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Novo modelo de produção de arroz com técnica de gotejamento se torna alternativa econômica e sustentável
Autor: Carlos Sanches
11 Nov 2015 - 11:22
O ano de 2015 começou com algumas perspectivas positivas no setor do agronegócio nacional, enquanto que o mercado de forma geral anda meio desanimado com a economia do Brasil. No entanto, o agro continua em movimentos crescentes: o setor ainda representa quase um quarto do PIB (Produto Interno Bruto), podendo crescer 2,8% neste ano, a safra de grãos estimada deve ser a maior com 204,3 milhões de toneladas e um crescimento pífio em áreas produtivas – o que significa que estamos produzindo mais e no mesmo lugar.
Mesmo assim ainda há receios. O ano de 2014 foi marcado pela escassez de chuva e esse cenário se alastrou em 2015 e, desde então, a agricultura tem sido questionada por ser responsável pelo alto consumo de água. Quase sempre colocamos a culpa na agricultura: mau uso, contaminação na água etc. Mas será que quem mais desperdiça e contamina não está na cidade? Hoje cerca de 90% das pessoas vivem nas cidades, pouco mais de 10% está nos campos e essa pequena quantidade é responsável por preservar o nosso maior bem, pois sem a água não conseguimos plantar, colher e viver.
A agricultura utiliza 70% da água disponível para consumo, mas parte evapora e retorna em forma de chuva e parte é absorvida pelos lençóis freáticos. Por outro lado, a agricultura é responsável por alimentar o mundo. É hoje uma plataforma de governo, responsável por parte significativa do pouco crescimento econômico que ainda temos. É inviável restringir seu desenvolvimento: a planta não vive sem água e o homem do campo já trabalha uma melhor gestão da água e tecnologias eficazes, por exemplo, com a irrigação por gotejamento.
Um dos grandes desafios é fazer com que a humanidade compreenda o tamanho da importância dessa tecnologia. Dados da ABIMAQ (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos) mostram que o Brasil tem quase 30 milhões de hectares para irrigar. Menos de cinco milhões são irrigados, sendo que nem em um milhão deles é usada a técnica de gotejamento. Enquanto que outros países, que enfrentam o problema de falta de água como Israel, Índia, Costa Oeste dos Estados Unidos, já usam essa tecnologia que é mais eficiente e não desperdiça a água.
Apesar de ser uma tecnologia avançada, a concepção do sistema é bem simples: gota a gota. Considerado um dos mais eficientes sistemas de irrigação da atualidade, o gotejamento foi desenvolvido há 50 anos em Israel e trazido para o Brasil na década de 1990. De lá para cá foi aperfeiçoado, pode ser na superfície ou enterrado, e já está sendo aplicado em culturas como café, cana-de-açúcar, citrus, hortifrútis, e de forma pioneira no cultivo do arroz que geralmente usa a irrigação por inundação. O resultado é a economia de até um terço de água nessas lavouras.
Essa tecnologia foi testada nas últimas duas safras na região de Uruguaiana/RS e como resultado quase duplicou a produtividade, saindo de 7,5 toneladas por hectare (através do modelo tradicional: irrigação por inundação) para 12 toneladas por hectare (usando a técnica de irrigação por gotejamento). A explicação se dá pela quantidade de água exata, nem mais nem menos, e na hora correta, de acordo com a fase de desenvolvimento do arroz. O sistema também permite a aplicação dos nutrientes juntos com a água de irrigação, chamada de fertirrigação, que tem papel fundamental em maximizar o potencial produtivo do arroz.
Gota a gota
Este sistema utiliza os gotejadores subterrâneos (enterrados), que foram desenvolvidos justamente para esta finalidade, levando a água e nutrientes de forma precisa as plantas de arroz e evitando assim desperdícios como alta taxa de evaporação, escoamento superficial, entre outros decorrentes do atual método de irrigação, a inundação.
Outro ponto importante é que não existe mais a necessidade de inundar a área, portanto, todas as práticas agrícolas ficam mais simples e muito mais eficientes.
O sistema ainda permite a técnica da fertirrigação que é a aplicação dos nutrientes na lavoura por meio da água irrigada em que é possível controlar quando a planta será irrigada, quanto de água será utilizado, que zona da lavoura se deseja irrigar, quanto de produto será colocado, tudo feito de forma automatizada, controlada e precisa. É possível também usar produtos químicos para controle de pragas e doenças, sem risco de contaminação da área e do produtor.
Custo e benefício
Há quem diga que essa tecnologia é cara. Consideramos que toda tecnologia exige investimento. Portanto, são custos necessários para garantir uma propriedade desenvolvida, preparada e sustentável, tanto do ponto de vista ambiental (1/3 da água) e econômico, principalmente reduzindo o custo da tonelada de arroz produzida.
O custo benefício dos sistemas de irrigação por gotejamento é inúmero. O payback na cultura de café, por exemplo, acontece em menos de um ano. No arroz, em duas safras o produtor já terá retorno. Mas há mais que isso para se comparar: mão de obra – simplifica o dia a dia operacional da fazenda –, dá pra economizar água ( mais de 60% de economia), controlar o custo dos recursos como insumos, energia e até maquinários, já que o sistema de irrigação por gotejamento é subterrâneo e não impede a mecanização da lavoura.
É preciso analisar e identificar como podemos atingir melhores resultados, orquestrando estratégia e planejamento, dedicação, qualidade e produtividade, sempre pensando em uma área 100% sustentável, que ajudará no desenvolvimento do agro nacional. Galgar novos voos e melhores resultados é fundamental.
Por Carlos Sanches, Engenheiro Agrônomo e Gerente Agronômico da Netafim.
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