Levar a produção até os portos é uma tarefa cada dia mais cara no Brasil, devido à precariedade de infraestrutura. Frete, pedágio, secagem e armazenagem, e os custos portuários chegam a tirar R$ 9,53 do preço pago por saca ao produtor parananense e R$ 20,76 ao de Mato Grosso. Os cálculos foram feitos com base em dois exemplos de origem e destino da soja: de Cascavel a Paranaguá e de Sorriso (MT) a Santos.
Segundo a Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), o frete rodoviário entre Cascavel e o Porto chegou a R$ 90 a tonelada no início da semana, um aumento de 28% na comparação com o valor cobrado no mesmo período do ano passado. Já o de Sorriso ao porto paulista, de acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), estava a R$ 300 a tonelada, o que representa um aumento de 46% perante março de 2012.
O frete é a maior entre as quatro despesas, todas descontadas do valor pago ao produtor. Ele representa hoje R$ 5,40 por saca para o produtor da região de Cascavel e R$ 18 para o de Sorriso. Já o pedágio representa R$ 0,83 e R$ 0,54 por saca, respectivamente. Secagem e armazenagem, entre outros custos chamados de originação, tiram R$ 1,50 do produtor paranaense e R$ 1,32 do mato-grossense. Por último, o porto abocanha R$ 1,80 e R$ 0,90 por saca, respectivamente.
Segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Paraná (Sectepar), Gilberto Cantú, parte do aumento do frete se justifica pela implantação, no ano passado, da Lei 12.619, que obriga os caminhoneiros a descansarem meia hora a cada quatro horas ao volante e 11 horas ininterruptas entre dois dias de trabalho.
Segundo Cantú, a tendência é de que o frete suba "bem mais" durante o transcorrer da safra. "É a lei de mercado. Vai aumentar a demanda, como em todos os anos. Vão faltar caminhões, vão se repetir os gargalos de infraestrutura como em toda safra."
Edeon Vaz, coordenador do Movimento Pró-Logística da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja-MT), ressalta que a soja brasileira perde em competitividade na comparação com a dos Estados Unidos e a da Argentina principalmente em função do transporte. "Enquanto os norte-americanos pagam US$ 33 dólares por tonelada para levar a soja por hidrovia e trem, em trechos de 3 mil quilômetros, nós pagamos US$ 165 para percorrer 2 mil quilômetros", exemplifica. Segundo ele, os argentinos gastam em média US$ 60 a menos que os brasileiros nesta conta.
De acordo com Vaz, o fato de o trem vir aumentando sua participação no escoamento da safra brasileira não refresca nada para o produtor. "Por ser monopolista, o modal ferroviário brasileiro não apresenta frete mais barato. Em todos os países que visitamos, o frete ferroviário representa 70% do valor do rodoviário. Aqui, vai de 95% a 110%", critica.
Ele reclama que o cálculo do frete do trem é uma "caixa preta". "Não sabemos qual é seu verdadeiro valor. A trading faz um contrato com a ferrovia e eu não sei quanto ela pagou. Sei apenas quanto descontou do produtor", declara.