À sombra de cifras astronômicas e da uma contribuição de 49% com o Produto Interno Bruto (PIB), o agronegócio no Brasil caminha entre o desenvolvimento e o lastro ambiental deixado pela atividade. Na Amazônia, especialmente no caso da pecuária, os prejuizos da grilagem e do desmatamento são rodeados por uma série de outros crimes e desenham um cenário de devastação pelo consumidor final. Fora do alcance total do Estado, em uma área de proporção gigantesca, como seria possível então regular a atividade sem que causar mais danos a floresta? A resposta pode ser encontrada nas maiores marcas do mercado.
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Wallmart, Timberland, Nike e outros grandes nomes já mostraram como é possível inibir ações do tipo por meio de embargos e quebras de contrato com frigoríficos responsáveis pela venda de carne e couro de gado oriundo de áreas de desmatamento. É o que explicou o engenheiro florestal e pesquisador do Instituto de Pesquisas Imazon, Paulo Barreto, durante o evento Jornalistas em Diálogo, com o tema "Pecuária na Amazônia: por que boi e floresta ainda são notícia?" em Belém, Pará.
De acordo com Paulo, estas mudanças mercadológicas acontecem normalmente por dois motivos: ou o governo enrijesse o controle, ou quando há apelo da sociedade civil que foca nestes agentes. "A partir do momento em que o Governo questiona e parte do mercado também, pra não produzir em áreas desmatadas, há um movimento de mudança. Esse fechamento tem o poder de transformar rapidamente a conduta dos empresários, que respondem . Se o mercado não vai comprar de área desmatada, então é necessário melhorar a produção", explica.
Há contudo um enfraquecimento da pressão feita pelo poder público, que, por questões políticas, mudou o Código Florestal e reduziu àreas protegidas. Neste contexto, as questões ambientais ganham maior expressividade por meio da atuação de Organizações Não Governamentais (ONGs), como o Greenpeace. Com escritórios espalhados em mais de 55 países, a entidade investiga a origem dos produtos e mostra seu destino ao consumidor.
A efetividade destas medidas se mostra em curto e longo prazo, estimulando em uma posta a adequação e na outra a adoção de novas condutas. "Eles [ empresas] vêem que os produtos vendidos com maior crescimento ao longo do tempo são os que tem alguma ligação claro com o compromisso social ambiental. O mesmo com coisas ligadas a saúde. Isso acontece como uma mudança de geração e tende a ser um pouco mais lento. Precisamos de soluções mais efetivas, aí estas campanhas do poder público são essenciais", diz o pesquisador.
Para além das políticas de sustebilidade, exibidas como publicidade institucional, é importante mencionar ainda o papel do setor finaceiro, que financia todas essas instituições, como frigoríficos, fazendeiros e redes de supermercados. "No caso do BNDES, houve um investimento de R$ 8 bilhões no setor em 2010, quando prometeram exigir que os frigoríficos só comprassem gado que já tivesse rastreamento. em 2016, essas empresas já deveriam ter todo o gado comprado nesse modelo. Mas não cumpriram a promessa."
O encontro, realizado pelo Instituto de Pesquisas Imazon e a Associação O Eco de jornalismo ambiental reuiniu na quarta-feira (21) representantes do setor, Ministério Público Federal (MPF), União Nacional da Indústria e Empresas da Carne (UNIEC), e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).