O secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Eumar Novacki, voltou a reiterar neste final de semana que a pasta federal apoia a investigação da Polícia Federal quanto à operação "Carne Fraca", porém não concorda com o modo como as informações foram divulgadas. Na avaliação de Novacki, a polícia fez um grande alarme para um problema pontual uma vez que das quase 5 mil unidades frigoríficas/industriais com Selo de Inspeção Federal (SIF) do Brasil, apenas 21 estão sendo investigadas e que só três foram interditadas.
Neste final de semana três funcionários da Consultoria Jurídica do Ministério da Agricultura seguiram para Curitiba (PR) com o intuito de obterem laudos periciais dos produtos relacionados na operação, como os que comprovariam as fraudes nos três frigoríficos fechados nesta sexta-feira (17). A viagem foi uma determinação do ministro Blairo Maggi. Conforme o Ministério, o processo tem 350 páginas.
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A reportagem do
Agro Olhar tentou contato com a Polícia Federal em Curitiba (PR), onde as investigações foram realizadas, porém não obteve sucesso.
Entre sexta-feira, 17, e sábado, 18, diversos países solicitaram explicações do governo brasileiro quanto às fraudes e irregularidades apontadas pela Polícia Federal na operação "Carne Fraca", como adulteração em alimentos como salsicha e mortadela, além de frango. Além da União Europeia, entraram com pedidos de esclarecimentos, os Estados Unidos, China, Arábia Saudita e Malásia.
Neste domingo, 19, o presidente Michel Temer e o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, se reúnem às 17h (horário de Brasília) com embaixadores de países importadores de carne brasileira com o objetivo de prestar esclarecimentos.
Durante coletiva de imprensa na sexta-feira, 17, Novacki observou que o corpo técnico do Ministério da Agricultura é altamente qualificado e que o sistema de inspeção federal é robusto, sendo submetido a avaliações constantes, incluindo as de autoridades sanitárias estrangeiras por parte de 150 países importadores de carnes brasileiras.
A operação da Polícia Federal denominada "Carne Fraca" foi deflagrada na manhã desta sexta-feira, 17 de março, em sete Estados (São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás), com o objetivo de desarticular organização criminosa liderada por fiscais agropecuários federais e empresários do agronegócio.
Na sexta-feira o secretário-executivo do Ministério, Eumar Novacki, revelou que intervenções da pasta ocorreram no frigorífico da BRF de Mineiros (GO), de abate de frangos, e nas unidades da Peccin em Jaraguá do Sul (SC) e em Curitiba (PR), que produzem embutidos (mortadela e salsicha). Quanto aos 33 servidores do Ministério, Novacki salientou que estão sendo abertos processos administrativos e que os mesmos foram afastados de suas funções.
Novacki ainda salientou que as primeiras denúncias que culminaram a operação "Carne Fraca" ocorreram há quase sete anos e que há dois anos foram iniciadas as investigações.
A operação
A operação Carne Fraca é considerada a maior já desarticulada pela Polícia Federal. Estiveram envolvidos na ação aproximadamente 1100 policiais federais no cumprimento de 309 mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão, em residências e locais de trabalho dos investigados e em empresas supostamente ligadas ao grupo criminoso.
As ordens judiciais foram expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba (PR). Gravações telefônicas divulgadas obtidas pela Polícia Federal e divulgadas nesta sexta-feira, 17 de março, apontam que vários frigoríficos nos Estados investigados comercializavam carne estragada tanto para o mercado interno quanto para o mercado externo.
Em torno de 30 empresas frigoríficas estão envolvidas na operação "Carne Fraca". Entre as empresas, segundo documentos divulgados pela Polícia Federal, estão a BRF, que controla as marcas Sadia e Perdigão, e a JBS, além de frigoríficos pequenos das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
De acordo com a Polícia Federal, agentes públicos utilizando-se do poder fiscalizatório do cargo, mediante pagamento de propina, atuavam para facilitar a produção de alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva.
As investigações ocorreram durante dois anos e dentre as ilegalidades praticadas no âmbito do setor público, denota-se a remoção de agentes públicos, com desvio de finalidade para atender interesses dos grupos empresariais. Conforme a Polícia Federal, tal conduta dos agentes públicos permitia a continuidade delitiva de frigoríficos e empresas do ramo alimentício que operavam em total desrespeito à legislação vigente.