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Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

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Além do agro?

O título original, em epígrafe (acima), foi tema de uma live ocorrida em junho pp. (próximo passado), porém, com dois pontos ao final desse título, devido o sub-título MT diversifica as oportunidades de investimentos.

O evento foi realizado em parceria com o jornal Valor Econômico, Chefe do Executivo Estadual, Secretário de Desenvolvimento Econômico e Presidente da FIEMT.

Em síntese, foi mencionado as oportunidades atuais e potenciais do Estado, sendo dito que o Governador é bastante entusiasmado com as oportunidades do turismo e mineração.

No mais, foi mencionado, também, que o governo vem fazendo um esforço para desburocratizar os processos de implantação de novos projetos investivos no Estado.
Portanto, ficamos sob as expectativas em torno das riquezas da terra, devido uma das paixões do governador: turismo e mineração, que, sem dúvida, requererão infraestrutura ambiental, energética e de transportes.

Sendo assim, procurei interrogar neste artigo o "nosso agro", a partir de três indagações: O agro é pop? O agro é tech? E, o agro é tudo?

O agro, no âmbito mundial, proporcionou inúmeras riquezas e processos de acumulação de renda e capital, e foi fator determinante nos processos de crescimento e desenvolvimento econômicos dos países.

Costumo mencionar a economia cafeeira na região de São Paulo, que oportunizou, além da acumulação de capital e financeira, a industrialização natural e primária em torno daquele produto via ensacamento, moagem, torrefação e empacotamento daquele grão e seus derivados.

Outras inovações vieram ao longo dos anos, tais como: café solúvel, café gelado, etc., todavia, percebam que uma outra grande revolução inovativa, após muitos anos, veio com a cápsula de café e as respectivas máquinas/equipamentos para seu consumo.

Em razão disso tudo, não custa relembrar J. L. FRAGOSO, 1990, em participação no livro, História Geral do Brasil, quando alertava que, ... nos períodos de expansão do café, a acumulação produtiva não acompanha a capacidade de acumulação financeira do complexo (cafeeiro). Esse descompasso se traduz na possibilidade de se vir a investir no setor industrial, ou então na aquisição de meios de produção industriais. Assim, esse setor vê a suas condições de reprodução ampliadas.

Continuando com o referido autor, em um segundo momento, entretanto, essa situação se inverte. Respondendo de maneira atrasada aos impulsos dos preços internacionais, inicia-se a ampliação da produção cafeeira. Uma das consequências desse último movimento será a redução da injeção de capitais excedentes do café na indústria. Frente a uma provável tendência à queda da taxa interna de rentabilidade (acentuada pela competição advinda das importações de manufaturados ), o setor industrial responderá acentuando a concorrência intercapitalista.

Por fim, esse autor assevera: Terminada a fase de auge do ciclo, os preços do café caem, podendo prejudicar a indústria. Porém, com a queda dos preços o capital industrial pode se beneficiar, já que tal situação acarreta também a redução das importações de manufaturados.     
   
Importante perceber, que a dinâmica nos dias atuais do agro nacional e estadual são outras, em verdade, essa dinâmica caracteriza-se pela capacidade tecnológica no campo, que responde com a necessidade de mais produção com produtividade, no entanto, as vulnerabilidades de preços das commodities agrícolas hão de ser acompanhadas pela observação rigorosa dos custos de produção, custos de transação, margem e mark-ups de comercialização, escala e escopo mínimos, pesquisa e assistência técnica pública-privado, mercado futuro e gestão tech.

Isto posto, nesse processo de transformação que Mato Grosso se depara, há que se pensar em uma industrialização inovativa, que vá além da agregação de valor em torno, somente, de matérias-primas disponíveis - industrialização primária.

Bem assim, sugere-se que nas políticas estaduais de incentivos fiscais pela industrialização, estimule-se e oportunize recursos fiscais (renúncia fiscal) atrelados, principalmente, a projetos inovadores e a períodos de maturação dos investimentos, dentre outras variáveis micro-macro. Terminado estes prazos, tributos neutros, equânimes e eficazes.

Sem dúvida, com a capacidade produtiva do agro matogrossense existente em torno de 120 mil estabelecimentos de variados portes e tipos de organização empresarial e individual distribuídos pelo vasto Estado e suporteados por maquinários e equipamentos de aproximados mesmos números (IBGE, 2017), o agro é pop, e ele é tech, contudo, não é tudo.

Não é tudo, devido a baixa capacidade de absorção de mão-de-obra direta e ser (inter)dependente da indústria de bens de capital e insumos.

Além do mais, terá que enfrentar a busca pelo equilíbrio entre produtividade, clima, exaustão do solo, defensivos e demanda por alimentos.

Finalizo este retalho econômico com meu respeitado professor D. F. CARVALHO, 1994, que afirma em sua tese de doutoramento: a estabilidade da economia é condição necessária para a manutenção de juros mais adequados ao setor. Há que se evitar o racionamento externo (de recursos, m.n.), por parte do mercado financeiro, contra o crédito rural. Para isso, além do seguro rural, há que pensar a política de preços mínimos como uma política de sustentação da renda dos agricultores para, deste modo, se evitar os riscos de inadimplência dos produtores junto as carteiras de crédito rural.

Ao fim e ao cabo, arremato, ainda, com o "diamante da casa" B. D. PEREIRA, 1995, que diz, em seu livro, Industrialização da Agricultura de Mato Grosso, que, o aumento no nível de renda apropriado pelo agro de Mato Grosso, entrementes, pode ter sido atenuado pela progressão da oligopolização na indústria do País como um todo, posto que, nessas relações intersetoriais, as empresas oligopolistas industriais, de um lado, ao fornecerem máquinas e insumos agrícolas às empresas agropecuárias e, de outro lado, ao comprarem as mercadorias agrárias para processamento, praticam níveis de preços crescentemente influenciados pelo grau de oligopólio industrial.  

Em última rememoração, Adam Smith, (1750), em seu seminal livro para Ciência Econômica, A Riqueza das Nações (título resumido), já recomendava a harmonia econômica entre os setores produtivos, pois, isso, levaria ao bem-estar, tanto no campo como na cidade.

Por isso, arrisco em dizer que, quanto mais se diversifica uma economia, mais se equilibra o poder político. Ademais, seria uma boa que em 2022, no âmbito estadual,  viesse uma tríade nova na política, representada pelas destacadas personalidades deste Estado atuantes em melhorias vistas a olhos sem lente nos setores de energia, saneamento e ferrovia de Mato Grosso.

Ernani Lúcio Pinto de Souza, 59, economista da UFMT, especialista em DRH pela MEC/BID/UFAL, ms. em Planejamento do Desenvolvimento pela ANPEC/UFPA/NAEA. Foi vice-presidente do CORECON-MT.(elpz@uol.com.br)
 
   

 
 
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