Embora lancem novas perspectivas sobre o problema de escoamento da produção de milho em Mato Grosso, a inauguração recente de duas usinas de etanol no Estado ainda estão longe de resolver a questão. Atualmente, pelo menos 80% da produção vai para outras estados em um percurso que toma grande parte da lucratividade, por apresentar problemas de infraestrutura nas estradas e altos valores de fretes. Diante do cenário o ideal seria que a implantação deste tipo usina consumisse uma porcentagem de pelo menos 50% da safra.
Leia mais:
China aprova projeto piloto e município de MT pode receber R$ 90 milhões para infraestrutura
A avaliação é do pesquisador da Fundação Mato Grosso, Claudinei Kappes. Ele lembra que o cultivo de grão também significa estímulo para outras produções, como a suinocultura, que se destaca no médio-norte do Estado. Ainda assim, o consumo animal não seria capaz de, sozinho, sanar o gargalo. “A acredito que isso ainda vai demorar, mas os investimentos viáveis estão nas usinas, que oferecem um consumo muito alto. Ainda temos um longo caminho a trilhar”, explicou ao Agro Olhar.
Em 2017 das mais de 30 toneladas de milho colhidas em Mato Grosso apenas 15 % permaneceu no Estado. Porcentagem, que ainda reflete o baixo valor agregado à safra, pode crescer a partir de investimentos na produção de etanol, favorecendo outras cadeias e gerando pelo menos dois mil empregos indiretos para cada investimento no setor. Os dados foram divulgados recentemente pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, que pesquisou a viabilidade deste tipo de empreendimento, assim como os benefícios sociais e ambientais que o circundam.
O presidente da Fundação Mato Grosso, Claudinei Kappes.
O estudo aponta que, a partir da implantação, as indústrias têm capacidade para gerar, para cada emprego direto, outros 14 diretos e 10 induzidos. No total, cada empreendimento pode criar 2175 empregos em sua região, número suficiente para mudar a realidade econômica das populações locais. Além disso, a coordenação entre as diveras cadeias produtivas tem potencial para mitigar a emissão de gases do Efeito Estufa em quase 70%.
Durante o XIV Seminário Nacional de Milho Safrinha, realizado em Cuiabá na última semana, presidido por ele, o pesquisador reforçou as dificuldades impostas pela logística estadual. “Tomando Sorriso como exemplo, como o produtor vai mandar uma carga de milho de lá para Paranaguá? Vai chegar lá valendo quase nada, porque o frete comeu tudo. Para o Norte, é quase a mesma coisa, então logisticamente estamos em uma condição que não ajuda. Para produzir, é perfeito, mas para escoar, é complicado. As rodovias estão precárias, o preço do óleo diesel só aumenta.”
Somente em Mato Grosso, onde mais se cultiva e produz essa modalidade no País, são 4,7 milhões de hectares de área cultivada, um incremento de 9,7% em relação à safra 2015/16, segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Hoje, o Mato Grosso concentra quase metade da área plantada com soja semeada com o milho safrinha. Sorriso é o município com a maior área cultivada de milho safrinha, algo em torno dos 440 mil hectares. E o Médio Norte de Mato Grosso, uma das regiões agrícolas mais importantes do Brasil, é responsável por 43% da área e da oferta estadual da produção desse cereal.
Milho Safrinha
Francisco Soares Neto, diretor presidente da Fundação MT, também destacou a importância do milho safrinha para o sistema de produção e o que foi primordial para o cenário positivo que temos hoje. "Foram muitas mudanças para que isso acontecesse, o melhoramento genético da soja é uma delas, traz a cada ano variedades mais precoces, com tetos produtivos muito bons, o que faz com que o produtor consiga plantar mais cedo milho de alta produtividade e colher bem".
Ele enfatizou o melhoramento genético do próprio milho, que tem evoluído com híbridos precoces e de boa adaptação para o cerrado brasileiro nas condições de pouca água. "A biotecnologia está sendo agregada ao milho a cada ano, claro que essa não é a única solução que faz crescer o valor desse cereal, mas sabemos que ajuda muito no aumento da produtividade e no desenvolvimento da cultura", disse.
A próxima edição do Seminário Nacional de Milho Safrinha já tem local definido, será em Jataí, no estado de Goiás. Sobre esta edição, Décio Karam resumiu que as palestras foram de excelente qualidade, com pessoas preparadas e público participante na discussão. "Isso tudo eleva a realização do evento". A ABMS também realiza o Congresso Nacional de Milho e Sorgo, o próximo será no ano que vem, da 10 a 14 de setembro, em Lavras (MG).