Fatores como a crônica deficiência de infraestrutura - rodovias, ferrovias, portos, aeroportos - que compõe, junto com os encargos trabalhistas e tributários, o chamado "custo Brasil" seguem como impeditivos para uma recuperação das vendas de produtos manufaturados e semimanufaturados.
A análise é do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira. "O custo trabalhista no Brasil, que já foi mais baixo, hoje é maior que o europeu", diz Gouvêa Vieira, ao comentar as expectativas da entidade para a balança de pagamentos e o comércio exterior em 2014.
As vendas de produtos industrializados (manufaturados e semimanufaturados), em um total de US$ 102,5 bilhões, caíram 2,2% neste ano, entre janeiro e outubro na comparação com o mesmo período de 2012, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
A participação desses produtos na pauta de exportações brasileira, que se encontra atualmente em 51%, vem caindo desde 2006, quando superava 68%.
"Nos falta a questão da logística e problemas fora da fábrica penalizam toda a cadeia produtiva da exportação; não temos malha ferroviária adequada e temos todas as carências que todos conhecem", criticou o dirigente. Gouvêa Vieira acredita que uma eventual desvalorização cambial poderá ajudar as vendas externas do agronegócio, mas a indústria não terá benefícios significativos. "Estímulos pontuais não resolvem, precisamos de uma política industrial profunda e real", afirma.
Crítico da política econômica do governo atual, o presidente da Firjan aponta os juros elevados como fator de desestímulo ao empreendedorismo em geral e à indústria em particular e diz que as taxas só podem cair quando o governo reduzir seus gastos.
Para Gouvêa Vieira, um provável aumento dos juros nos Estados Unidos terá um "impacto negativo brutal" nas contas externas brasileiras, provocando uma "fuga de capitais de que dependemos". Nem mesmo o acordo multilateral, acertado no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) na reunião de Bali, dia 7 de dezembro, empolgou o dirigente do setor industrial fluminense.
Foi o primeiro acordo desde o início da Rodada de Doha em 2001, cujas negociações estavam paralisadas desde 2008 devido à crise financeira internacional. O acordo de Bali envolve medidas de facilitação ao comércio, segurança alimentar e redução de subsídios agrícolas.
"A OMC é uma abertura de janela", afirmou Gouvêa Vieira, acrescentando que o mais importante, na visão dele, é que as empresas brasileiras possam fazer parte das cadeias produtivas das empresas globais. "Para isso precisamos ter custos competitivos", repetiu.
A advogada Carol Monteiro de Carvalho, especialista em comércio exterior, partilha dessa visão sobre a participação do Brasil nos acordos comerciais internacionais. Sócia do escritório Bichara, Barata & Costa, Carol diz que o Brasil não tem acompanhado a tendência mundial de acordos regionais e bilaterais, desenvolvidos justamente como alternativa à demora do acordo multilateral.
"Na prática, o acordo de Bali não deve influenciar no resultado da balança comercial, embora sejam previstas medidas de redução de procedimentos aduaneiros", comentou a advogada. Segundo ela, o chamado "pacote de Bali" está sendo considerado pelos negociadores como o maior acordo aprovado pela OMC desde a Rodada Uruguai (1986-1994), e é relevante principalmente pelo fato de as decisões na OMC serem tomadas por consenso. "Com isso, países desenvolvidos e em desenvolvimento entram em condições igualitárias nas negociações, ao contrário do que pode acontecer nos acordos regionais."
Para esta especialista em comércio exterior, espera-se que o avanço de Bali impulsione as discussões de outros temas da pauta da OMC, principalmente de interesse dos países em desenvolvimento, ainda que o progresso das negociações multilaterais seja mais demorado. "De qualquer forma, não me parece que as tratativas de grandes acordos regionais, como EUA e União Europeia, e o TPP (Transpacífico) sejam impactadas diretamente pelo Pacote de Bali", afirmou.
Um dos maiores exportadores de commodities do país, a mineradora Vale, tem boas perspectivas para o ano que vem, a julgar pelo depoimento do diretor executivo de ferrosos e de estratégia da Vale, José Carlos Martins. Questionado pela imprensa em 5 de dezembro, em uma teleconferência sobre as perspectivas de vendas para seu maior cliente, a China, Martins afirmou que o país já tem apresentado alguma desaceleração de crescimento, mas isso não impediu que a demanda de minério de ferro continuasse crescendo.
"Quando a China crescia 12%, 13%, 14%, ela tinha uma economia muito menor. Hoje cresce 7%, 8%, em uma economia muito maior, então o efeito em termos de demanda por insumos é muito maior", disse o executivo da Vale. Segundo ele, este ano a China está produzindo 780 milhões de toneladas de aço, com crescimento de quase 8% sobre o ano passado e a "acomodação da economia chinesa" não significa crise ou recessão.