Por trás dessa revolução, além das máquinas, estão profissionais especializados que compõem uma cadeia que se torna cada vez mais complexa e sofisticada.
Segundo Jeffrey Abrahams, da Abrahams Executive Search, empresa de recrutamento especializada no agronegócio, esse contexto fez com que a fisionomia do mercado mudasse muito rapidamente. "Houve uma sofisticação da cadeia de valor desde a porteira até o consumidor. Há oportunidades de negócio que exigem conhecimento de tecnologia e do mercado, que é muito segmentado", afirma.
Esse cenário ocasionou o surgimento de novas funções, a maior valorização de outras e ainda a divisão de posições que estavam incorporadas em um único profissional - e que hoje exigem atuação mais especializada. Segundo estudo da Abrahams, algumas posições se destacam, como os gestores de "farming", responsáveis por propriedades rurais, os gestores de risco agrícola, e profissionais de gestão de acesso ao mercado, com função de mitigar perdas cambiais ou de preço de commodities por meio de ferramentas financeiras.
Para o headhunter, o desafio é grande para encontrar profissionais que combinem não só a formação técnica em agronomia ou engenharia agronômica, mas também conhecimento em áreas como finanças, seguros ou avaliação patrimonial. Hoje, não basta saber apenas da produção, é preciso também estar atualizado em relação a diversos fatores como cotações de commodities de bolsas internacionais, o que faz do idioma inglês outro pré-requisito.
Além disso, Abrahams ressalta que o perfil comportamental de um profissional do agronegócio também deve ser diferenciado. "É uma área que exige ampla flexibilidade. É importante saber lidar com pessoas diferentes, desde o peão até clientes internacionais", completa. Segundo o estudo, a disputa por talentos inflacionou o mercado ao ponto de os salários chegarem à casa dos R$ 30 mil mensais.
A gestão de risco agrícola é uma área que inclui desde ferramentas básicas, como o seguro, até técnicas mais sofisticadas, como o monitoramento por satélite. O engenheiro agrônomo Rodrigo Rocha acompanhou essa evolução. Por quase uma década, ele atuou na resseguradora suíça Swiss Re, onde aceitou o desafio de comercializar seguro agrícola quando a ferramenta ainda estava despontando como opção no Brasil.
Em abril deste ano, o executivo recebeu uma proposta da Geosys, empresa francesa de monitoramento por satélite que chegou ao Brasil em 2012, para ser business manager da companhia na América Latina. "É uma técnica que ainda não está muito consolidada. O cenário é parecido com o que enfrentei quando comecei a atuar com seguros", diz. Para Rocha, há uma questão cultural do produtor agrícola, que tende a achar que esse tipo de proteção não é necessária. "O produtor é muito otimista, e sempre planta achando que vai colher mais do que na vez anterior", diz.
O monitoramento por satélite permite que seja feito um acompanhamento constante do que acontece na lavoura, garantindo, por exemplo, que mudanças climáticas sejam antecipadas com mais precisão. Isso dá a produtores, seguradoras ou tradings a possibilidade de mitigar riscos. É possível, por exemplo, que o conselho ou fundos responsáveis por grandes grupos produtores acompanhem diariamente o que acontece nas fazendas de qualquer parte do mundo.
O profissional capacitado a fazer a leitura desses dados de satélite e transformar isso em informação útil para a cadeia de produção precisa combinar competências variadas. Segundo Rocha, além do conhecimento técnico que o permite conhecer os riscos agrícolas, como clima ou especificidades da cultura plantada e da região, ele precisa conseguir antecipar riscos financeiros, logísticos, morais (o não cumprimento de um contrato, por exemplo) e de crédito. "É fundamental navegar por todas essas áreas da cadeia, desde a produção até a exportação."
Além disso, é importante ter algum conhecimento de tecnologia e sistemas de informação geográfica, além de saber o inglês. Rocha diz que encontrar esse tipo de profissional não é nada fácil. Há pouco tempo no Brasil, a Geosys tem hoje cinco profissionais no país e usa uma equipe de 70 colaboradores na França. Recentemente, uma vaga foi ocupada por uma agrônoma francesa que já fazia pesquisas no Brasil - pois o conhecimento local é outro aspecto essencial para o negócio. No ano que vem, ele terá que contratar mais dois profissionais com esse perfil. Se não encontrar no mercado, considera recrutar recém-formados em engenharia agronômica e oferecer um processo de capacitação.
Formar internamente é a estratégia da Brasil Agro, empresa de propriedades rurais. Seus profissionais mais valorizados, os gerentes de unidade, exigem uma formação que a Abrahams Executive Search também considera altamente disputada no mercado hoje, a gestão de "farming". São profissionais capacitados a encontrar, adquirir, preparar e comercializar terras com a intenção de vendê-las ou usá-las na agricultura de precisão. "O profissional tende a ser alguém do meio agrícola, mas com visão sistêmica de liderança e gestão", diz André Guillaumon, diretor de operações da Brasil Agro.
Desde o surgimento da empresa, há sete anos, a companhia estruturou um programa de desenvolvimento interno no qual os profissionais entram como técnicos agrícolas e podem chegar à posição de gerente de unidade - propriedade que recebe investimentos pesados e geram um grande fluxo de caixa. "É difícil encontrar pessoas que se adaptem à cultura e aos processos de governança corporativa. O melhor é formar internamente". A Brasil Agro está listada na Bovespa e na Bolsa de Nova York.
Segundo Guillaumon, a empresa tem hoje uma equipe de cerca de 150 pessoas na sede em São Paulo e em fazendas espalhadas pelo Brasil. Com crescimento anual de até 20%, a expectativa do executivo é de que essa tendência se mantenha nos próximos anos, o que indica a necessidade de seguir contratando. No geral, a Brasil Agro busca profissionais recém-formados em cursos ligados a agronomia de grandes universidades.
Entre os maiores desafios da companhia estão encontrar profissionais que aliem o conhecimento de negócios à expertise técnica e, posteriormente, reter a mão de obra. "Procuramos envolver essas pessoas no processo decisório, para que se sintam parte do todo. É um trabalho constante", diz. Além disso, a empresa atrela o desenvolvimento e o desempenho do funcionário à remuneração e oferece uma parte variável "bastante atrativa", segundo Guillaumon.