Uma nova paralisação dos caminhoneiros foi convocada pelo Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) para acontecer no dia 25 de julho deste ano, data em que é comemorado o dia de São Cristóvão, o padroeiro dos motoristas. Porém, as entidades que representam a categoria em Mato Grosso ainda estão reticentes quanto a possibilidade de que ela realmente ocorra. Mesmo assim, a insatisfação – principalmente com sucessivos aumentos nos combustíveis – é geral.
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O primeiro reajuste de combustíveis - 6% para gasolina e GLP e 3,7% para o diesel - da gestão do general Joaquim Silva e Luna na Petrobras pegou os caminhoneiros de surpresa e aumentou a insatisfação da categoria. Apesar de ter baixo impacto na inflação oficial (IPCA), a alta do diesel afeta toda a cadeia produtiva, que depende do frete rodoviário para distribuição no país.
O presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de Mato Grosso (Sindicam), Roberto Pessoa Costa, disse ao
Olhar Direto que, por enquanto, não tem nada definido. Porém, “se o óleo [diesel] continuar a subir e o governo não fizer alguma coisa para conter esses aumentos abusivos, não tem como não parar, porque o frete não supri os aumentos sucessivos do diesel”.
“O frete está muito defasado, mesmo no piso mínimo ele não consegue acompanhar os aumentos. Tivemos o aumento nas refinarias ontem, mas também teve a subida da energia. A verdade é uma só, eles [governantes] não sabem o que fazer para tomar dinheiro do povo. Até o sol estão querendo taxar”, completou Pessoa.
O diretor executivo da Associação das Empresas do Transporte de Carga de Mato Grosso (ATC), Miguel Mendes, também confirma a insatisfação da categoria. Porém, acredita que ainda não é o momento para que uma greve, como a de 2018, ocorra, principalmente em um período pandêmico.
“No atual momento, acredito que não deve ter. Há uma insatisfação muito grande, principalmente pelos preços dos combustíveis, que consome 50% do valor dos fretes. Isso tem causado insatisfação, mas não ao ponto de sensibilizar para uma grande manifestação igual houve em 2018”, explicou Miguel ao
Olhar Direto.
O diretor lembra que hoje, com a presença muito forte do WhatsApp e outras redes sociais, fica muito fácil as pessoas dizerem que irá acontecer paralisação. Mas isso deve ser articulado com todas as entidades que representam a categoria.
“As vezes o que incomoda um caminhoneiro aqui, não incomoda outros. É muito complicado. Aquela de 2018, tinha muitos outros fatores que motivaram naquele momento, era a questão política, outros aumentos que estavam ocorrendo, série de fatores que tornaram possível aquela união nacional. Tudo é momento, precisa de um estopim, motivo muito forte, para reunir todo o setor e ter apoio da população”, comentou Miguel.
A pandemia é um dos entraves, segundo Miguel, para que – neste momento – a greve no dia 25 de julho se concretize. “Quem fizesse isto agora, seria hostilizado. Porque uma paralisação neste momento traria consequências catastróficas para o pais. É um momento que todos tentam se recuperar na economia. Tem fabricas parando por falta de peças, componentes. Vir com uma paralisação nacional, o efeito seria devastador”.
Presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o Chorão, disse aos jornais recentemente que o Governo Bolsonaro não está cumprindo as promessas feitas aos caminhoneiros e sinalizou para possibilidade de greve. Ele ficou conhecido na manifestação de 2018, que trouxe grave crise de abastecimento em todo o País.
"Deixamos claro na reunião que se o diesel subisse ia afetar seriamente não só os caminhoneiros, mas a sociedade em geral, que já está muito pressionada", disse Plínio Nestor Dias, presidente do CNTRC, em entrevista ao Correio do Povo. Ele ainda acrescentou que “meu celular não parou o dia todo, são caminhoneiros querendo saber o que aconteceu. Vamos traçar nossa estratégia para ninguém sair prejudicado, mas vai ter greve".
Insatisfação com o governo
A Confederação Nacional do Transporte divulgou, nesta segunda-feira (5), os resultados da rodada 149 da Pesquisa CNT de Opinião. O levantamento, realizado em parceria com o Instituto MDA de 1º a 3 de julho de 2021, mostra as avaliações do governo e o desempenho pessoal do presidente Jair Bolsonaro. Sobre as eleições presidenciais de 2022, a pesquisa traz as intenções de voto dos entrevistados.
O primeiro quesito que chama atenção é a avaliação do governo e desempenho pessoal do presidente. Em outubro do ano passado, 27,2% achavam ruim/péssimo. Em julho deste ano, o número saltou para 48,2%. Já a porcentagem dos que achavam bom/ótimo, caiu de 41,2% para 27,7% no mesmo período.
Nas intenções de votos para as eleições de 2022, a pesquisa espontânea (quando o nome dos candidatos não é sugerido) coloca Luis Inácio Lula da Silva em primeiro, com 27,8% e Bolsonaro em segundo, com 21,6%. Além disto, 38,9% ainda se mostram indecisos.
Já na pesquisa de voto estimulado (quando os nomes são apresentados), Lula dispara na liderança, com 41,3% da preferência. Depois, aparece Jair Bolsonaro com 26,6% e em terceiro – empatados – Ciro Gomes e Sérgio Moro, com 5,9%, cada.
Foram realizadas 2.002 entrevistas presenciais, em 137 municípios de 25 Unidades da Federação. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, com 95% de nível de confiança. Os resultados completos podem ser conferidos
AQUI.
2018
Com a reinvindicação da redução no valor do Diesel, a greve dos caminhoneiros durou cerca dez dias e causou escassez de combustíveis, elevou o preço dos alimentos e fez várias pessoas irem às ruas pedindo, entre outras coisas, intervenção militar. No nono dia de manifestação, o Exército Brasileiro e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) precisaram usar a força para desobstruir a entrada de Cuiabá, na BR-364. Balas de borracha e bombas de efeito moral foram usadas para dispersar caminhoneiros que estavam trancando a passagem de veículos.
O movimento também ganhou apoio dos motoristas de aplicativo e as ruas de Cuiabá foram tomadas pelos veículos de carga, que fizeram carreatas por vários dias.