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Frigoríficos esperam margens melhores
Alda do Amaral Rocha | Valor
As empresas brasileiras de carnes compartilharam, no último ano, de um problema comum: a pressão sobre as margens. Mas as razões para a pressão foram diferentes. A alta dos grãos no mercado internacional em 2012 foi o calcanhar de aquiles de empresas que atuam em aves e suínos, que tiveram de repassar ao menos parte da alta de custos aos preços. Mas as dificuldades de integrar novas operações e reabertura de unidades, para algumas empresas, também afetaram desempenhos.
No que depender dos grãos, o cenário deve melhorar para os custos este ano, já que após a forte seca nos EUA, em 2012, parte dos estoques de milho (principal insumo da ração de aves e suínos) devem ser recompostos no ciclo atual, estimam analistas e companhias. Já colher resultados de integrações e novas unidades é uma tarefa que as empresas terão de continuar a enfrentar este ano.
A Marfrig Alimentos é o exemplo de companhia que foi afetada pelos dois problemas. Sua divisão Seara Foods foi prejudicada pelo processo de integração dos ativos adquiridos da BRF, conforme explicou a empresa na divulgação de seus resultados de 2012. Além disso, a alta dos grãos também pesou. Com isso, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da divisão caiu 55,1% no quarto trimestre em relação ao mesmo período de 2011, para R$ 141,8 milhões. A margem Ebitda caiu de 8,9% para apenas 3,1%.
Considerando a Marfrig como um todo, o resultado líquido foi um prejuízo de R$ 284,2 milhões no quarto trimestre, o que a empresa atribui sobretudo às dificuldades na integração dos ativos que eram da BRF. Segundo a empresa, esses ativos aumentaram a necessidade de capital de giro da Marfrig em cerca de R$ 350 milhões sem uma resposta esperada em faturamento, já que as fábricas adquiridas da BRF ainda trabalham com capacidade ociosa.
Diante desse quadro, o Ebitda da Marfrig caiu para R$ 405,9 milhões no quarto trimestre de 2012, um recuo de 22,1% sobre o mesmo intervalo um ano antes. Já a margem Ebitda também teve forte queda. Foi de 6,0% no último trimestre do ano passado ante 9,4% um ano antes.
No caso da JBS, o desempenho, de forma geral, foi melhor no último trimestre de 2012 do que em igual intervalo de 2011. Mas a performance do último trimestre foi mais fraca que nos intervalos anteriores. As margens Ebitda da divisão Mercosul, por exemplo, caíram de 14,5% no terceiro trimestre de 2012 para 12,6% no quarto. O Ebitda da divisão foi de R$ 664 milhões no período, 63,1% acima de igual intervalo de 2011. Segundo a empresa, a margem da operação caiu de um trimestre para outro em decorrência da reabertura de unidades de abate de bovinos no Brasil no ano que passou, o que significa custo adicional.
Já a divisão USA Frango, onde está a mais importante operação de aves da JBS, teve Ebitda de US$ 67,4 milhões no quarto trimestre, quase 200% mais do que em igual período de 2011, mas 36,2% menor que no trimestre anterior. A margem Ebitda do segmento, onde os grãos são matéria-prima fundamental, foi de 3,1% no quarto trimestre e de 5,1% no trimestre anterior.
A divisão USA Carne Bovina também teve suas margens achatadas no último trimestre de 2012. Nesse caso, a perda ainda refletiu a baixa oferta de gado bovino nos EUA, cenário oposto ao do Brasil, onde o ciclo da pecuária é de alta. O Ebitda da unidade foi de US$ 103 milhões nos últimos três meses de 2012, uma queda de 53,8% em relação a igual trimestre de 2011. Já a margem Ebtida desabou, saindo de 5% no quarto trimestre de 2011 para 2,1% no último trimestre do ano passado.
A operação da JBS como um todo registrou um Ebitda de R$ 1,170 bilhão no último trimestre, ganho de 24,5% na comparação com o quarto trimestre de 2011. Já a margem Ebitda caiu na mesma comparação. Foi de 5,6% no último trimestre de 2011 e de 5,4% no quarto trimestre do ano passado, depois de ter alcançado 7,1% no terceiro trimestre.
Ainda que seu desempenho no último trimestre de 2012 tenha sido favorável, a alta dos custos de produção por conta da elevação dos preços dos grãos afetou o ano da BRF, a empresa resultante da união entre Perdigão e Sadia. A cessão de ativos e a suspensão de marcas, por conta do acordo com o Cade para aprovar a fusão, também impactou os resultados em 2012, admitiu a companhia.
O lucro líquido no último trimestre de 2012 foi de R$ 563 milhões, um aumento de 365% sobre igual período do ano fiscal. No ano, contudo, o lucro líquido caiu 41%, para R$ 813 milhões. Já o Ebitda da empresa cresceu 16% no último trimestre de 2012 na comparação com igual período do ano anterior, para R$ 850 milhões. Mas em todo o ano, o indicador caiu 19% sobre 2011, para R$ 2,348 bilhões. A margem Ebitda no trimestre foi de 10,4% (ante 10,3% do mesmo trimestre do ano anterior). No ano, contudo, teve queda de 3 pontos percentuais, para 8,2%.
Mas a desvalorização cambial também influenciou resultados no segmento. A Minerva Foods, a terceira maior em carne bovina do Brasil, registrou perda de R$ 199 milhões em 2012, ante lucro de R$ 41 milhões em 2011. Segundo a empresa, a desvalorização cambial no ano passado teve impacto de R$ 245 milhões no balanço. No último trimestre de 2012, houve prejuízo líquido de R$ 21,8 milhões, ante lucro de R$ 15 milhões no último trimestre de 2011, por conta da reversão de um crédito de Imposto de Renda.
Já o Ebitda no quarto trimestre ficou em R$ 145,1 milhões, 18,8% mais do que no último trimestre de 2011. A margem Ebitda da Minerva no quarto trimestre foi de 12% - havia sido de 11,2% no mesmo intervalo do ano anterior.