Os agricultores brasileiros terão de investir pesado no campo para tirar da terra as cerca de 90 milhões de toneladas de soja e as 33 milhões de toneladas de milho prometidas para a safra que está começando. A alta do dólar abriu uma via de duas mãos para o setor: sustenta os preços dos grãos, mas encarece os custos das lavouras. E o aumento do limite de crédito oficial não cobre os reajustes nos preços dos insumos em boa parte das regiões agrícolas.
Os investimentos em semente, fertilizante e agrotóxico levaram os custos totais da lavoura para o mais alto valor da história em Mato Grosso, conforme levantamento do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). No estado, que é líder nacional em colheita de grãos, as plantações de soja estão exigindo R$ 2,34 mil por hectare, 23% a mais do que no ano passado. Ou seja, os custos consomem o equivalente a 2,5 mil quilos da oleaginosa por hectare, se considerado o preço de R$ 55,7 por saca praticado ontem em Sorriso.
No Paraná, segundo maior produtor, o valor também passa dos R$ 2 mil por hectare, mas a alta no ano é de 10%. Cálculos da Secretaria da Agricultura (Seab) apontam para um custo total de R$ 2,2 mil por hectare, incluindo depreciação de maquinário e remuneração pelo uso da terra. Só para cobrir esse custo, é necessário produzir 2 mil quilos de soja por hectare, considerando o preço atual, de R$ 66,70 por saca de 60 quilos.
Esses números mostram que a margem da soja caiu a menos de um terço, considerando a média de 3 mil quilos por hectare. Na última temporada, o índice chegava a 45% da renda bruta. E a ampliação dos custos não foi acompanhada pelo aumento do crédito. Com os recursos oficiais destinados ao custeio da safra, os produtores conseguiriam plantar 255 hectares em Mato Grosso e 272 hectares no Paraná. O limite de crédito por CPF subiu de R$ 500 mil para R$ 600 mil neste ano, ou seja, 20%.
Vendas atrasadas
No estado do Centro-Oeste brasileiro, os custos ameaçam diretamente a rentabilidade da safra, afirma Otávio Celidônio, superintendente do Imea. “Os produtores venderam em média 40% da produção esperada, a um preço médio de R$ 49 a R$ 50 por saca. Se o restante da safra for vendido a uma média de R$ 44 ou R$ 45 por saca, as contas devem ficar empatadas. A margem dessa safra está muito apertada”, resume.
No caso de Mato Grosso, nem a antecipação das compras dos insumos foi suficiente para amenizar as despesas. Além disso, o estado ainda não considera aumento de aplicação de agrotóxicos no campo, que tende a ser generalizado. O ataque da lagarta Helicoverpa armigera às lavouras tem preocupado o setor produtivo. A praga é considerada uma forte ameaça por conta da dificuldade para controlar sua disseminação. Em algumas regiões produtoras do estado do Centro-Oeste, o inseto chegou a atacar plantas logo após a germinação.
“Para nós do Paraná, a Helicoverpa ainda não é problema. Fizemos um questionamento em todo o interior e a nenhum técnico reclamou da praga”, afirma Francisco Simioni, chefe do Departamento de Economia Rural (Deral), órgão ligado à Seab. Ele ressalta que a compra antecipada dos insumos no Paraná, via cooperativas, impediu maiores altas nos custos de produção do estado.
“Considerando uma série histórica de 2003 a 2012 observamos que o volume de insumo entregue durante o primeiro semestre do ano vem aumentando 2,51% ao ano, enquanto que o volume entregue no segundo semestre vem diminuindo em 1,37% ao ano”, relata David Roquetti Filho, diretor executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).
Estimativas de consultorias contratadas pela entidade apontam que o volume de entregas de fertilizantes no Brasil será da ordem de 30,5 milhões de toneladas, um novo recorde. Em 2012, foram 29,537 milhões de toneladas, conforme estimativa da GO Associados.