O aumento do preço da carne já havia sido previsto desde a metade do mês de novembro, e, agora, chegou à ponta. Donos de restaurantes e hamburguerias da cidade têm percebido a discrepância, que pode chegar a 60% e que é sentida todos os dias. Mesmo tentando diminuir a margem de lucro, eles afirmam que chega um ponto em que não tem mais jeito, e é necessário aumentar o preço para o consumidor final.
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“A gente segura, reluta o máximo que dá, segura o lucro para tentar não repassar para o cliente, mas infelizmente o aumento é muito e acaba não tendo como, a gente tem que repassar essa conta”, lamenta o proprietário do Chuvisco, Lucas Fraga de Musis, 32. Segundo ele, o quilo da picanha, por exemplo, custava R$42 e, esta semana, subiu para R$49.
O repasse para o cliente ainda é pequeno. O espeto de alcatra no Chuvisco, por exemplo, que custava R$22,50, passou para R$25. “De uns dois meses para cá começou a toda semana ter essa mudança, toda semana você vai comprar a carne e está com um valor diferente”, lamenta. “Veio aumentando, você vai contornando, mas chega num ponto que o preço sobe tanto que não tem como. De uma semana para outra teve um aumento de R$6 no quilo e não tem como segurar”.
Chuvisco sentiu o aumento da picanha e alcatra (Foto: Lucas Ninno / Veja Comer & Beber)
O Chuvisco tem 26 anos de história. Segundo Lucas, o preço da carne normalmente aumenta quando há seca no Pantanal. Com ele, até agora, os clientes tem sido compreensivos. “Graças a Deus os nossos clientes tem instrução, então eles sabem que é difícil, que a gente não tem o que fazer. Ainda não diminuiu o fluxo, mas eles sentem que subiu”.
Outro empresário que sentiu na pele o aumento foi Vinícius Belatto, proprietário do Belatto Lanches. Segundo ele, o aumento começou há cerca de três semanas e atingiu principalmente os lanches feitos com filé mignon e hambúrguer caseiro.
“O filé migon que a gente trabalha aumentou 30%, e a carne do blend do hambúrguer aumentou 60%”, afirma. Como consequência, foi necessário aumentar o preço do lanche de filé. O paulistinha, por exemplo, passou de R$18 para R$21,50, e o sanduíche de filé de R$20 para R$24.
“No filé a gente sempre trabalhou com uma margem de lucro inferior, porque o custo dele é maior. Ele aumentou 30%, nós passamos 20% para o lanche, e os outros 10% a gente absorveu”, explica. No caso do hambúrguer, como a margem de lucro era maior, a empresa ainda conseguiu não repassar o aumento.
Segundo Vinícius a maioria dos clientes foi compreensiva, mas a venda de filé mignon caiu, e a maior parte dos clientes passou a escolher os hambúrgueres – que ainda estão no mesmo preço.
Para o empresário, esta é a primeira vez em 18 anos, que existe uma oscilação tão grande. “Um aumento tão brusco nunca teve. A gente sempre teve oscilações de 1, 2, 3 reais, mas o filé, para ter uma ideia, a gente trabalhava com R$32 o quilo, e aumentou para R$42 em duas semanas. E a tendência é aumentar, é algo que a gente tem escutado”, lamenta.
A maior preocupação de Vinicius, na realidade, é que falte carne. “O que mais preocupa a gente pé a falta da carne, porque os distribuidores estão tendo que garantir venda antecipada. Hoje compramos cerca de 300kg de filé por semana. O blend de hambúrguer nós compramos 150kg, e o fornecedor já falou que talvez não terá para segunda-feira. Então a maior preocupação é a falta. O preço ou a gente aumenta, ou vamos trabalhar mais, porque se subir muito, foge do público que a gente quer atender”, explica.
Foi pra China
No último dia 15 de novembro, em entrevista ao Agro Olhar, o diretor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Francisco Manzi, avaliou que o preço da carne para o consumidor mato-grossense poderia subir em decorrência da habilitação de mais plantas frigoríficas do Brasil para venda de carne para a China. Segundo ele, é uma questão de aumento da demanda em relação à oferta disponível, mas os preços deveriam se estabilizar futuramente, com o aumento da produção.
A ministra da Agricultura Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, anunciou que mais 13 plantas frigoríficas brasileiras estão habilitadas para a China. Duas destas são de Mato Grosso, uma de carne bovina e outra de carne de aves. No último mês de setembro, sete frigoríficos de Mato Grosso já haviam sido habilitados para exportar para a China. Somente em 2019, o estado, com um único frigorífico já exportou o equivalente a US$ 97,105 milhões em carne bovina.
Manzi ainda explicou que antes da habilitação das plantas, o mercado nacional estava com um consumo baixo em decorrência do alto número de desempregados no país. Porém, com as exportações o mercado deve se aquecer novamente.
Segundo o Canal Rural, na última terça-feira (26), arroba do boi bateu recorde em São Paulo, custando R$ 232/R$ 233. Em Mato Grosso, o aumento foi de R$ 193 a arroba para R$ 201 na arroba do boi gordo.