O Observatório de Política Fiscal, da Fundação Getúlio Vargas, divulgou um estudo, realizado pelo economista Sérgio Wulff Gobetti, que mostra o crescimento dos rendimentos da população super rica do Brasil, principalmente nos estados onde a economia é dominada pelo agronegócio, como Mato Grosso. Conforme apurado, a renda da elite do 0,01% dos brasileiros cresceu nominalmente 96% no período de cinco anos, com uma renda média acima de R$ 2,1 milhões.
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Em Mato Grosso, a renda média da população super rica, composta por 294 pessoas, foi acima de R$ 2,7 milhões, com um aumento real de 115%, descontando a inflação (IPCA), de 31,4% entre 2017 e 2022. No Brasil, a variação foi de 49%, enquanto entre os mais pobres e a classe média, foi de apenas 1,5% em média.
“Essas evidências indicam que a concentração de renda cresceu significativamente no período analisado, depois de uma década de relativa estabilidade da desigualdade. E não se trata de qualquer aumento de concentração, mas de um aumento significativo, visto que, como ressaltamos, a renda da base da pirâmide (95% na população adulta, na verdade) permaneceu semi-estagnada em termos reais, enquanto a dos mais ricos cresceu a ritmo chinês”, diz trecho do estudo.
Os estados com maiores taxas médias de expansão, acima da inflação, na renda dos super ricos foram verificados em Mato Grosso do Sul (131%), Amazonas (122%), Mato Grosso (115%) e Rondônia (106%).
O estado em que a “elite” teve o pior desempenho foi o Ceará (20% em termos nominais ou -9% em valores reais), seguido por Pará (4%) e Rio de Janeiro (12%).
“O fato dessas taxas serem maiores nos estados em geral dominados pelo agronegócio (além de Amazonas) não é mera coincidência, uma vez que verificou-se no período analisado (2017-2022) um crescimento extraordinariamente alto da renda da atividade rural, principalmente nos estratos mais ricos, em que esse tipo de rendimento (isento de tributação na sua maior parte) cresceu acima de 220% (ou 140% em termos reais)”, traz o estudo.
Os estados com maior desigualdade de renda foram Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás. Veja na tabela abaixo:
“Em resumo, as análises com base nos dados do IRPF oferecem fortes evidências de que a concentração de renda no topo cresceu significativamente no período recente, destoando do ocorrido na década anterior pelo menos, mas ao mesmo tempo indica que o crescimento da renda no topo apresenta fortes diferenças regionais, tendo sido mais pronunciado em estados cuja economia, em geral, é dominada pelo agronegócio. E isso ocorreu num período em que a renda média do brasileiro apresentou uma das piores performances das últimas décadas, dada a estagnação do valor real dos salários e de outros indicadores”, finaliza Gobetti.