. Por exemplo, a semente não pode sofrer danos mecânicos, então até a regulagem que é usada para a colheita requer um cuidado maior. A semente tem que estar em um padrão superior.
 
“Outra particularidade da produção dos campos de sementes é que dentro da área que você planta não pode ter outra cultivar, porque deve ter um controle de O.C. (outras cultivares). Então não pode haver misturas”, disse Tomazelli.


 
O período entre o plantio e a colheita dura, aproximadamente, de 90 a 130 dias em Mato Grosso, dependendo da cultivar plantada e de fatores como o volume de chuvas. A Agro-Sol faz um acompanhamento dos campos de cooperados durante todos os estágios de desenvolvimento da planta.
 
No período entre janeiro e março é feita a colheita desses campos. São retiradas amostras das lavouras para testes de pré-colheita no laboratório interno da Agro-Sol. Confirmado o momento mais adequado, a colheita é realizada e as sementes, após avaliação da equipe de Controle de Qualidade, são descarregadas na Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS), em Campo Verde.  A partir de então, passam por diversos processos, são separadas por tamanho, peso e forma, são resfriadas e ensacadas, dando origem a lotes uniformes de sementes.
 
O portfólio da Agro-Sol possui variedades de sementes que atendem a diferentes contextos em todo o Cerrado brasileiro. Nesta última safra fora ofertadas 22 variedades, em parceria com os principais obtentores do mercado.
 
“Nós não procuramos reinventar a roda, procuramos fazer o processo que é comum a todos, só que da forma mais bem-feita possível, com excelência, por isso temos conseguido, em todas as etapas, manter um alto nível de qualidade, com uma equipe bastante comprometida”, afirmou o CEO da Agro-Sol, Eduardo Dallastra.
 
As sementes produzidas pela Agro-Sol são vendidas para várias regiões do Brasil, principalmente na região do Cerrado. A distribuição começa próxima ao final do período do vazio sanitário, no mês de setembro. Após o beneficiamento as sementes ficam armazenadas em armazéns climatizados e passam por testes regulares de qualidade, até o momento da entrega.
 
Ao cliente da Agro-Sol também é oferecido o Tratamento Industrial de Sementes (TSI) etapa onde são aplicados produtos que dão uma proteção extra à semente no início do plantio.
 
Neste mercado é comum que a venda seja feita através de um intermediário. A Agro-Sol, no entanto, tem um posicionamento de mercado bem diferente, ela atua com a venda direta ao agricultor.
 
“A principal vantagem da venda direta é a possibilidade de saber diretamente do produtor quais são as suas necessidades. Nós produzimos antes de vender, mas às vezes vendemos até antes de produzir. Então, para termos um melhor ajuste do que produzir para que o mercado absorva isso, temos esta possibilidade de saber diretamente do cliente o que ele quer e precisa. Além disso, conseguimos atender diretamente a qualquer necessidade do produtor, tanto de produtos quanto de serviços”, explicou o gerente comercial da Agro-Sol, Pedro Tomazelli.


 
Beneficiamento das sementes
 
O processo de beneficiamento de sementes é longo, pode durar em média de 24 a 36 horas por cada carga. Basicamente, é o processo de uniformização das sementes, que inicia com limpeza e segue para outros processos em que as sementes serão separadas por peso, tamanho e formato. Enquanto ainda estão no campo as cultivares passam por testes de laboratório, para que a qualidade da semente seja comprovada. Depois disso é feito um planejamento para o recebimento das cultivares aprovadas.



Quando chegam à Agro-Sol as sementes então passam por mais um teste, e se tudo estiver nos conformes, é feita a descarga das sementes nas moegas onde é iniciado o processo de beneficiamento. O primeiro passo é a pré-limpeza. Todos os grãos indesejáveis, todas as impurezas como talos, cascas ou outros tipos de sementes que pode ter se misturado, são retirados nesta etapa.
 
Após isso as sementes são armazenadas nos silos pulmões, onde passam por um processo de secagem. Este processo pode demorar até sete horas, dependendo da umidade com que a semente chega no secador. A secagem é um processo de baixa temperatura, no máximo 38 graus na massa de grãos. O sistema leva o ar seco para a semente, porém em baixa temperatura para não haver um choque térmico. O choque térmico prejudica o vigor, a qualidade física da semente, e também pode fazer com que as sementes, na sequência da secagem nas máquinas de transporte, sofram dano mecânico.
 
Em seguida vem a separação das sementes por tamanho, peso e forma. As sementes passam pelo padronizador, que as separa por tamanho. Depois vão para a espiral, onde são separadas pela forma. As sementes mais achatadas e oblongas saem neste equipamento. Continuando, as sementes vão para uma mesa de gravidade que as separa por peso, que varia, por exemplo, de acordo com a quantidade de chuva que cada lavoura recebeu.


 
O objetivo é separar tamanhos distintos de semente padrão, para que o produtor que as receber consiga fazer uma boa regulagem de equipamento para distribuição de sementes no solo.
 
