Por onde passamos fomos constatando aquilo que os produtores vinham nos dizendo: o milho muito afetado e manchas nas lavouras mais bonitas de soja. Mas a cada momento lavouras iam ficando mais sofridas conforme saíamos do estado de Illinois e nos dirigíamos ao Missouri. Illinois tem umas das melhores áreas dos EUA, e as perdas são grandes, imagine as piores áreas.
Mas com o tempo constatamos lavouras onde os produtores estavam colhendo em torno de 50 sacas de milho/ha e o que nos chamou a atenção foi a péssima qualidade do grão que os produtores estavam colhendo. Constatamos muito milho com carvão e outras doenças que devem impactar ainda mais na safra norte-americana.
Uma das grandes preocupações dos produtores é a qualidade da semente para a próxima safra, pois é nela que eles querem pensar e esquecer o quanto antes desta que tanta angústia trouxe. A seca, sem duvida, afetará em muito principalmente o vigor das sementes, e o pior é que isso poderá encarecer ainda mais o seu preço que custou nesta safra em torno de 50 dólares/há, a convencional, e 100 dólares, a transgênica.
Uma das visitas que mais me chamou a atenção foi a que fizemos a Eric Rund, um senhor de 60 anos que possui uma propriedade de 110 ha em uma vila do Condado de Champaign-Illinois, mas que arrenda outros 250 ha ao preço de 700 dólares/ha, de arrendamento. Segundo Eric, ele obtém uma renda de 150 mil reais por ano na atividade pelo fato da maior parte da sua área ser arrendada.
Eric nos disse que nos EUA não existe pressão ambiental e o produtor pode desmatar toda sua área, mas se quiser preservar área mais fraca e arenosas de sua propriedade pode fazer contratos com o governo de 10 ou 15 anos - pelos quais recebe naquela região em torno de 500 dólares por hectare preservado. Este valor pago pelo governo é em torno de 70% do valor do arrendamento empregado na região pelo fato de ser uma área improdutiva.
Eric nos mostrou uma foto da colheitadeira que estava colhendo milho e marcava 7,5 t/ha e nos disse que na safra anterior marcava o dobro, sendo que a sua região não foi das mais afetadas como muitas outras. Na soja ele espera colher 25% a menos. Na safra anterior ele colheu 55 sacas/ha e nesta deve colher 45 sacas/ha.
Falamos com Eric que estranhamos a quantidade de áreas que estavam a venda nos EUA, e ele nos disse que houve, há poucos anos, um grande aumento do valor das áreas devido à especulação e que depois caíram aos patamares normais de preço. Algumas áreas foram comercializadas a 60 mil dólares o ha e hoje giram em torno de 20 mil, sendo assim muitos especuladores que compraram com a queda do mercado colocaram as áreas à venda, e esta seca pode ter estimulado também alguns produtores a vender.
Ele nos afirmou que naquela região o valor da terra gira em torno de 20 a 30 mil dólares o ha, sendo que isso depende muito do que ela produz. Nos EUA a aquisição de terra tem financiamento de 20 anos com juros de 3,5 % ao ano, mas o que mais tem acontecido mesmo são arrendamentos ou parcerias com produtores que não querem mais ficar no campo. Ele nos contou que tinha 10 vizinhos produtores e que hoje são apenas dois.
O que mais nos chamou a atenção foi quando Eric disse que deve receber mais indenização do seguro que seu faturamento na safra anterior, e nos mostrou a conta: a produtividade média dele nos últimos dez anos é de 11,5 t de milho/ha, ele fez seguro protegendo 85%, sendo assim ele tem assegurado uma produção de 9,7 t/há e espera fechar em 6 t/há devendo receber 3,7 t/ha de indenização - que é a diferença entre o protegido e o colhido. Se multiplicarmos 3,7 t a um preço de 323 dólares para outubro, que é quando ele fez a opção, ele receberá um cheque em sua casa que cobrirá o valor de 1.195 dólares/ha.
Seguimos em frente e as lavouras no estado do Missouri estavam realmente mais afetadas. Algumas áreas já colhidas e outras que talvez nem compense colher. Visitamos mais alguns produtores cuja preocupação como de todos é com a Lei Agrícola Americana que está para ser aprovada e que deve tirar o subsídio que os produtores recebem desde 1950 em sua casa. Eric Rund que planta 350 ha recebeu um cheque de 12 mil dólares por produzir.
A maior preocupação dos produtores com a nova Lei Agrícola é referente ao seguro, uma vez que uma parte do prêmio é subsidiado. Os produtores nos disseram que para cobrir 85% na região de Illinois o custo foi de 105 dólares/ha, dos quais pagou 65 dólares e o governo 40, sendo assim o que eles esperam é que o seguro melhore ainda mais, caso contrário, com uma safra como esta, muitos produtores estariam quebrados.
Claro que em todas as propriedades fazíamos dezenas de perguntas sobre produção, direito ambiental e trabalhista, porém, as questões ambientais e trabalhistas parecem ser palavras gregas para eles. Eles nos disseram que nos EUA o patrão tem deveres, mas o funcionário também tem e que a legislação americana não é assistencialista e nas demais cada um tem sua responsabilidade objetiva, se prejudicar alguém é punido.
No caso de equipamento de segurança, por exemplo, o patrão deixa à disposição do empregado, mas não é multado caso o funcionário não use, nem mesmo se ocorrer um acidente e seja constatada a falta do equipamento. É o funcionário que deve ter a consciência de que precisa usá-lo.
Todos os produtores que visitamos até agora se mostraram muito interessados em saber sobre o Brasil. Questões como qual área vamos plantar de soja, o quanto podemos ainda crescer, se tem mesmo dinheiro chinês sendo investido no Brasil, etc. Respondemos falando do potencial de expansão principalmente em áreas de pastagem e eles nos olham e dizem: ainda bem que a demanda por soja é grande, pois vamos aumentar aqui também, o que leva a refletir no assunto e esperar que continue grande essa demanda.
GLAUBER SILVEIRA é presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) e, juntamente demais componentes da expedição, percorre os estados por meio do Projeto Soja Brasil, uma iniciativa da Aprosoja Brasil e do Canal Rural. Confira outros posts sobre a expedição:
http://blogs.ruralbr.com.br/sojaporglaubersilveira/