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Área de algodão cresce, mas número de produtores segue restrito; lucro é até 30% maior que o de soja, segundo especialista

Da Redação - André Garcia Santana

Complexidade de produção, altos investimentos e maior sensibilidade a doenças. Estes são alguns dos desafios apresentados pela cultura do algodão, especialmente se comparada à soja. Os mesmos fatores que mantém restrito o número de produtores no país, que conta com aproximadamente 300, garante rentabilidade até 30% maior do que a do grão, o que possibilitará aumento de 23,3% na produtividade da pluma para a próxima safra. O cenário foi analisado pelo gerente de território da Basf em Cuiabá, Alexandre Kurosaki, durante o 11º Congresso do Algodão, em Maceió – AL, na última semana.

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Em Mato Grosso, líder isolado com 63% do total da produção nacional, os produtores já deram início ao planejamento pra safra 2017/18, que começa a ser plantada em janeiro. Aliada a questões climáticas, a recuperação do mercado, atribuída em grande parte aos estoques internacionais, principalmente o da China, tem animado os agricultores, que devem expandir a área plantada em 15% no Estado. Diante disso, negociações para safra futura e aumento na aquisição de defensivos já foram registrados pela Basf.
O 11º CBA foi realizado entre os dias 29 de agosto e 1 de setembro.
“A safra, que vai de setembro a outubro, ocupa mais ou menos 10% da área plantada no Estado, enquanto a segunda safra, que vem imediatamente após a soja e corresponde aos outros 90%. Nessa cotação de defensivos já constatamos um grande aumento na demanda. Vendemos mais que pra safra passada. Parte disso acontece por conta do aumento de área, então os produtores já estão planejando, porque os preços estão muito atrativos, se recuperaram muito bem”, explica Alexandre, que também é agrônomo.

De acordo com ele os valores não estavam muito atraentes e, como o investimento na cultura é muito alto, muitos vinham reduzindo suas área aos mínimos. “Mato Grosso não reduziu tanto porque os produtores têm maquinário e compromissos que não dá pra simplesmente abandonar. Além disso, a segunda opção, nesse caso, é o milho, que também não está com o preço tão bom. Inclusive temos observado muitos produtores que pararam e estão voltando agora.”

É o caso Jorge Picinini.  Em Campo Verde (100 km de Cuiabá) desde 1984, quando começou plantando arroz e soja, ele aderiu à pluma em 2002, tendo interrompido a atividade em 2014, por conta do cenário mercadológico. Dentre os impedimentos que pesaram na decisão estava o baixo preço do dólar na época. “Eu vendia por U$ 25 até R$30 a arroba, mas há dois anos caiu pra U$ 22. Agora deu uma valorizada e resolvi voltar. Isso também foi necessário por causa da rotação de cultura e porque quero ter mais um produto pra vender”, disse ao Agro Olhar.

Habituado a cultivar de 800 a 1000 hectares, este ano ele vai manter a meta, pensando também na rotação de cultura. “Até pra evitar o problema de nematóide, pra fazer um manejo melhor.” A comparação entre a pluma e o grão volta ao centro do debate: “é um investimento de risco menor. O algodão você investe muito e se algo der errado por conta do clima, por exemplo, o prejuízo é muito maior. O serviço também é muito mais complexo. As aplicações [de defensivos], não saem com menos de 24/25, já a soja sai com quatro ou cinco aplicações.”

Cresce a área plantada, mantém-se o número de produtores

Dos já mencionados poucos produtores do Brasil, Mato Grosso concentra 80% do número. A explicação está na viabilidade econômica e climática do Estado, que oferece diversos incentivos ao setor. “O estado é atrativo economicamente, até por sua própria vocação em produzir algodão, apresentar excelente clima em várias regiões, tem maquinário disponível, tem conhecimento disponível, não é necessário importar ninguém pra ensinar a fazer algodão, pelo contrário. Então a perspectiva é que o mercado continue crescendo”, diz o agrônomo.

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Os grupos também se concentram muito também por questão de conhecimento. “Quem já planta o algodão é que vem crescendo, são poucos os entrantes. Tem alguns aspectos que contribuem para que esse número se mantenha baixo. Um deles é a própria complexidade da lavoura, que demanda um esforço técnico muito maior que o da soja.” No grão a aplicação de fungicida é de três a média, enquanto que na pluma é de oito, por exemplo.

Outro fator importante é o custo. Hoje um hectare de soja equivale a mais ou menos R$ 3mil reais de investimento, enquanto que o de algodão varia entre R$ 8 e R$10 mil. Além disso os maquinários são específicos, tanto para a colheita quanto para o beneficiamento. “São coisas que acabam impedindo novos entrantes para a cultura. Se o produtor não domina essa área, ele não vai querer arriscar. No caso do maquinário, o que é usado na produção algodoeira é exclusivo, diferente do milho e da soja que servem um para o outro.”

Por outro lado a pluma por hectare rende muito mais que o grão, podendo apresentar rentabilidade até 30% maior, a depender do ano. “É proporcional ao investimento. O rendimento de um hectare de algodão é três vezes o da soja.A palavra chave é planejamento pro produtor que quer começar no algodão. Tem que se estruturar a longo prazo, tanto na questão de solo quanto de financiamento, crédito, pessoas. Não é um projeto que você entra e sai rapidamente. O algodão não permite isso.”


Despesas estimadas com a soja em MT
 

Fonte: Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (IMEA) - Boletim do dia 8 de agosto.
 
Despesas estimadas com algodão em MT

Fonte: Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (IMEA) - Boletim do dia 8 de agosto.
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