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Embrapa antevê descompasso entre consumo e produção de alimentos
SOU AGRO
Até 2050, ano em que o número de habitantes na Terra deverá chegar a nove bilhões de pessoas – hoje somos em torno de sete – haverá um descompasso entre crescimento populacional e capacidade de produção de alimentos.
A população vai crescer em áreas com níveis baixos de produtividade agrícola, o que abre uma janela de oportunidades [e também uma série de desafios] para que o agro brasileiro se consolide realmente como celeiro do mundo.
Este foi o principal recado da palestra do presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Maurício Antônio Lopes, realizada na semana passada [quarta-feira, 26), em São Paulo, após a instituição ser homenageada pela Sociedade Rural Brasileira pelo seu 40º aniversário.
Segundo Lopes, a maior parte do crescimento populacional é esperado na África Subsaariana e na Ásia, regiões marcadas por baixa renda e produção agropecuária limitada. Com base no seu sistema de monitoramento de tendências chamado “Agropensa”, a Embrapa estima que nos próximos 35 anos, a África Subsaariana responderá por 49% do aumento populacional do planeta, seguida pela Ásia com 41%, América do Sul (7%) e Estados Unidos (4%). Por outro lado, a Europa terá queda populacional de 1%.
Por outro lado, a instituição já constatou que o crescimento da produtividade dos principais cereais [milho, arroz e trigo] está em declínio. “Já se observa uma ‘fadiga’ dos métodos convencionais de elevação de produtividade”, assinalou Lopes. “Diante deste quadro, falar mal da biotecnologia [como alavanca para produção de alimentos] é uma afronta ao futuro.”
Na avaliação do presidente da Embrapa, como a distribuição da população mundial por região não vai acompanhar a distribuição de terras aráveis e a capacidade de produzir alimentos, o comércio agrícola vai aumentar, o que fará crescer também os riscos de contaminação biológica. Diante deste cenário, ganharão corpo questões como segurança sanitária, rastreabilidade e certificações.
Ameaças e tendências
De acordo com Lopes, estresses térmicos e hídricos [mudanças climáticas] tenderão a se intensificar nos trópicos, acarretando em migração de culturas agrícolas. Segundo ele, a agricultura ainda depende muito de energia fóssil, e precisa mudar isso.
Na visão do presidente da Embrapa, a automação de processos é uma necessidade do campo, com foco em ganhos de eficiência e produtividade. “E ao contrário do senso comum, que fala de desemprego, a automação vai, na verdade, reduzir a penosidade do trabalho na agricultura, e assim funcionar como um imã para atrair mais jovens.”
Lopes enfatiza que a agricultura será, cada vez mais, pressionada na direção da multifuncionalidade, ampliando seu escopo de produção para além de alimentos, energia e fibras. “Será preciso dirigir esforços também para produtos agrícolas voltados à saúde, química verde, biomateriais, serviços ambientais e assim por diante. Passaremos a falar cada vez mais de segurança nutricional do que alimentar.”