Artigos
Por que importamos tanta gasolina?
Autor: Humberto Viana Guimarães
31 Out 2012 - 08:18
Divulgação
A conta petróleo - derivados e petróleo - entre janeiro e agosto do ano em curso, ainda não está negativa devido ao bom desempenho na exportação de petróleo. No período citado, tivemos uma receita de US$ 14,143 bilhões com exportação e um dispêndio de US$ 9,206 bilhões com importações, o que resultou num superávit de US$ 4,936 bilhões (petróleo). No entanto, quando analisamos a conta dos derivados, nos deparamos com um rombo fenomenal. Tivemos uma receita de US$ 7,439 bilhões com exportações e um dispêndio de US$ 11,965 bilhões com importações, o gerou um déficit de US$ 4,524 bilhões. (www.anp.gov.br).
Como já escrevi inúmeras vezes aqui neste Jornal do Brasil, a situação pode se agravar ainda mais como resultado de dois fatores: 1º) a produção de petróleo está caindo a passos largos desde 2010, o que já está provocando menor exportação; e 2º) o aumento cada vez maior na importação de derivados, notadamente a gasolina.
No que toca à produção de petróleo entre 2012 e 2011, considerando o mesmo período (janeiro a agosto), houve um pífio crescimento de 0,37%. O caso dos derivados é algo simplesmente escandaloso. Como resultado de uma política totalmente equivocada e que vai contra qualquer princípio da boa governança, o governo petista desde 2003 engessou a Petrobras e não permite que a empresa aumente o preço dos derivados conforme a métrica internacional. A lógica do governo é o controle da inflação, quando sabemos que o objetivo é meramente político-eleitoreiro; o resto é blá-blá-blá e conversa mole para quem acredita em Papai Noel.
No que tange à importação de gasolina, os números deram um salto surpreendente. Entre 2009 e 2000 (10 anos), importamos um total 3,594 milhões de barris (mb) ao custo de US$ 133,272 milhões (US$ 37,08/b). O número só foi aumentando, sendo que em 2011 importamos 13,754 mb pelos quais pagamos US$ 1,644 bilhões (US$ 119,55/b).
Em 2012, pasmem, prezados leitores! Até agosto, inclusive, já importamos 14,507 mb pelos quais houve um dispêndio de US$ 1,834 bi (US$ 126,45/b), ou seja, em somente oito meses do ano em curso, já importamos 5,47% mais em volume e gastamos 11,56% mais do que em todos os 12 meses de 2011. Um espanto!!!
Esses números absurdos com importação de gasolina são fáceis de explicar, assim como as suas nefastas consequências. Enquanto os custos do etanol tiveram que ser repassados para o consumidor final, já que o mesmo não tem subsídio, o preço da gasolina continuou artificialmente tabelado, não obstante os custos da Petrobras terem aumentado de forma substancial desde 2003 (1T03-2T/12): a extração aumentou 281,30% e o refino, 334,44%. Como o veículo movido a etanol consome 30% mais do que o similar que utiliza o combustível fóssil, o consumidor abandonou o combustível limpo e renovável e correu para as bombas de gasolina, aumentando ainda mais a poluição ambiental e os gastos com importações.
O resultado não poderia ser outro: a paulatina e silenciosa estagnação do setor sucroalcooleiro (não obstante a discurseira governamental em defesa do meio ambiente); desconfiança do mercado internacional em relação à Petrobras no que se refere aos seus planos de investimento, em função da sistemática interferência governamental; os péssimos resultados financeiros da estatal (lucro de R$ 13,44 bilhões até setembro, inclusive, queda de 52% em relação ao mesmo período de 2011, R$ 28,26 bilhões); e a consequente penalização dos acionistas minoritários que veem suas ações (Petr3) serem pulverizadas a cada dia - entre 02/01/2008 e 26/10/2012 tiveram uma desvalorização de 49,02% -, sendo que, desse total, 21,90% desde o início do governo da presidente Dilma (www.petrobras.com.br).
O panorama é sombrio. Mesmo com a entrada do 1º e 2º Trem da Refinaria do Nordeste (PE) em 11/2014 e 05/2015, respectivamente, e o 1º Trem do Comperj (RJ) até 2016 somadas ao parque de refino existente - 12 refinarias que, mesmo depois de várias ampliações, chegaram ao seu limite (2 milhões/b/d) -, a demanda interna de derivados continuará sendo maior do que a oferta.
A minha afirmação é baseada no Plano de Negócios (PN) 2012-2016 da Petrobras, que é bastante claro e objetivo (pág. 76/89) no tocante às demais instalações: "(as refinarias) Premium I (MA), Premium II (CE) e o 2º Trem do Comperj são projetos em avaliação (não serão concluídos antes de 2017)". Portanto, não há a menor possibilidade de que tão cedo tenhamos equilíbrio entre oferta x demanda, fato esse que só acontecerá, na melhor das hipóteses, daqui a 10 anos. Qualquer outra afirmação não passa de demagogia política para engabelar os eleitores incautos!
Em relação à produção de petróleo, o PN (pág. 17/89) prevê 2,500 milhões de barris/dia (mbd) em 2016 e 4,200 mbd, em 2020 (recentemente a Empresa de Pesquisa Energética - EPE) fez uma previsão de 5,400 mbd em 2021). Fiz uma simulação para verificar a possibilidade de se cumprir estas datas e volumes. Para tanto, considerei a produção de 2,105 mbd em 2011 e um crescimento anual médio de 5,88% observado entre 2011 e 2000. O resultado foi o seguinte: a) 2,500 mbd em 2016 são possíveis; b) 4,200 mbd só serão alcançados em 2023; e c) 5,400 mbd só em 2027.
Comentários no Facebook