Empresário especializado em finanças, Gabriel Bussiki dos Santos conversou com o
Agro Olhar sobre os efeitos da valorização do dólar e o pacote de cortes de gastos anunciado nesta semana pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele ainda alertou sobre os perigos de jogos de azar e pirâmides financeiras.
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Nesta semana, Haddad anunciou a isenção de imposto de renda para quem recebe até R$ 5 mil mensais e estimou uma economia de R$ 327 bilhões em cinco anos por meio do pacote fiscal do governo. Para Gabriel, o ideal seria o governo federal cortar os gastos 'na carne' com redução de cargos comissionados e outros benefícios. O novo anúncio criou uma repercussão entre os economistas e, em reação, o dólar chegou a atingir o patamar de R$ 6. Gabriel pontuou ainda que, além de 'enxugar a máquina pública', também é necessária uma redução de impostos para que a população tenha um maior poder de compra.
"Na verdade, tinha que cortar na carne, literalmente cortar nos gastos públicos. Então, o aumento do dólar pode afetar desde o pão que a gente come até o leite, a gasolina. Então, quando o dólar se valoriza em relação ao real, nossa moeda, o Brasil vai sofrer consequências", disse.
Haddad apresentou ainda uma proposta para taxação de 10% no imposto de renda para quem receber acima de R$ 600 mil. O valor também entra no debate da taxação dos 'super-ricos'. Gabriel explicou que, no Brasil, 70% dos empregos são gerados por pequenas e médias empresas e que, caso o empresário não se sinta valorizado, pode optar por sair do país, podendo haver aumento no desemprego.
"Ou seja, se o país não apoiar o gerador de emprego, o cara que está ali na ponta, gerando emprego, gerando renda para as pessoas, esses empresários consequentemente vão sair do país também. Então, sim, eu defendo que possa haver aí uma tributação mais frouxa em relação a quem ganhar menos, mas, ao mesmo tempo, é o empresário, o produtor que gera valor, que gera dinheiro, riqueza para o país, não tem que ser penalizado por isso. Eu acho que, eu defendo, na verdade, que o governo tem que cortar na carne, tem que diminuir as despesas do governo, cargos comissionados, benefícios que muitas pessoas, muitos políticos têm, para poder retornar esse dinheiro em investimento para o país.", explicou.
O empresário pontuou ainda que a valorização do dólar pode auxiliar na margem de lucro dos produtores rurais do país, já que a maior parte do custo de produção e venda é baseada na precificação da moeda. Entretanto, a previsão é de que nos próximos anos haja um 'embate' entre o presidente Lula e Trump, devido ao protecionismo americano e taxação de importação do estado.
"O agricultor, na verdade, o produtor, ele planta e o custo dele é em dólar. Então, quando ele planta, ele vai ter um custo em dólar, e ao mesmo tempo, quando ele vende, ele vai vender em dólar. Mas, ao mesmo tempo, tem alguns insumos, tem alguns produtos que vão ser em reais, vão ser em outras moedas também. Então, é bom o dólar subir de um certo ponto, mas, ao mesmo tempo, o Brasil importa muitos produtos de fora que são em dólar também. Mas acredito que a tendência do dólar daqui para frente também continuará nessa ascendência. Os Estados Unidos inclusive estão colocando uma tarifa em cima de produtos, falam que o Trump está colocando uma tarifa em cima de produtos chineses de importação de quase 60%. Então, os chineses estão correndo para poder vender o máximo que eles têm agora nessa safra antes de o Trump tomar posse em meados de janeiro do ano que vem. E o Brasil também vai sofrer uma taxação maior, principalmente no México, Canadá,.", reforçou.
Risco de investimentos e jogos de azar
Gabriel alertou ainda sobre o risco dos 'investimentos' em jogos de azar como o Jogo do Tigrinho e pirâmides financeiras, principalmente envolvendo criptoativos. Gabriel explicou que o ideal seria a população possuir uma reserva de emergência e não acreditar em um rápido enriquecimento.
Um levantamento do Banco Central apontou que somente em agosto deste ano os beneficiários do Bolsa Família transferiram R$ 3 bilhões para empresas de jogos de azar, principalmente por meio de PIX. O empresário pontuou ainda que a ideia de ganhos rápidos e um estilo de vida luxuoso para vender produtos, também estimula a fantasia popular em obter um patrimônio de forma acelerada.
"O brasileiro precisa, na verdade, de uma educação financeira. Antes de investir em qualquer coisa, o brasileiro tem que ter esse controle, tem que ter essa mentalidade de saber quanto eu posso gastar, quanto eu estou recebendo, como que eu posso aumentar minha renda, para depois poder investir. As pessoas estão procurando mudar de vida de um dia para a noite, esqueceram que não existe milagre, não existe atalho.", disse.
Entretanto, Gabriel apontou que a tendência do Bitcoin é continuar se valorizando como uma reserva de valor diante da escassez já que existe apenas 21 milhões de bitcoins mundialmente.
"Então é um vício. Eu vejo que nós temos não só que apoiar essas pessoas de forma psicológica mesmo, mas também o governo tem que oferecer mecanismos para as pessoas entenderem realmente o que é uma aposta esportiva, que você não pode literalmente pegar o seu salário e botar tudo ali, como muitas pessoas fazem,e depois ficar sem dinheiro para comprar a sua comida do dia, para você sustentar a sua casa. Então tem que ter um estudo, tem que ter uma educação financeira para as pessoas entenderem que ninguém muda de vida do dia para a noite.", finalizou.