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Quinta-feira, 02 de maio de 2024

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O clima em Doha

O vilipendiado Protocolo de Kyoto expira dentro de um mês, mas poucos terão atinado para a morte acabrunhante do tratado internacional que, há 15 anos, concentrou as expectativas de um combate efetivo à mudança do clima da Terra.

Menos pessoas ainda estarão cientes de que começou nesta semana, em Doha (Qatar), a 18ª rodada de negociações que deveriam prorrogá-lo ou ampliá-lo. São indicadores eloquentes da perda de importância das conferências da ONU acerca do aquecimento global, que seguidamente acabam em impasses -como Copenhague (2009), Cancún (2010) e Durban (2011).

Kyoto prescrevia a redução de 5% sobre os níveis de 1990 das emissões de carbono, gases produzidos na queima de combustíveis fósseis que agravam o efeito estufa e aquecem a atmosfera da Terra. O planeta, no entanto, seguiu na direção oposta.

Os Estados Unidos, então maior emissor mundial, assinou o tratado, mas nunca o ratificou. A China, atual campeã de emissões, não assumiu compromisso de cortes na época por ser um país em desenvolvimento -assim como Brasil e Índia, argumenta que isso custa caro e que cabe aos países ricos puxar a fila do sacrifício.

De 1997 para cá, pouco se avançou. Encorparam-se, no entanto, as observações científicas de que o clima mundial passa por transformação. Neste ano, por exemplo, a calota de gelo no Ártico registrou um recorde de redução de área no verão, uma das principais predições dos modelos climatológicos.

O Banco Mundial, que não pode ser acusado de extremismo, destacou há poucos dias a prudência de manter o aumento da temperatura média da atmosfera em 2°C (mas é quase certo que teremos 4°C). A Agência Internacional de Energia já fez alerta similar.

Apesar de tudo, é improvável que Doha produza algum avanço real. EUA e China prosseguirão num cabo de guerra imobilizador. A União Europeia, em geral na vanguarda das pressões por combate ao aquecimento global, afunda-se na crise econômica e carece de meios para financiar a descarbonização noutros países -ainda que tal agenda prospere na esfera doméstica de vários deles, e não só na Europa.

O Qatar, com o maior índice de emissões de carbono por pessoa no mundo, parece ser o lugar mais adequado para os delegados às negociações da ONU sobre clima começarem a se perguntar se já não é hora de abandonar os trilhos de Kyoto e buscar novos caminhos.

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