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Iniciativa premiada pela ONU pretende transformar o extrativismo no Estado mais sustentável

Da Redação - Vinicius Mendes

O Centro de Desenvolvimento Agroecológico (CEDAC), instituição apoiada pelo Programa REM MT (do inglês, REDD para Pioneiros), ganhou no final do mês passado o 12° Prêmio Equador das Organizações das Nações Unidas (ONU). A conquista foi pela trajetória da instituição que ao longo das últimas duas décadas fortaleceu a comercialização de produtos orgânicos e sustentáveis através de uma rede nacional de famílias agroextrativistas, a CoopCerrado. Agora, o CEDAC traz essa experiência para Mato Grosso ao desenvolver trabalho semelhante com 150 famílias rurais da região Nordeste do Estado. 

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De acordo com a coordenadora técnica do CEDAC, Alessandra Karla da Silva, o objetivo do projeto em Mato Grosso é "promover o fortalecimento de cadeias sociobioprodutivas baseadas no agroextrativismo sustentável no Cerrado". E isso se dará através da organização comunitária de agricultores familiares e retireiros dos municípios de Luciara, Alto Boa Vista, Serra Nova Dourada, São Félix do Araguaia e Cocalinho.

A coordenadora do CEDAC observa que nesses municípios vigora a lógica da agricultura e pecuária extensiva. Dessa forma, o trabalho vem no sentido de inverter esse método de produção, através da sustentabilidade e com a manutenção do Cerrado em pé. "A ideia é que essas famílias passem a produzir de forma orgânica e agroecológica, sem o uso de agrotóxicos", destaca 

Na produção, as famílias irão trabalhar no cultivo e também no extrativismo de quatro espécies nativas do Cerrado mato-grossense: o Baru (ou Cumbaru), Pequi, Jatobá e Babaçu. Karla acrescenta que depois que as 150 famílias estiverem inseridas na lógica orgânica e sustentável, o próximo passo será credenciá-las na CoopCerrado [A Cooperativa Mista de Agricultores Familiares, Extrativistas, Pescadores, Vazanteiros, Assentados e Guias Turísticos do Cerrado].

"Essa é a principal essência da CEDAC: fazer com que as comunidades rurais completem todo o ciclo da cadeia produtiva. Isso significa oferecer assistência técnica para a produção sustentável e agroecológica. Certificar os produtores e as produtoras com o selo de alimento orgânico. E, por fim, inseri-los na rede da CoopCerrado, que oferece um mercado amplo com inúmeras possibilidades de vendas", conclui Karla. 

Mudando a lógica de produção

Além do manejo sustentável, também será realizado o plantio dessas espécies como forma de recompor a mata nativa, que historicamente foi bastante degradada em algumas propriedades que participam do projeto. Só de Baru serão plantados cerca de 70 mil pés ao longo do projeto, que terá a duração de dois anos.

"É importante destacar que o plantio é uma forma de gerar o enriquecimento do bioma, com a cobertura vegetal, e também garantir renda e emprego às famílias do Cerrado, que na maior parte dos casos estão envolvidas com produções voltadas à pecuária extensiva, pecuária leiteira e hortícolas", pontua Karla. 

Além disso, ela reforça que o projeto irá promover a integração de diferentes culturas de produção do campo, como o extrativismo, a pecuária e a agricultura. Esse trabalho será desenvolvido por meio de SAFs (Sistemas Agroflorestais), cujo objetivo é produzir alimentos em harmonia com a natureza, recuperando e mantendo o Cerrado em pé. 

REM MT

A iniciativa do CEDAC junto às famílias rurais da região Nordeste de Mato Grosso foi contemplado em meados do ano passado pelo edital de financiamento de projetos do Programa REM Mato Grosso (do inglês, REED para pioneiros), dentro do Subprograma Agricultura Familiar e de Povos e Comunidades Tradicionais (AFPCTs/REM MT). O REM MT é uma premiação financeira que o Estado recebeu dos governos da Alemanha e do Reino Unido pelos bons resultados no combate ao desmatamento florestal. 

O Programa investe cerca de R$ 1,5 milhão no projeto de agroextrativismo do CEDAC. Por conta da pandemia, que suspendeu boa parte das atividades de campo, o projeto só começou a ser implantado efetivamente a partir de janeiro deste ano. 

"Nós já fizemos uma série de levantamentos e diagnósticos das propriedades. Agora o próximo passo é iniciar o enriquecimento da região com o plantio das espécies nativas (baru, pequi, jatobá e babaçu), depois a implantação dos Sistemas Agroflorestais e em seguida a preparação para a certificação do extrativismo sustentável orgânico integrado a Coopcerrado", elenca Karla.

Prêmio da ONU

No final de outubro passado, a CoopCerrado foi agraciada com o 12° Prêmio Equador, no valor de R$ 10 mil, conferido pela Organização das Nações Unidas (ONU). A cooperativa foi reconhecida entre mais de 600 indicações de 126 países por usar o marketing criativo de dezenas de produtos orgânicos de origem sustentável do Cerrado. 

"Trata-se de um reconhecimento pela capacidade que a cooperativa tem de, por meio de uma grande rede, oferecer condições logísticas e mercado para vender os produtos dessas comunidades rurais", acrescenta Karla. 

Ela conta que a CoopCerrado foi fundada em 2002, em Goiânia(GO), a partir das discussões de 60 famílias inseridas no CEDAC, que sentiram a necessidade de criar uma rede agroextrativista com capilaridade pelo país. Atualmente a cooperativa abrange mais de 4.600 famílias rurais em Minas Gerais, Bahia, Tocantins e em Mato Grosso. 

"Um trabalho que começou lá nos anos 2000, com a fundação do CEDAC, que na época contava com poucas famílias. Dois anos depois sentimos a necessidade de criar a  CoopCerrado. A iniciativa não parou de crescer e hoje nós somos milhares. Então esse prêmio é da CEDAC também", comemora Karla. 

Os produtos vendidos pela CoopCerrado estão nas prateleiras das principais redes de mercados do país, a exemplo do Grupo Pão de Açúcar. A cooperativa também atua no mercado exterior, com compradores principalmente nos Estados Unidos e em países Árabes.
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