Faltando um mês para a abertura oficial da nova temporada 2015/16, as exportações da soja produzida na safra passada finalmente começam a deslanchar. Após um início do ano lento, os embarques brasileiros da oleaginosa aceleraram em maio e atingiram volume histórico de 9,3 milhões de toneladas, apagando o recorde anterior, de 8,25 milhões de toneladas, registrado em abril do ano passado, mostram dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) divulgados ontem.
A marca inédita traz alento para um setor que até o mês passado, em meio a uma colheita recorde, tinha suas vendas externas reduzidas em um quarto na comparação com o ano anterior. O desempenho de maio eleva o resultado parcial de 2015 para 22,4 milhões de toneladas e diminui para 10% a diferença negativa ante com os cinco primeiros meses de 2014, mas não reduz as preocupações com o “timing” do mercado. O temor é que haja um estrangulamento nos embarques de grãos no segundo semestre.
“Os produtores sentaram em cima da soja porque estavam capitalizados, preferiram manter sua poupança na forma de soja. Mas essa é uma decisão que pode custar muito caro se não ocorrer nenhum desastre climático com a safra norte-americana”, alerta Eugênio Stefanelo, técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no Paraná.
Deprimidos pelo excesso de oferta no mercado internacional, os preços travaram a comercialização do grão e os embarques nacionais, já retardados pelo atraso na colheita de verão, foram postergados ainda mais por uma combinação de fatores que reduziu o fluxo de carregamento de cargas nos portos. Greves de caminhoneiros, excesso de chuva e um incêndio que restringiu as operações no Porto de Santos durante dez dias empurram o pico do escoamento para maio, um mês mais tarde que o normal, e sinalizam um prolongamento da janela de exportação da soja para o terceiro trimestre.
Projeção elaborada pelo Agronegócio Gazeta do Povo a partir de informações de empresas exportadoras e dados do line up dos principais portos graneleiros do país indica que o país deve continuar movimentando volumes significativos de soja ao menos até agosto, mês em que a oleaginosa já deveria estar cedendo espaço ao milho nas esteiras de carregamento. As tradings costumam abrir a janela de embarques do cereal entre junho e julho, mas neste ano o início das programações está avançando para o segundo semestre.
“O atraso nas exportações de soja vai refletir no milho”, prevê Stefanelo. Ele avalia que, para enxugar o excesso de oferta, regular o mercado e aliviar a pressão sobre os preços do cereal, o Brasil precisaria exportar ao menos 25 milhões de toneladas em 2015. Mas essa é uma meta que dificilmente será alcançada. Dados da Secex mostram que, entre janeiro e maio, os embarques do grão somaram 5,2 milhões de toneladas. Ou seja, para cumprir a meta, o Brasil teria que enviar ao exterior, em apenas seis meses, quase 20 milhões de toneladas – praticamente o mesmo volume registrado em todo o ano passado –, numa média de cerca de 3,3 milhões de toneladas mensais até o final do ano.
Uma estimativa mais condizente com a realidade do mercado seria algo próximo com o volume realizado no ano passado, afirma Victor Carvalho, gerente técnico da Informa Economics FNP. Ele observa que, apesar de terem sido reduzidas a praticamente zero nos últimos dois meses, as exportações acumuladas até maio estão no mesmo patamar de um ano atrás. “Os Estados Unidos devem ter sua safra reduzida em cerca de 20 milhões de toneladas e isso pode ajuda o Brasil a exportar mais milho no segundo semestre”, lembra Stefanelo.
Na soja, as estimativas do mercado apontam para um incremento pequeno, de perto de 1 milhão de toneladas, nos embarques em 2014. “Para fechar o ano com crescimento de 4%, o que seria equivalente a 2 milhões de toneladas, teríamos que exportar 20% a mais todos os meses a partir de agora”, compara Carvalho. Ele ressalta, contudo, que mesmo que os embarques cresçam em volume, o Brasil dificilmente irá superar neste ano o faturamento obtido com as vendas externas de soja e milho em 2014, já que os preços praticados atualmente no mercado internacional estão em média 25% menores que os do ano passado.
46,99 milhões
de toneladas de soja devem ser exportadas pelo Brasil na forma de grão em 2015, segundo projeção do Agronegócio Gazeta do Povo. Crescimento dos embarques deve desacelerar para 2,8%, índice inferior ao dos últimos dois anos. Maior salto foi registrado em 2013, quando vendas externas brasileiras chegaram a aumentar quase 10 milhões de toneladas de um ano para o outro.
21,48 milhões
de toneladas de milho devem passar pelos portos brasileiros até dezembro, segundo projeção do Agronegócio Gazeta do Povo. Mesmo com crescimento de 4% frente o ano anterior, volume ainda ficaria bastante distante do recorde de 26,6 milhões alcançado em 2012, quando uma quebra de produção nos Estados Unidos redirecionou compradores para o Brasil.
9,3 milhões
de toneladas de soja em grão foram exportadas pelo Brasil em maio. Marca histórica renova recorde anterior, de 8,25 milhões de toneladas em abril de 2014, mas ainda fica aquém do volume mensal registrado nos Estados Unidos, que em um único mês chegou a movimentar até 10 milhões de toneladas da oleaginosa e mais de 2 milhões de toneladas de milho.