Depois de alcançar em março de 2011 máximas históricas de preços - acima de US$ 2 por libra-peso na bolsa de Nova York -, o algodão, atualmente negociado na casa dos 70 centavos de dólar, pode mergulhar para ainda mais perto de sua média histórica, que gira em torno de 50 a 55 centavos.
O rumo das cotações está nas mãos dos chineses, maiores consumidores globais da pluma e detentores de um estoque estimado em 10 milhões de toneladas, mais de seis vezes maior que a safra brasileira. O mercado aguarda com apreensão a direção da política chinesa para a commodity. Mas a venda de parte das reservas já foi anunciada.
Não foram informados volumes e cronograma de liberação de estoques pela Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, que comunicou a decisão em seu site no dia 28 de dezembro. Chris McGowan, trader da corretora Newedge, trabalha com a perspectiva de início da operação de venda nos primeiros dias de março.
O movimento deverá acontecer por uma necessidade de rolagem de estoques - ou seja, troca de parte do algodão velho por produto novo. Dependendo do volume que for vendido (informação ainda desconhecida do mercado), as cotações da pluma poderão sofrer forte revés, com a possibilidade de recuo para o patamar de 60 a 65 centavos de dólar por libra-peso.
Com 10 milhões de toneladas em seus estoques estatais, segundo estimativa do Comitê Consultivo Internacional do Algodão (ICAC, na sigla em inglês), a China não deverá liberar grandes volumes, na avaliação de John Flanagan, presidente da Flanagan Trading. "O país deve vender uma pequena quantidade de seus estoques, pelo menos até terminar o plantio da safra, no fim da primavera", afirmou ele à agência Dow Jones Newswires.
Ainda segundo especialistas ouvidos pela Dow Jones Newswires, também há rumores de que as vendas de estoques estão vinculadas a autorizações para que as indústrias compradoras também importem volumes equivalentes livre de taxas. Nesse ano, a safra de algodão da China foi pobre em qualidade, por isso, as fábricas podem querer importar a fibra para misturar com os estoques domésticos, segundo informaram industriais chineses.
A relação global entre estoques e consumo atingiu o nível mais alto desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Por enquanto, os preços vêm se mantendo com médias mensais acima de 70 centavos de dólar por libra-peso em Nova York. No ano passado, junho foi o único mês em que a média ficou abaixo desse nível - a segunda posição bateu em 69,45 centavos, segundo o Valor Data. A média de dezembro foi de 75,59 centavos de dólar por libra-peso e, ontem, o contrato para março fechou a 75,05 centavos, queda de 0,45%.
Apesar de temerem mudanças na política chinesa, especialistas não acreditam que elas possam, de fato, acontecer no curto prazo. McGowan, da Newedge, lembra que existe um lado social nessa política, ligado ao pagamento de preços mínimos aos produtores rurais chineses, que dificilmente vai mudar no curto prazo.
Além disso, comprar algodão a preços mais baixos vem sendo bom negócio para o país asiático, na avaliação do presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o produtor Gilson Pinesso. "A China está comprando a fibra por 75 a 80 centavos de dólar por libra-peso e vendendo por US$ 1,25, que é o preço mínimo local. É melhor negócio do que investir em títulos do governo americano", disse o presidente da Abrapa, que prevê queda de 30% no plantio da pluma no Brasil.
Apesar disso, espera-se que a China reduza significativamente suas importações da pluma. A Newedge prevê compras no ano safra 2012/13, que se encerrará em julho de 2013, da ordem de 2,6 milhões de toneladas, bem abaixo das 5,9 milhões de toneladas da temporada anterior.
Até o momento, as importações firmes da China vêm ajudando a reduzir o nível de volatilidade dos preços da commodity. Nos cinco meses da atual safra global de algodão, a 2012/13, o Índice A Cotlook, considerado a melhor referência de preços médios de algodão no mundo, teve pouca oscilação. A variação entre o maior e o menor valor foi de 9% da média de 83 centavos de dólar por libra-peso, quando em muitas safras, essa variação é de 34% da média.