O crédito de carbono é um enorme mercado a ser explorado, e ainda que tem o incrível potencial de unir diferentes vertentes produtivas e consumidoras. E o Brasil, um dos grandes protagonistas mundiais, tanto em produção agropecuária quanto em preservação ambiental, precisa desburocratizar o acesso a esse gigante adormecido.
Na última semana, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) trazendo as perspectivas sobre as mudanças climáticas e os impactos da humanidade sobre o clima. Os dados chamam a atenção para dois grandes problemas: o aquecimento global e a segurança alimentar.
As alterações no clima, com o aumento da probabilidade de grandes secas e de enchentes devastadoras, expõem a vulnerabilidade da principal atividade econômica primária do mundo, a agropecuária. O chamado escritório a céu aberto, responsável pela produção de alimentos para a humanidade, depende essencialmente das condições da natureza para produzir e culpar o campo pelas mudanças é, no mínimo, irresponsável.
O Brasil tem avançado muito nas áreas de pesquisa e investimentos tecnológicos para o campo e isso tem possibilitado aumentar a produtividade sem a necessidade de abrir novas áreas. Pelo contrário, recuperando áreas degradadas, intensificando a produção e integrando as atividades.
E mais, os sistemas produtivos capazes de neutralizar a própria emissão de carbono, ou até mesmo de compensar de outros sistemas e atividades, estão cada vez mais presentes no agronegócio brasileiro. A carne carbono neutro, por exemplo, é um projeto da Embrapa que já está sendo adotado por produtores, indústrias e redes de varejo para levar ao consumidor uma proteína ainda mais sustentável.
Outro grande exemplo é o plantio direto sobre a palha, um modelo que revolucionou a produção de grãos no Brasil, que além de emitir menos, também sequestra carbono do solo.
Ainda, o setor de biocombustíveis, que é uma fonte limpa de energia, já consegue gerar créditos para compensar a emissão dos combustíveis fósseis. Neste segmento já foram criadas ferramentas para identificar e certificar os produtores e mensurar esse crédito para que seja comercializado.
Podemos citar também a suinocultura, que vem ampliando a utilização de biodigestor para transformar os gases emitidos pelos animais em energia elétrica. Além de ser utilizada nas granjas, essa energia também está sendo comercializada, gerando renda para os produtores e reduzindo os impactos ao meio ambiente.
Não faltam exemplos, pesquisas e iniciativas, mas temos que avançar na construção de uma agenda positiva. O desafio está em regulamentar. Trazer uma metodologia única, aplicável, reconhecida e baseada na ciência para mensurar este mercado, monetizar o trabalho e reconhecer o Brasil como o país que possui o maior ativo ambiental do planeta.
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro consultoria.