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Quarta-feira, 04 de dezembro de 2024

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Infraestrutura e Logística: os caça-fantasmas do setor canavieiro

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A 12ª. Conferência Internacional Datagro sobre Açúcar e Etanol, sob o tema “Saindo da crise com produtividade e novas tecnologias”, repetiu sua fórmula de sucesso de edições anteriores, ao congregar representantes de todos os segmentos envolvidos no setor sucro-alcooleiro-energético. Desde autoridades dos Governos Federal e Estadual até representantes dos produtores agrícolas e industriais de todas as regiões produtoras de açúcar e etanol, passando por especialistas internacionais e financeiros, pudemos testemunhar debates – nem sempre amenos – assim como receber informações que escapam do dia-a-dia dos noticiários.

Ninguém desconhece o momento mais que difícil que vive o setor canavieiro. Se voltarmos no tempo, e ele remonta a praticamente o início da vida econômica do Brasil Colônia, percebemos que trata-se de um segmento quase permanentemente vivendo sob o signo da adversidade, da desconfiança de governantes e da população. Os senhores de engenho e seus escravos, seguidos dos coronéis do Nordeste e posteriormente dos usineiros do Centro Sul sempre enfrentaram fantasmas muitas vezes criados por alguns deles próprios ou nascidos de práticas nebulosas ou mal entendidas.

Um período de calmaria recente chegou ao setor entre os anos 2005-08, quando surgiram os heróis do ex-Presidente Lula, que fez do etanol de cana-de-açúcar brasileiro sua bandeira de exemplo do País para o mundo em inovação agrícola e tecnológica aplicados ao momento em que o grande debate internacional estava centrado nas questões de mudanças climáticas e proteção ao meio-ambiente. Mas este período de paz durou pouco. A crise econômica mundial de 2008, ainda hoje vivendo desdobramentos infindáveis, trouxe de volta ao setor este verdadeiro “karma”* que o aflige. O fato é que este momento acabou por apressar um movimento em que o setor industrial concentrou-se em mãos fortes, transferindo-se dos tradicionais usineiros para tradings de commodities agrícolas e a industria do petróleo.

A Conferencia, por um lado, mostrou que a dificuldade que o setor vem enfrentando, inclusive com três safras adversas seguidas por questões climáticas e péssimos resultados, só aumentou as discordâncias que imperam entre os produtores agrícolas independentes, as indústrias e o Governo, com suas tentativas estouvadas de regular o mercado, particularmente o do etanol. Consequência, e percebe-se isto nas apresentações dos representantes do setor financeiro, é a retração de novos investidores e a aversão ao tão necessário desenvolvimento de tão importante setor. Claro também ficou que o déficit que hoje temos está no campo, na produção de cana-de-açúcar. A capacidade industrial instalada está severamente ociosa por conta de falta de matéria-prima.

No entanto, a apresentação feita pelo CEO da Copersucar, Paulo Roberto de Souza, mostrou onde estão os caça-fantasmas que podem vir a – finalmente – mudar a face deste setor estigmatizado: investimentos pesados em infraestrutura e logística. Ações que a Copersucar, sempre pioneira, vem tomando em sua sábia quietude fizeram lembrar o que a Cosan também vem fazendo com suas empresas Rumo (e Radar, na área agrícola): criar condições para diminuir o custo Brasil . Hoje, o custo de “fobização”, ou seja, levar o açúcar branco da usina para dentro de um navio chega a uma média de US$ 80.00 por tonelada, enquanto na India não passa de US$ 23.00 e na Tailândia, de US$ 27.00. Não é preciso dizer como este fator deixa o Brasil, disparado o maior produtor mundial de açúcar, em grande desvantagem comercial, em um momento em que os estoques mundiais são grandes, achatando os preços internacionais. A Copersucar está investindo US$1.5 bilhões para baixar este custo em cerca de 18 por cent0. Um longo caminho a seguir, mas uma detecção clara de que por aí (armazenagem, transporte, diminuição de perdas), mais do que em qualquer outro campo, estão os “ghostbusters” que podem mudar a estrutura e dar estabilidade ao setor canavieiro.

Infelizmente, em particular quando se debate o lado do etanol, suas questões tributárias, os limites impostos pelo preço da gasolina, os percentuais de mistura do anidro e os temas de regulação, o tom geral na Conferência foi de preocupação e frustração. Revelada ficou, apesar de várias tentativas de palestrantes injetarem algum otimismo nos ouvintes, a dimensão da crise que vivemos e que exige esforços conjuntos imediatos e fortes para sua superação. A Conferência atingiu seu objetivo maior, de capturar a foto do difícil momento e apontar caminhos a serem seguidos.
*Karma significa ‘ação’. Literalmente, alguma coisa que inicia um movimento em algum tempo no passado e tem um efeito em algum outro tempo.

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