A produção de mel no Nordeste, região responsável tradicionalmente por 40% da exportações brasileiras do produto ao ano, está apostando nas previsões de chuva acima da média no fim do ano para iniciar a recuperação da atividade, após a seca dos últimos dois anos que se abateu sobre a região levar à redução de 75% da produção local no ano passado. Segundo o presidente da Federação Baiana de Apicultura e Meliponicultura (Febamel), Pedro Constam, a safra nordestina de 2013/2014 terá, "sendo otimista", um saldo de 5 mil toneladas. Na safra 2010/2011, a produção regional foi de 20 mil toneladas.
De acordo com a previsão da Somar Meteorologia, o semiárido deverá receber entre 600 milímetros e 800 milímetros de chuvas regulares por até seis meses a partir da segunda quinzena de outubro. Apesar de a previsão estar acima da média histórica, seria necessário chover acima de mil milímetros durante cinco meses para garantir abastecimento dos reservatórios durante a seca de inverno, explicou o meteorologista Marco Antônio dos Santos.
Para o Nordeste recuperar o nível de produção de mel da safra 2010/2011, seriam necessários três anos de chuvas constantes, calcula Constam. Já a Confederação Brasileira de Apicultura (CBA) estima um prazo de quatro anos.
Para o curto prazo, Constam acredita que os apicultores que resistiram à crise do setor terão dificuldades de capturar enxames e poderão ter que dividir as colmeias que restaram.
Esta será a estratégia de Constam, que produziu em sua propriedade em Palmeiras (BA) 1 tonelada de mel a partir de 40 colmeias no ano passado, contra uma média histórica de 3 toneladas por ano a partir de 100 colmeias. Para voltar ao ritmo anterior ele pretende aproveitar a floração, que na Chapada Diamantina começa em setembro, para dividir cada uma de suas colmeias até montar 120 colmeias. No semiárido, a florada começa apenas em dezembro.
Nos últimos dois anos, a União Nordestina de Apicultura e Meliponicultura (Unamel) estima que o número de colmeias da região tenha caído de 1,5 milhão para menos 500 mil por causa da seca. Mas o presidente da CBA, José Gumercindo da Cunha, acredita que a perda tenha chegado a 1,2 milhão de colmeias. "As Abelhas acabaram migrando ou morrendo de fome e sede", explica.
Com isso, Constam diz que "muita gente abandonou a atividade e migrou para a cidade. Outros estão se salvando com programas sociais, mas tem gente que não consegue acessá-los. Sobraram os apaixonados pela atividade". Dos 350 mil apicultores brasileiros, metade é da Agricultura familiar.
Exportações em queda
A redução da produção nordestina de mel e, consequentemente, da produção nacional, já pode estar afetando os volumes embarcados do produto. Segundo a CBA, metade da produção nacional é direcionada para o mercado externo, mas estes embarques têm caído desde 2011. Naquele ano, o País exportou 22,4 mil toneladas de mel por US$ 70,8 milhões, número que caiu para 16,7 mil toneladas por US$ 52,3 milhões no ano passado. Para este ano, se as exportações seguirem o ritmo registrado até julho, poderemos assistir a mais uma redução as exportações. Até julho, o Brasil exportou 10,7 mil toneladas do produto, redução de volume de 6,9% com relação ao mesmo período de 2012.
O analista da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel) Gustavo Cuba disse que o setor "vem considerando a morte das Abelhas" causadas pela seca, mas evitou falar em uma relação direta com a retração das exportações.
Mortandade de Abelhas
A morte de Abelhas no Nordeste aumentou a procura no início do ano por mel produzido em outras regiões, como Rio Grande do Sul, que lidera a produção nacional. Porém, a Apicultura do Centro-Sul já sofre com alguns focos de extinção de enxames, problema atualmente visto nos Estados Unidos e na Europa, onde o uso intensivo de agrotóxicos tem levado a perdas entre 40% e 80% no número de colmeias.
Segundo o professor Aroni Sattler, da Faculdade de Agronomia da UFRGS, 15% é o nível de perda considerado normal, fruto "do mau manejo na preparação das colmeias para passar o inverno".