Depois disso vem o processo de embalagem. As sementes são embaladas em big bags de 5 milhões de sementes, cujo peso pode variar entre 580 kg e 1.300 kg, dependendo do tipo de semente embalada. Neste momento é que são formados os lotes. Ele é etiquetado com as características, com rastreamento, com acompanhamento de qual campo vem, de que qual cooperado, de qual variedade, ou seja, todos os dados do lote são imputados neste momento.
 
O passo seguinte é a armazenagem, onde os sacos ficam empilhados até o momento da entrega para os clientes, que ocorre a partir de setembro. As sementes são mantidas em armazéns climatizados com umidade e temperatura controladas.


 
Existe também o processo de acompanhamento da qualidade. A partir do momento em que é formado o lote já é coletada uma amostra, então neste período também são feitos os testes de laboratório, com aplicações de soluções químicas, testes em germinador e também em canteiros onde são plantadas fileiras de 100 sementes.
 
Antes do envio, dependendo da opção do cliente, é feito o tratamento de sementes, em parceria com a Syngenta, especializada em sementes e produtos químicos voltados para o agronegócio. Nos últimos anos a Agro-Sol tem recebido selo de excelência da Syngenta, pelo bom trabalho que faz no TSI, tanto na parte do tratamento, em si, como na organização do ambiente de trabalho, proteção dos colaboradores, descarte responsável dos resíduos, entre outros.



“Existe uma diferença entre você tratar a semente em uma máquina qualquer, de qualquer jeito, com qualquer produto, e fazer um tratamento industrial, que aí você tem garantia de um resultado bom. O que importa no tratamento industrial é a uniformidade do produto nas sementes, é muito melhor do que um tratamento com máquina que não seja específica. Eu sempre considero o seguinte: é importante é proteger a semente. Não adianta ter uma boa semente e colocar um produto ruim, ou mesmo um produto bom, porém mal distribuído, mal uniformizado”, afirmou Gladir Tomazelli.
 
A Agro-Sol
 
A Agro-Sol foi fundada há mais de 20 anos pelos irmãos Guidone Dallastra e Plínio Dall'Astra. Os dois gaúchos vieram para Mato Grosso no início da década de 1980, já para a região de Campo Verde. De acordo com o CEO da Agro-Sol, Eduardo Dallastra, filho de Guidone, seu pai e seu tio vieram do Rio Grande do Sul com uma mentalidade de agregação de valor e então surgiu a hipótese de fazer sementes. Em 1999 eles iniciaram os investimentos e fizeram a primeira linha de beneficiamento em Campo Verde. A empresa enfrentou algumas dificuldades com o passar dos anos.



“Essa história começou com eles dois, ainda na pessoa física, com uma estrutura mais simples. Passou depois a ser pessoa jurídica e estava já relativamente bem organizada quando houve aquele problema com a ferrugem asiática na safra 2003-2004 e 2004-2005. Foram safras bem complicadas, teve problema com dólar, teve problema sério com fitossanidade, e a ferrugem era desconhecida até então, destruiu muito campos, eles perderam lá um terço da lavoura. Então foi muito complicado para se recuperar disso”, contou Eduardo Dallastra.
 
Foi então que surgiram interessados em adquirir uma participação na empresa. Gladir Tomazelli trabalhava para um grupo que, a princípio, tinha interesse em fazer negócios com os irmãos Guidone e Plínio. A sociedade acabou não prosperando, mas Tomazelli e os irmãos Dallastra se deram bem e decidiram formar uma união.
 
Em 2015, 10 anos após a chegada de Tomazelli, a empresa passou por uma reestruturação, quando foi separada a parte agrícola da parte industrial, de beneficiamento da semente, armazenagem e comercialização. As duas famílias se uniram através de uma holding (DT Empreendimentos e Participações S.A.) e os sócios viram a necessidade de vender participação na empresa para fomentar seu crescimento.

A empresa acabou sendo encontrada pelo grupo InVivo, a maior união de cooperativas agrícolas francesas. O grupo veio para o Brasil na década de 1990, atuando com nutrição e saúde animal, e em 2014 a divisão de agronegócio da InVivo, a Bioline, começou a procurar algumas oportunidades de investimento.
 
“Um dos negócios foco deles é a produção de sementes, e obviamente que Mato Grosso chama a atenção de qualquer um que começa a estudar o mercado de sementes de soja no Brasil, porque é o maior produtor, tem o maior mercado, e tem alguns locais com aptidão para produção de sementes, então fazia sentido produzir dentro deste Estado”, disse Dallastra.
 
As negociações entre a InVivo e a DT Participações iniciaram no final do ano de 2014 e continuaram durante todo o ano de 2015. Após chegarem a um acordo a conclusão do negócio foi efetivada em maio de 2016, com a venda de 50% de participação na Agro-Sol. Com isso, a diretora financeira apontada pela Bioline foi Joyce Westmann e os diretores executivo e de operações foram indicados pela DT Participações. Aliando os interesses e diretrizes de ambos os acionistas a Agro-Sol passou a ter um perfil corporativo com governança de padrão internacional.
 
