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Uma boa noite de sono
Autor: Luciano Vacari
06 Set 2021 - 08:00
A agropecuária é uma das principais atividades econômicas do país e está presente em todos os municípios brasileiros. Sua produção alimenta a população de mais de 100 países mundo a fora e é fonte de renda de muitas famílias, dos pequenos produtores aos grandes grupos agroindustriais. Toda essa riqueza, porém, tem algumas particularidades que a torna extremamente vulnerável às intempéries climáticas, agronômicas, zootécnicas, sanitárias e aos acordos geopolíticos-econômicos entre nações.
Em 2021, problemas com a estiagem nos grandes centros produtores de grãos e depois a forte geada que atingiu as lavouras do Sul e Sudeste provocaram grandes perdas para os produtores. O milho, umas das principais culturas do Brasil, deve acumular quebras de até 25% na produção devido à seca. Café e cana de açúcar também terão prejuízos significativos devido às geadas.
Na pecuária de corte, somente a possibilidade de uma crise sanitária foi o suficiente para derrubar as cotações da arroba e impactar na bolsa de valores, o tal do mercado futuro. Até que tudo venha as claras, e certamente virá, as incertezas vão influenciar nas negociações em plena entressafra, quando geralmente os preços deveriam ficar valorizados devido à menor oferta de animais.
Seja na lavoura ou no pasto, os riscos para os negócios do campo precisam ser considerados na hora do planejamento e buscar ferramentas que protejam, se não a totalidade pelo menos parte da produção, é imprescindível.
Uma análise recente da Neo Agro mostra que a desvalorização do preço da arroba neste momento poderá trazer prejuízos maiores do que os provocados pela crise sanitária de 2019, afinal a expectativa para este segundo semestre era de alta nas cotações e os produtores estavam contando com essa rentabilidade. Muitos investiram no confinamento, por exemplo, que tem elevado custo de produção e cada real de desvalorização impacta diretamente no resultado final.
Na agricultura, o número de apólices do seguro agrícola em 2015 totalizou 39 mil, ano passado este número saltou para 189 mil. A área passou de 5 milhões de hectares para 13 milhões no mesmo período. Mesmo assim é muito pouco. Somente 20% estariam segurados, isso sem considerar os outros cultivos além dos grãos.
Parece brincadeira. Em pleno 2021, no Brasil – o celeiro do mundo, falar de hedge, seguro de preço, travamento, opções ou qualquer outro nome que queiram dar. Essa ferramenta deveria fazer parte do dia a dia do empresário rural, tecnificado e produtivo.
O fato é que sim, a proteção de preço existe, é acessível a todos e acreditem, funciona!
A atividade agropecuária é arriscada por essência. Não aderir a ferramentas para mitigar esses riscos é o mesmo que especular com o patrimônio e pode representar o fim dos frutos do trabalho de uma vida toda. É melhor continuar produzindo e deixar as emoções para os aventureiros.
Afinal, quanto vale uma boa noite de sono?
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e direto da Neo Agro Consultoria