Em um futuro não muito distante, os sistemas de saneamento, iluminação, transporte e segurança estarão conectados à rede. As estruturas e processos serão aprimorados e os centros urbanos oferecerão um ritmo de vida mais fluido e menos caótico. Neste cenário os modelos de negócios também passarão por mudanças e deverão compreender o funcionamento das cidades e as necessidades de seus habitantes, com propostas cada vez mais acessíveis.
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Uma estimativa da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), divulgada recentemente pela revista Exame, indica que a América Latina tem potencial de mercado de US$ 1 trilhão, para startups de tecnologia. Antes, contudo, é preciso enfrentar os desafios da inclusão, escancarados principalmente em países como o Brasil. As questões foram tema da palestra da professora e ex-deputada dinamarquesa Britta Thomsem e do pesquisador português Valter Ferreira, que estiveram em Cuiabá no último mês.
Britta Thomsem - Reprodução/Sebrae
De acordo com a professora, a Dinamarca, país apontado como o mais avançado da União Europeia nestes aspectos, começou as transformações pelas prefeituras há alguns anos. Hoje as pessoas podem se comunicar com as autoridades e executar a maioria dos serviços pela internet.“Se eu quero mudar da minha casa, eu preciso registrar meu endereço novo, e faço isso online. Minha filha, que mora em Berlim, precisa ir a um escritório, tudo é feito no papel. Então é mais fácil para mim. Hoje é possível até fazer um divórcio pela internet.”
Considerando o contexto nacional de desigualdade social, falta de acesso à internet e analfabetismo, a proposta soa quase que como uma provocação. Os empecilhos, no entanto, não são ignorados pela especialista, que aponta a alfabetização como o caminho para o surgimento de cidades inteligentes. “Antes na Dinamarca, 10% das pessoas nem sabia abrir um computador , especialmente os mais idosos. Isso é normal. Agora, a maioria destes 10% não só pode se comunicar com autoridades, como está no Facebook, interagindo comamigos, netos, se sentindo mais viva.”
Para operar negócios nas cidades inteligentes, é preciso possuir visão de futuro, uma percepção alinhada à importância da conectividade na vida dos indivíduos, e uma oferta de produtos ou serviços que atendam as demandas de quem habita esses espaços. O assunto permeou o Fomenta MT, realizado pelo Sebrae nos dias 28 e 29 de novembro, no Centro de Eventos do Pantanal. O evento reuniu pelo menos 1.500 empresários, gestores públicos e dirigentes de instituições.
À inclusão, contudo, não está atrelada a formação de uma sociedade menos desigual economicamente, mas com as mesmas possibilidades de acesso. “A Dinamarca, por exemplo, é menos igual hoje do que há 20 anos. Por isso a palavra chave é acesso. Todos tem que ter acesso ao conhecimento, porque senão vamos continuar excluindo grupos da sociedade. Em um país como o Brasil é preciso dar formação, educação. No meu país, mesmo as pessoas que limpam tem um curso. Isso lhes dá dignidade”, reforça.
Valter Ferreira - Reprodução/Sebrae
Para Vallter, a fragilidade da sociedade é transversal em todos os países. “Não podemos tapar o sol com a peneira, no Brasil há muita desigualdade.” Logo, a forma de resolver qualquer uma destas situações não é importar um conceito que funciona muito bem em outras terras, mas trazer a ideia e adaptar as realidades locais. Assim, de acordo com ele, a grande diferença do que se faz na Europa e nos Estados Unidos é que no Brasil há problemas muito mais básicos a serem resolvidos.
“Não posso dizer como faríamos com o Brasil porque é preciso trabalhar com o território e com as pessoas desse território chegar a uma conclusão. Gosto de pensar em uma pequena escala e ir aumentando. Se pensarmos em Cuiabá, começaria pelo centro empresarial da cidade, onde estão os bancos e empresas, ali é mais fácil. Implantam-se os quiosques com tecnologia, as pessoas da região estão mais habituadas a estes serviços e a partir dali, vai expandindo aos poucos até chegar ao resto da cidade.”
Ele lembra que questões que, para os portugueses não são mais problemáticas, como o saneamento básico, ainda representam grandes desafios por aqui aqui. No Brasil isso era um problema há 25 anos e hoje ainda é. Os problemas em Portugal agora são a construção de parques infantis. Estamos em um patamar muito diferente. Com a tecnologia ocorre o mesmo. É necessário perceber quais são os problemas estruturais e seguir escalando a pirâmide. O trabalho começa pela inclusão tecnológica, seja tecnologia aquilo que for. O ser humano por si só é um ser tecnológico.”