Considerado um dos mais ouvidos no Congresso Nacional entre os parlamentares que tratam de desenvolvimento econômico, o senador mato-grossense Blairo Maggi (PR) defendeu maior agressividade na política energética do Brasil, durante sessão na Comissão de Infraestrutura no Senado. Ele entende que o país possui o privilégio de dispor de condições hídricas favoráveis, com centenas de cursos d’água, como os existentes em Mato Grosso e Pará, passíveis para a construção de usinas hidrelétricas.
A Comissão de Infraestrutura avaliou o resultado de pesquisa feita pelo Data Senado, em parceria com a Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, sobre as opiniões dos brasileiros acerca de políticas energéticas adotadas no Brasil.
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Os números apontam que a população anseia por mudanças no setor, já que 97% declarou preocupação com as questões climáticas e 96% com a poluição do ar. Para Thiago Cortez Costa, assessor da Secretaria de Transparência do Senado Federal - responsável pela apresentação da pesquisa-, em outros países até as discussões sobre o tema são negadas.
Em recente entrevista para o Olhar Direto, Maggi já havia se manifestado sobre o assunto. “Eles negam o debate para evitar terem que mudar o padrão de desenvolvimento em seus países. Diferente do Brasil que a própria população quer essas transformações e esses projetos que gerem energia limpa”, argumentou o senador do PR de Mato Grosso.
Para 85% dos entrevistados, na pesquisa, é essencial que o País invista mais em energia eólica e solar, e, ainda, que as concessionárias de energia devam usar parte dos seus lucros para financiamento de projetos de avanço tecnológico nesses tipos de energia. Outros 76% defendem que parte dos impostos arrecadados pelo Governo Federal também sejam aplicados em políticas de incentivo à energia limpa.
Para Blairo Maggi, a questão vai além. Segundo cita, é preciso que a população entenda a viabilidade de cada iniciativa, já que o brasileiro ainda paga um alto preço pelo modelo adotado quando o assunto é meio ambiente.
“Nós, cidadãos brasileiros, pagamos caro pela política que foi estabelecida em nome da questão ambiental. Tudo em detrimento da produtividade e do ganho de escala desses projetos. Ocorre que o Brasil está em larga desvantagem em relação a outros países, quando têm matrizes energéticas ou produção de energia mais barata”, declarou Maggi.
Blairo lembra que é preciso repensar a forma como as informações norteiam as opiniões. A imprensa, segundo cita, tem papel decisivo nesse contexto.
“A imprensa, quando bombardeia, por exemplo, as construções de hidrelétricas, influencia diretamente na opinião da população. Porém, o mundo inteiro usa água de chuva, e reserva para depois usar, quando não tem mais”, pontuou ele.
“No Brasil, infelizmente, ainda não tivemos esse entendimento. Aqui quando a ‘reservação’ é permitida, o empresário tem que ter muita persistência para vencer as sucessivas liminares e conseguir gerar energia”, desabafou Maggi, que foi governador de Mato Grosso de 2003 até 2010.
Maggi encerrou sua participação no debate lembrando o caos vivido pelo setor nos últimos meses, como na cidade de São Paulo. “Penso que precisamos de áreas maiores para termos lagos que comportem a demanda em época de escassez de chuvas, por exemplo. Não tivemos um racionamento geral há alguns meses por que as termoelétricas foram acionadas, mas, por isso, o custo da energia no Brasil triplicou”, explicou.
A pesquisa
O Data Senado ouviu 1166 pessoas, em diversos estados brasileiros, por questionário feito via telefone, com os registros da Anatel. Ficou constatada a tendência do brasileiro em pagar mais pela energia que consome quando o custo maior estiver ligado à geração de energia limpa, à eficiência energética e da própria rede elétrica.
Obras concessionadas
Blairo Maggi enalteceu o interesse do governo Dilma em fazer frente aos grandes centros econômicos do mundo, buscando implementar no Brasil políticas de desenvolvimento por meio das concessões em infraestrutura.
Blairo Maggi refere-se à viagem do ministro Joaquim Levy, da Fazenda, aos Estados Unidos, segundo o parlamentar 'colocando o Brasil no caminho daqueles que podem mudar o olhar sobre a economia', justamente no centro das discussões, que é Nova York.
“Acompanhando as notícias dessa viagem, mantenho a esperança - já que o ministro sinaliza a data de maio próximo - para apresentar a todos um programa de concessões no Brasil. Não consigo ver nenhum horizonte em que o Executivo, com nossos parcos recursos, possa fazer frente à grande demanda de infraestrutura que temos no país. Graças a Deus, o pensamento do Executivo tem mudado, e a meu ver, o importante (na concessão ou privatização) é que cidadãos, industriários, empresários, todos em geral tenham à disposição a infraestrutura que o país precisa para gerar riqueza, alavancar os empregos dando dinamismo à economia nacional”, declarou Maggi.
Divergência de público x privado
Maggi relatou que no último final de semana teve a oportunidade de visitar, numa única rodovia, duas obras que estão sendo tocadas: uma por parte do DNIT, outra por parte de um trecho já concessionado, ambas na BR 163, em Mato Grosso.
“Reitero que é gritante a diferença, mudanças que acontecem do dia para noite. A parte que compete ao Executivo, via DNIT, conta com três empreiteiras no trecho de Rondonópolis à Cuiabá, compreendendo 212 quilômetros de extensão e vem se arrastando, sendo tocada com enorme dificuldade já que o Governo não consegue pagá-las nem pelos serviços que já foram prestados ainda no ano passado”, assegurou o senador do PR.
Blairo Maggi entende que o outro trecho, de Rondonópolis à divisa com Mato Grosso do Sul, parte concessionada, deve ter em torno de 1 mil máquinas trabalhando, 2 mil homens trabalhando. “A meta da Odebrecht é de até final do ano finalizar a duplicação de 110 quilômetros. Enquanto isso, o trecho que é de responsabilidade do Governo, em dois anos de obras, não ultrapassou os 30 quilômetros de execução”, comparou.
Maggi lembra que as obras nesta rodovia, a BR 163, são de extrema importância já que ‘por lá passam 15 mil carretas por dia, onde morrem dezenas de pessoas por semana, mas que simplesmente não funciona’, defendeu.