O agronegócio aproveita seu papel de importante componente da economia nacional para ampliar sua atuação política em todo país. A força do setor é notada ao se avaliar a representação que os agropecuaristas possuem nas diversas esferas estadual e federal do Legislativo. Além disso, os dados das eleições municipais deste ano indicam que quase um quinto dos candidatos a prefeito e vereador no Paraná e Brasil se autodenomina agricultor. Acrescentando a essa conta os candidatos que não têm essa denominação mas defendem os interesses do campo, o número de parlamentares se eleva ainda mais.
Os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cravam: dos 435 mil candidatos a cargos de prefeito ou vereador no país, quase 35 mil têm a agricultura como principal atividade. Só no Paraná, são 2,8 mil candidatos agricultores e 613 foram eleitos ou disputaram o segundo turno.
Um dos líderes da agricultura familiar no estado, o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná (Fetaep), Ademir Mueller, enxerga evolução na representação política do setor. “Não tivemos nada no passado, mas agora isso vem evoluindo, estamos aumentando nossa participação política no processo”, avalia. Ele ressalta que, nas cidades menores, é grande a atuação de agricultores nas câmaras de vereadores.
Parte dessa evolução é atribuída ao incentivo dado pelas instituições que representam a categoria ao engajamento político da classe. Essa é a avaliação Carlos Augusto Albuquerque, assessor e porta-voz da diretoria da Federação da Agricultura do Paraná (Faep). “O agricultor ainda é um pouco tímido nesse processo. Por isso, fizemos um programa de desenvolvimento voltado aos líderes sindicais, o que tem ajudado a aumentar essa participação”, observa.
Nas esferas estadual e federal, o grupo que defende os interesses do agronegócio é mais expressivo. Números do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) indicam que a bancada ruralista na Câmara dos Deputados conta com 140 membros – ou 27% do total de 513 parlamentares. São ainda 18 representantes no Senado Federal (22% de 81 senadores).
O cientista político Fábio Lopes explica que a amplitude não é apenas numérica. “Embora a bancada tenha aumentado em relação à última legislatura, se destaca também a intensa participação desse grupo”, observa. Ele explica que a importância da atividade agropecuária no país colabora para o fortalecimento dessas bancadas.
Apesar da ampla participação, Lopes lembra que o agronegócio é um segmento diverso e isso também influi nas discussões políticas. “A bancada ruralista não é tão coesa quanto parece. Dentro dela diversos setores produtivos estão representados e, por isso mesmo, também ocorrem divergências internas”, pontua. O cientista lembra que como a maioria do grupo integra a base aliada, “há mais poder de veto do que de propostas”.
No Paraná, o envolvimento com o campo é ainda mais expressivo. Na Assembleia Legislativa existem dois blocos parlamentares para a causa, o de agronegócio e o da agricultura familiar, que congregam 37 membros. Há ainda uma comissão permanente voltada à agricultura. Albuquerque sustenta que essa participação sustenta o atendimento das demandas do setor. “Na Assembleia Legislativa, a maioria dos integrantes é proprietário rural, tem sensibilidade com a causa. Hoje há uma consciência sobre a importância da agricultura no Paraná.”
Quando depende apenas de apoio político, o agronegócio tem alcançado seus objetivos em âmbito estadual e federal. Entre os casos mais recentes estão o da criação da Agência de Defesa Agropecuária (Adapar) com isenção de taxas para a agricultura familiar e a própria reforma no Código Florestal, em que o Congresso tem conseguido arrematar textos do Executivo.