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Cana, ferrugem alaranjada e fungicidas
Autor: José Otavio Menten
03 Fev 2015 - 09:59
Não existe a cultura, tradição ou costume de se utilizar fungicidas foliares em cana de açúcar no Brasil. Em algumas culturas como feijão, arroz, trigo, batata, tomate, citros etc. esta é uma prática tradicional. Em outras, como soja, milho e algodão, a aplicação de fungicidas, que há 15, 20 anos era muito pouco utilizada, atualmente é uma prática já incorporada no processo produtivo, com amplos benefícios para o produtor. A cana é uma cultura relativamente rústica, sendo as doenças importantes manejadas, principalmente, pela utilização de variedades resistentes. Utiliza-se, também, mudas sadias ou adequadamente tratadas, roguing, cultivo em áreas favoráveis, etc. Defensivos usados em cana são herbicidas e alguns inseticidas; o controle biológico é bastante utilizados no manejo de insetos - pragas.
Os programas de melhoramento de cana priorizam o desenvolvimento de materiais genéticos com resistência satisfatória aos agentes causais de doenças viróticas (mosaico e amarelinho), bacterianas (raquitismo e escaldadura) e fúngicas (carvão e ferrugem marrom). Em 2009, foi constatado no Brasil o fungo Puccinia kuehnii, agente causal da ferrugem alaranjada. Embora a principal medida de manejo seja a resistência, existem variedades que, apesar de apresentarem boas características agronômicas e industriais (produtividade, bom desenvolvimento em áreas com limitações edafoclimáticas, resistência a outras pragas etc.), permitem o desenvolvimento desta ferrugem. Os danos podem chegar a 25%, de acordo com experimentos e observações preliminares. Importante lembrar que o trabalho de seleção de uma nova variedade em cana leva cerca de 15 anos. Em casos como estes, é interessante lançar mão de outras medidas de manejo que impeçam que a doença atinja níveis de dano econômico e permitam que estas variedades continuem sendo utilizadas. O MIP (manejo integrado de pragas) é um procedimento adotado em todas as culturas. Não é sustentável basear o manejo de doenças em uma ou poucas medidas; o ideal é se utilizar o maior número possível de medidas, simultaneamente ou em sequência. Fungicidas são amplamente empregados em diversos sistemas patógeno - hospedeiro.
Existem fungicidas registrados e com eficiência satisfatória contra o agente causal da ferrugem alaranjada da cana. Diversos experimentos e campos de demonstração estão sendo instalados para avaliar a viabilidade do procedimento. Observações preliminares têm sido promissoras. A incorporação desta nova tecnologia em cana pode contribuir para o aumento do rendimento, que vem se mantendo estagnado há muito tempo. As culturas de grãos, que utilizam fungicidas, vem apresentando constante aumento de produtividade.
A cana é um cultivo agrícola muito importante para o Brasil e mundo. A área a ser colhida na safra 2014/15, no Brasil, deve ser de 9 milhões de hectares, com produção de 642 milhões de toneladas e produtividade de 71. 3 t/ha. É necessário um choque tecnológico na cana de açúcar. Existem diversas inovações sendo disponibilizadas, como o material de propagação: utilização de mudas no lugar dos toletes. A vinhaça, que era um problema hoje é solução; No Estado de São Paulo não se utiliza a queima como método de colheita nas áreas mecanizáveis desde o ano de 2014. É insustentável continuar com os mesmos processos de produção.
Entre estas novas tecnologias, a utilização de fungicidas deve ser analisada com muita atenção e sem preconceitos. Se em quase todos os demais cultivos é uma ferramenta importante e, em alguns casos, indispensável, pode ser bastante útil nesta nova fase de cultivo da cana no Brasil. Certamente, com o surgimento de formulações de fungicidas cada vez mais apropriadas, melhorias na tecnologia de aplicação, posicionamento adequado do produto durante o ciclo da cultura e condições ambientais etc. será possível obter avanços significativos no cultivo da cana de açúcar.
Por José Otavio Menten, Diretor Financeiro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Vice-Presidente da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior (ABEAS), Eng. Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia, Pós-Doutorados em Manejo de Pragas e Biotecnologia, Professor Associado da ESALQ/USP.