A técnica já é utilizada por produtores italianos ( cime radicate) e americanos ( plug plant) e por viveiristas de hortaliças em São Paulo - onde se colhe estolões produzidos a partir de plantas matrizes acondicionadas em sacolas plásticas ou em hidroponia, e se enraiza o estolão em substrato comercial.
A principal vantagem desse sistema é a antecipação da produção de estolões, entre janeiro e março, o que consequentemente reduz o tempo de formação da muda, propiciando a antecipação do plantio. Ao final de maio, elas estão prontas para o início da colheita, justamente no período onde quase não há morangos gaúchos no mercado e quando o fruto alcança até o triplo do valor.
As mudas são produzidas em bancadas dentro de casas de vegetação, utilizando variedades de dias curtos e neutros (que independem do tempo de exposição à luz solar para atingir níveis adequados de produção).
"A produção de mudas fora de solo permite o total controle sanitário e nutricional das mudas durante os estágios, proporcionando assim plantas com qualidade fisiológica e fitossanitária", explica o pesquisador Luís Eduardo Antunes.
O novo sistema não substituirá a muda importada, mas será uma alternativa para o produtor. A Produção de Mudas de Morango no Sistema Fora do Solo está em fase de validação, mas os pesquisadores acreditam que, em pouco tempo, já estará disponível aos produtores de morango gaúcho.
O Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor nacional de morangos, com uma média de produção de 26 mil toneladas. Com o uso intensivo da produção de morangos, e devido à necessidade de rotação de áreas dentro da propriedade, pequenos produtores se veem obrigados a replantarem em áreas onde houve histórico de produção recente. Esta repetição de áreas, juntamente com condições climáticas adversas, leva ao aumento de doenças, e por consequência, o aumento no uso de agrotóxicos.
Uma alternativa técnica também utilizada é o Sistema de Produção de Morango Fora do Solo. Neste método os morangueiros são plantados em canteiros suspensos, dentro de túneis plásticos altos, sem o contato com o solo. As plantas são colocadas em sacolas plásticas tubulares (slabs), contendo substratos a base de casca de arroz carbonizada e composto orgânico. O fornecimento de água e nutrientes se dá através de soluções nutritivas aplicadas via irrigação com tubos gotejadores.
Como forma de aumentar a eficiência deste sistema, está em teste no Rio Grande do Sul, um sistema de produção fora do solo com Recirculação da Solução Nutritiva, ou Sistema Hidropônico Recirculante, onde a solução aplicada é reaproveitada após a drenagem. Este sistema evita a perda de água e fertilizantes não utilizados pelas plantas, reduzindo a contaminação do ambiente e os custos de produção.
Este trabalho vem sendo conduzido pela equipe de fruticultura da Embrapa Clima Temperado, com dedicação especial dos pesquisadores Carlos Reisser Júnior e Luís Eduardo Antunes. Além destes, fazem parte do trabalho a professora Roberta Marins Nogueira Peil, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Bruno Ludtke, da Emater/RS-Ascar e produtores da Associação dos Produtores de Morango do Município de Turuçú (RS).
Além da redução do uso de adubos químicos e agrotóxicos, o sistema permite melhores condições de trabalho para o produtor. "O trabalho pode ser realizado com qualquer condição de clima", comenta Carlos Reisser. "Esse é o diferencial deste Sistema, ao ser favorável ao uso de cultivares de dias neutros, possibilita que se colham morangos durante a entressafra regional, levando maior rentabilidade econômica ao produtor", ressaltou Luis Antunes.
A Serra Gaúcha, próximo aos municípios de Caxias do Sul e Vacaria/RS, por possuir amplitudes térmicas diárias adequadas à esta produção, com dias quentes e ensolarados e noites fritas, se tornou a maior região produtora de morangos do Brasil durante o período de verão. Nesta região vem crescendo o número e a área cultivada fora do solo, mostrando a importância de se evoluir em sistemas modernos que protejam o consumidor e viabilizem técnica e economicamente a rentabilidade à propriedade.
Essas tecnologias foram demonstradas no último dia 17, durante o evento organizado pela Embrapa Clima Temperado e Associação dos Produtores de Morango de Turuçu, nas propriedades do produtor familiar Marciano Belling, e de Alvacir Neuschrank.
A família Belling iniciou a produção do morangueiro com a técnica de Produção Fora de Solo neste ano. As primeiras mudas foram plantadas no dia 30 de maio de 2013. A área de produção conta com duas mil plantas dentro deste Sistema (hidropônico) e no convencional, somam sete mil plantas. Em dois meses de produção, a família colheu cerca de 300kg - mais ou menos 1kg/planta -. "Esse sistema é menos cansativo, pois a mão de obra é mais fácil e se reduz a aplicação de defensivos", falou o agricultor.
Segundo o pesquisador Carlos Reisser Júnior, a Produção Fora de Solo produz mais por metro quadrado do que a convencional e permite também a produção do fruto durante o verão, que não é a época de produção. "O custo é maior, mas é viável", confirma.
Quanto à mão de obra ser facilitada está na justificativa: "o produtor trabalha em pé, e isso faz ele render mais", defende. A produção é sustentável, de acordo com o pesquisador, pela diminuição do uso de agrotóxicos, o que confere à nova técnica um diferencial atraente, mantendo também o produtor livre do contato com químicos.
Outros benefícios levantados pela pesquisa agropecuária é que a técnica possui maior facilidade no controle de doenças e no potencial produtivo da planta. "É possível uma mesma planta produzir até três anos e fora de época (a entressafra)", destacou o pesquisador Luis Eduardo Antunes.
Quem veio confirmar a receptividade da técnica da Produção Fora de Solo, foi o produtor Mário Luis Thili, de Porto Vera Cruz (RS). "Uso o Sistema recirculante (o aberto) desde maio deste ano e já tenho resultados. Possuo três mil plantas e acredito que vou ter um bom retorno", fala empolgado.
A Associação de Produtores de Morango de Turuçu tem viabilizado o desenvolvimento de técnicas a serem adotadas pelos produtores na cultura do morango no município. Existe políticas públicas também que apoiam o segmento. A lei Pró-Morango, foi criada para incentivar a produção na região. A Prefeitura Municipal compra a muda do exterior (Argentina e Chile) e revende para os produtores a 80% do valor. "Os produtores fazem o pagamento posterior, podendo ser em produção de frutos", explicou o prefeito municipal, Ivan Scherdien. Em 2013, foram plantados 446 mil pés de morango, o que totaliza 11 hectares de plantação.