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Notícias / Agronegócio

No Paraná, mais produtivos que os americanos

Patrícia Ikeda - Exame

 Quem caminha pelos verdes campos ao redor do distrito de Entre Rios, no município paranaense de Guarapuava, 250 quilômetros a oeste de Curitiba, mal consegue imaginar que um dia se pensou que ali não daria nem planta brava. Entre Rios foi formado em 1951 por 500 famílias de alemães, originárias da região da Suábia, que se refugiavam de comunistas do Leste Europeu.

Dez anos depois, com a frustração das colheitas, metade desses imigrantes já havia se espalhado pelo mundo em busca de terras mais férteis. Quem ficou se deu bem. Hoje, a produtividade das principais culturas das fazendas de Entre Rios — soja e milho, no verão, e trigo e cevada, no inverno — é maior não só do que a média brasileira como também superior à americana.

No ano passado, foram produzidas 848 000 toneladas de grãos. A colônia alemã atualmente tem 12 000 habitantes e se organiza ao redor da Agrária, cooperativa fundada desde a chegada dos imigrantes. A Agrária obteve faturamento de 1,3 bilhão de reais e lucrou 39 milhões em 2011.

Com sotaque carregado e recorrendo algumas vezes ao dicionário, a alemã Marietta Jaster, de 77 anos, conta a obsessão de seu marido, o agrônomo Franz Jaster, durante o período que viveu na colônia: “Produzir mais em menos tempo”. Jaster foi contratado em 1977 pela Agrária e lá trabalhou até o ano passado, quando morreu. “Ele plantava diferentes sementes de centeio e de milho”, diz Marietta. “Depois da colheita, contava grão por grão e pesava para saber qual tipo de semente tinha produzido mais.”

A obsessão de Jaster era um reflexo do trabalho duro de toda a comunidade de agricultores alemães. “As terras eram pouco férteis e ácidas. As primeiras pesquisas começaram no final da década de 60”, diz o pesquisador Celso Wobeto, da Fundação Agrária de Pesquisa Agrope­cuária, entidade mantida pela coope­rativa. Ao longo das décadas, houve um esforço dos imigrantes para preservar a cultura e a língua alemãs, que ainda predominam na colônia.

“Por outro lado, as portas ficaram abertas a empresas, institutos de pesquisa e universidades”, diz Jorge Karl, presidente da Agrária. No início de 1970, a Embrapa realizou os primeiros estudos para o cultivo da cevada nas terras dos colonos, em parceria com as antigas cervejarias Antarctica e Brahma, que hoje constituem a Ambev. Poucos anos depois, a Agrária fez os primeiros testes com a soja.

A estreita relação mantida com a Alemanha permitiu ainda que, na década de 80, a cooperativa criasse uma estação de pesquisa com doações de máquinas europeias de última geração. A Embrapa também fez experimentações de trigo e, posteriormente, introduziu a técnica de rotação de culturas, em conjunto com instituições como o Instituto Agronômico do Paraná e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

As primeiras avaliações com o milho foram feitas pelo setor privado e, hoje, empresas de sementes, como Pionner, Syngenta e Monsanto, possuem áreas de pesquisa em Guarapuava. O cultivo do milho pelos imigrantes em Entre Rios é um fenômeno: eles obtêm 11 toneladas por hectare por ano, duas vezes e meia a produtividade média nacional e superior à dos Estados Unidos nesse grão.

O resultado foi possível graças ao aprimoramento das técnicas e ao uso de insumos mais adequados à região. O agricultor e filho de alemães Wolfgang Müllerleily, de 50 anos, não esconde o sentimento de satisfação. “Lembro que, aos 15 anos, cheguei à lavoura após uma chuva e vi toda a plantação destruída pela erosão”, diz Müllerleily. “Agora estamos mais prontos para os imprevistos do tempo. Neste ano, apesar da seca, tivemos uma colheita satisfatória. O pouco de chuva que houve, a terra preparada absorveu.”
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