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Apesar do mercado aquecido, pecuária argentina definha
Leonardo Gottems - Agrolink
Um curioso fenômeno é percebido na pecuária argentina nos últimos quatro anos: quanto mais os mercados internacionais melhoram a demanda e os preços pagos pela carne, menos os exportadores do país vizinho conseguem vender. Reportagem do jornal La Nación constata que, apesar de ser mundialmente reconhecida pela pecuária, a Argentina observou um declínio na quantidade de estoques de 13,7% entre os anos de 2008 e 2012, passando de 57,6 para 49,9 milhões de cabeças no ano passado.
“O país hoje está vendendo basicamente carne de gado com osso. Os produtos industrializados enfrentam problemas de competitividade e acesso ao mercado norteamericano”, explica Miguel Jairala, analista econômico do IPCVA (Instituto de Promoción de la Carne Vacuna). A Argentina despencou de terceiro maior exportador mundial de carne, em 2005, para o modesto 11º lugar em apenas sete anos.
Enquanto isso, o Brasil firmou-se na primeira posição, registrando uma melhora de 32% no preço da tonelada exportada, passando de US$ 2.500 para US$ 3.300 nos últimos quatro anos. Nesse mesmo período, as vendas externas argentinas de carne (fresca, resfriada, congelada, miúdos e processados) caíram 40,94%.
ORIGEM DA DECADÊNCIA
Dois grandes fatores são apontados como causa do problema: a política oficial intervencionista do governo Cristina Kirchner e a estiagem no ano de 2009. O resultado disso, segundo estatísticas do próprio Ministério de Agricultura, é uma diminuição na ordem de 20,5% na atividade local. A Ciccra (Cámara de la Industria y Comercio de Carnes y Derivados) aponta que, desde 2006, foram fechados nada menos que 121 frigoríficos.
O início da derrocada teve um marco. Em 8 de março de 2006, o ex-presidente Néstor Kirchner y seu secretário de Comércio Interior Guillermo Moreno suspenderam as exportações de carne por seis meses. Na época, a justificativa era a de “combater a inflação e proteger a mesa dos argentinos”, devido ao aumento de preços nos açougues.
A suspensão sufocou o mercado exportador, mas a intervenção não deu resultado. Entre 2006 e 2009, o preço médio do quilo de carne subiu 44% para o consumidor final, e até o ano passado, bateu os 167%.