“A Bioline tem uma visão de investidor estratégico, que era o que buscávamos, para dar um suporte à nossa possibilidade de crescimento. Desenhamos um plano de negócio e confiávamos nele, para que nas oito safras seguintes, a partir do fechamento do negócio, alcançássemos algo próximo a 1 milhão de sacos, e felizmente nós já passamos disso, estamos na quinta safra e já ultrapassamos isso”, disse Dallastra.

"A Agro-Sol está hoje em um movimento de crescimento. Estruturado, organizado e baseado em estratégias de um time que integra pessoas que buscam excelência no que fazem. Crescer nos coloca em ação, nos tira de qualquer zona de conforto. Os últimos cinco anos foram repletos de mudanças. Redesenhamos processos administrativos; reestruturamos nosso organograma; repensamos, criamos, reorganizamos uma série de coisas em nossa gestão, para conseguir dar suporte ao crescimento da produção e para estarmos em sintonia com o grupo internacional do qual fazemos parte, Bioline by InVivo" contou Joyce Westmann, Diretora Administrativa e Financeira.

 
A sede produtiva da Agro-Sol continua sendo em Campo Verde, e a empresa também possui escritório em Cuiabá, que passou a ser a sede administrativa. O avanço mais recente foi a inauguração do Seed Place 163, em Sorriso, o primeiro centro de tratamento e distribuição de sementes de uma empresa mato-grossense no Norte do Estado.

“A região sul e sudeste daqui é a região na qual temos maior abrangência, e temos crescido muito na região da 163, não à toa, uma das regiões de maior plantio de soja do mundo. Agora estamos com o centro de distribuição lá, onde a semente fica mais próxima do cliente, conseguimos entregar com mais agilidade”, disse Pedro Tomazelli, gerente comercial da Agro-Sol.
 
O projeto surgiu pela necessidade de atender a região norte de Mato Grosso, uma das mais importantes para a produção de soja no Brasil, onde não há produção de sementes em decorrência do clima. Na Seed Place 163 as sementes são armazenadas em um ambiente climatizado, com umidade controlada, e a localização possibilita entregas mais rápidas e com menos riscos.
 
Avanços
 
Todos os processos de produção da semente de soja pela Agro-Sol contam com tecnologias avançadas. Antes mesmo de chegarem à Agro-Sol as sementes passam por um controle genético e são separadas por categoria.
 
“Está se trazendo cada vez mais tecnologia para a semente, se olharmos para os últimos 20 anos tínhamos uma semente de soja que era muito simples. Quando Guidone, Plínio e Tomazelli vieram para Mato Grosso eles utilizavam sementes que não eram produzidas aqui, compravam sementes de outros estados e o índice de germinação era baixíssimo, não tinha adequação, porque hoje temos uma acuracidade de latitude imensa. Houve mais investimento e isso foi proporcionando que se tivesse mais sementes adequadas para cada microrregião do Brasil. Unir resistência com produtividade, sustentabilidade na produção, sempre é essa a busca incessante dos pesquisadores”, disse Eduardo Dallastra.
 
Além desse avanço, também houve mudanças nas tecnologias para o plantio e colheita. Gladir Tomazelli lembra que antigamente o período de colheita, que demorava até quatro meses, teve o tempo reduzido pela metade.
 
“As colheitadeiras ficaram muito mais adequadas para colher sementes, muito ágeis, com um volume diferente, então a capacidade de colheita dos agricultores é muito grande. O período de colheita encurtou muito, até 15 anos atrás colhia-se soja de 15 de fevereiro a 30 de abril ou 15 de maio, hoje é de 5 de janeiro a 28 de fevereiro praticamente, então isso mudou muito”, disse.
 
O processo de secagem, no beneficiamento, também evoluiu bastante e hoje na Agro-Sol é feito em um tempo mais curto sem perder a qualidade. Também houve avanços no armazenamento, que hoje conta com climatização, o que proporciona a conservação das sementes por meses.

 
O objetivo da Agro-Sol é continuar avançando no uso de tecnologias, porém de uma maneira sustentável. De acordo com o CEO da empresa, Eduardo Dallastra, diferente de como ocorre na Europa, onde os processos são mais automatizados, a Agro-Sol acha importante manter a participação humana no processo.
 
“É um equilíbrio, eu diria. No negócio de produção de sementes tem um equilíbrio grande entre o fator humano e os equipamentos, temos um número considerável de pessoas envolvidas na mão de obra, existe já tecnologia no mundo com mais automação e aí temos que equilibrar o custo-benefício disso. Temos intenção de crescer mais, dentro do possível, de uma maneira sustentável, e posso dizer que hoje temos capacidade para isso, porque temos estrutura, tanto de capital quanto de gente”, afirmou.


 
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