Dados divulgados hoje (14/12), na coletiva de balanço do ano da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), confirmam a agropecuária como o único setor da economia do Estado a registrar desempenho positivo em 2015. O PIB da atividade deverá crescer 9,4%, reflexo da maior safra histórica colhida no Estado, de 32,5 milhões de toneladas de grãos, aumento de 13%, apesar das fortes perdas ocorridas em alguns municípios do Sul do Estado. Este resultado é fruto dos fortes investimentos em tecnologia realizados pelo setor nos últimos anos. O faturamento aumentou 8%, chegando a R$ 37,8 bilhões.
O resultado equalizou uma queda mais expressiva do PIB gaúcho em 2015, projetada em - 2,75%. O crescimento da atividade agropecuária no Brasil deverá ser de 2,9%. Já para o PIB geral é prevista uma queda de 3,49%. A agropecuária também será o único setor no Brasil que fechará em alta em 2015. A indústria obteve queda acentuada de 6,5%, atenuada pelas agroindústrias, que tiveram melhor desempenho do que a média. “O produtor fez a sua parte. Os investimentos em tecnologia permitiram nos posicionarmos bem em um ano de crise”, afirmou o presidente do Sistema Farsul, Carlos Sperotto.
No entanto, fatores climáticos indicam que o setor agropecuário não conseguirá contribuir de forma positiva com o resultado do PIB do RS em 2016 e, assim como outros setores da economia, registrará queda. Projeções da Farsul estimam para a safra de grãos 2015/2016 produção no Estado de 30,6 milhões de toneladas de grãos, redução de 6% em relação a de 2014/2015, o que representa diminuição de quase 1,9 milhão de toneladas. O tamanho real da queda dependerá dos impactos do El Niño na produção e da taxa de câmbio nos preços. A agropecuária representa 10% do PIB geral do RS. Já o agronegócio, englobando as agroindústrias, responde por cerca de 40%.
A maior queda da safra 2015/2016 será na safra do arroz. Por consequência das fortes chuvas que atingiram o Estado na época do plantio, a área dedicada ao grão diminuirá 8%. A produtividade, que também será afetada pelos impactos climáticos, cairá. O resultado será uma colheita prevista em 7,4 milhões de toneladas, 1,3 milhão de toneladas a menos em relação à safra anterior.
Para a soja, a previsão é de aumento de 5% na área plantada, avanço que assegurará o crescimento geral da área plantada no Estado em 1%, total de 8,5 milhões de hectares. Já a produtividade da oleaginosa, assim como dos demais grãos, também deverá cair por conta do El Niño. Somente o milho tem previsão de queda de produção de 16%. A da soja é menor, de 2%.
Se os atuais níveis de preço se mantiverem, a estimativa é de elevação do faturamento da safra 2015/2016 de 13% para a agricultura e de 4% para a pecuária. No entanto, esse incremento não será suficiente para compensar o aumento dos custos de produção de 25%. Por consequência, a queda nas margens prevista ao produtor é de 40%, resultado que pode se modificar caso o comportamento do câmbio oscile muito para cima ou para baixo dependendo da instabilidade política do Brasil. Projeções apontam para redução de preços internacionais motivada por altos índices de produção.
A safra que está por vir também traz os reflexos da retração da tomada de crédito rural especialmente por conta da inexistência do pré-custeio. No exercício anterior, houve redução de 4% nos recursos tomados, somando R$ 19,7 bilhões. Enquanto o custeio geral aumentou em 5%, os investimentos caíram 26%, e a comercialização, 2%. Os dados indicam maior dificuldade para tomada de crédito neste ano de crise não somente para a agropecuária, mas para todos os setores da economia, tendência que deve se manter em 2016.
Para 2016, a expectativa para o País se mantém negativa. O PIB do RS deverá cair 2,8%, e o do Brasil, 2,6%. O setor de serviços deverá encolher em 2,67%, reflexo da queda da atividade econômica e do consumo das famílias, que estão sofrendo com uma inflação acima de 10%, fato que não ocorria desde 2002, impactando, ainda, na confiança no País. O mesmo sentimento é compartilhado pelos empresários, que não sentem segurança para investir. “É importante observar que a crise de 2015 não começou em 2015. A economia está em trajetória decrescente desde 2011 e em 2014 já fechou próxima de zero”, afirma o economista-chefe da Farsul, Antonio da Luz.
Seguro Rural
Sperotto destacou as iniciativas de 2015 da Federação em busca do estabelecimento de um novo seguro rural. A principal vitória foi a aprovação da emenda proposta pela Farsul apresentada pela senadora Ana Amélia Lemos e acatada no relatório preliminar da Comissão Mista que trata da Lei Orçamentária de 2016. A proposta é direcionar alguns recursos para determinados setores da agricultura que não são utilizados. A iniciativa poderá significar R$ 1 bilhão para o pagamento da parte do governo na contratação do benefício já a partir de 2016. “Estamos seguros que essa posição irá evoluir”, afirmou Sperotto.
Uma outra questão levantada pelo presidente ligada à necessidade de um seguro de venda para o setor é o aumento expressivo do pedido de recuperação judicial de empresas e cooperativas ligadas ao agronegócio. “Precisamos estabelecer regras dentro desse novo contexto para não sermos sujeitos a ficar desfavorecidos”, disse.
CAR
O RS acelerou expressivamente o processo de cadastramento ambiental a partir de setembro. Cerca de 65 mil imóveis já estão cadastrados e a estimativa é chegar a 441 mil propriedades, até maio, mês limite para o cadastramento, atingindo 100%. Conforme Gilmar Tietböhl, superintendente do Senar-RS, a entidade realizou cursos e oficinas sobre o CAR para 17.473 pessoas este ano. O aumento dos cadastros ocorreu no segundo semestre do ano, quando já estava em vigência decreto estadual 52.431/2015 que regulamentou o CAR no RS. Sperotto manifestou preocupação com ação ingressada no MP contestando algumas partes do decreto. “ Temos o receio de que esse movimento possa interferir no andamento dos cadastros”, disse.
Pecuária
A Pecuária gaúcha vive um bom momento. “O mercado descobriu nosso potencial de criar as raças britânicas e está valorizando o nosso produto”, afirmou o vice-presidente da Farsul, Gedeão Pereira. “Esse movimento é percebido nos convênios e contratos que as associações de raça estão fechando com frigoríficos e pela busca do mercado gourmet do Sudeste do País por carne industrializada e gado em pé”, disse. O resultado das vendas de bovinos em feiras e exposições no Estado, que registraram alta de 6% em volume e 14,7% em faturamento, também refletem essa valorização, afirmou presidente da Comissão de Exposições e Feiras da Farsul, Francisco Schardong,
Senar
Os números apresentados pelo Senar no balanço mostram um crescimento em todas as suas atividades. Os eventos de formação profissional aumentaram 17,5%. Foram 8671 eventos em todo o Estado, informou Tietböhl. Já o número de participantes dos eventos e cursos elevou-se ainda mais, em 28,57%, totalizando 146,8 mil pessoas, destas 95.966 com formação profissional rural e 50.854 promoção social.
As iniciativas ligadas ao CAR foram as mais procuradas. Foram realizados 501 cursos de cadastro ambiental rural com a participação de 5601 pessoas, 226 oficinas, com 6548 participantes, 12 oficinas sobre código ambiental, com 581 presentes, a 97 seminários de legislação ambiental com 4743 pessoas.