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Indústria recua 2,5%, a maior queda para fevereiro da série histórica

Anay Cury e Cristiane Caoli/Do G1 em São Paulo e no Rio

A produção da indústria recuou 2,5% em fevereiro na comparação com o mês anterior, segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (1º). É o pior resultado desde dezembro de 2013. Considerando apenas o mês de fevereiro, é a maior queda da série histórica, que teve início em 2002.

“O patamar que a indústria opera nesse momento é um patamar que muito se assemelha ao de dezembro de 2008 [ano da crise financeira mundial], onde claramente a produção industrial mostrava um ponto mais baixo da sua série histórica. O dezembro de 2008 acaba sendo o ponto mais baixo daquele ano no patamar de produção", disse André Macedo, gerente de indústria do IBGE.

Nos dois primeiros meses do ano, o setor já acumula queda de 11,8%. Nos últimos 12 meses, a baixa é um pouco menor, de 9%. Mesmo assim, é a queda mais forte desde novembro de 2009 quando atingiu 9,4%.
“O resultado de fevereiro, além de mostrar queda mais intensa desde dezembro de 2013, mostra uma frequência de perfil disseminado de taxas negativas entre as grandes categorias econômicas e as atividades investigadas”, analisou Macedo.

De janeiro para fevereiro, a maioria dos segmentos da indústria mostrou resultados negativos. Como observado no ano passado, a produção de veículos automotores, reboques e carrocerias não teve bom desempenho e caiu 9,7%. Acompanharam a mesma tendência as produções dos setores de máquinas e equipamentos (-6,7%), produtos alimentícios (-1,7%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-8,2%).

Outros ramos também registraram produção menor, mas num ritmo menos intenso: máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-3,5%), metalurgia (-1,5%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-2,6%), produtos de borracha e de material plástico (-1,6%) e outros equipamentos de transporte (-3,3%).

Na contramão, a indústria de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis avançou 1,4%, assim como os segmentos de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (1,3%), indústrias extrativas (0,6%), produtos têxteis (3,4%) e bebidas (1,3%).

De acordo com Macedo, o desastre de Mariana impactou o resultado negativo do setor extrativo observado em fevereiro, em comparação com o mesmo mês no ano anterior, no entanto, ele ressaltou ainda uma “contribuição negativa vindo da extração do petróleo”. “Mas é claro que em termos de importância, minério de ferro tem contribuição maior para esse recuo de 12,1%.”

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De um mês para o outro, a produção das indústrias de bens de consumo duráveis caiu 5,3%, "influenciada principalmente pela menor produção de automóveis e de eletrodomésticos, ainda afetados pela concessão de férias coletivas em várias unidades produtivas".

"Dentro da atividade de veículos automotores, reboques e carrocerias, há uma contribuição bem clara de veículos automotores. A parte de caminhões mostrou comportamento positivo. Parte relacionada a autopeças mostra queda também. Até porque o cenário desse segmento permanece. É um setor ainda caracterizado por redução de jornada de trabalho, demissão de pessoal, lay-off, estoques ainda, embora venha diminuindo mês a mês, ainda permanecem acima do padrão ideal, então, todo cenário do segmento de veículos permanece do jeito que a gente já em falando há algum tempo.”

Os setores produtores de bens intermediários registraram recuo de 2% na produção, e o de bens de consumo semi e não-duráveis, 0,6%.

“Crédito mais restrito mais escasso combinado com mercado de trabalho funcionando de forma menos favorável do que no ano passado, renda menor, comprometimento dessa renda, inflação mais alta são fatores que explicam muito a parte de bens de consumo, especialmente duráveis, com comportamento de queda. [Essa explicação] Também serve para não duráveis (...) esses fatores comprometem muito o comportamento de bens de consumo, não por acaso apresenta taxas negativas mais elevadas do que a média da indústria.”

Entre os segmentos analisados, só o de bens de capital conseguiu ter resultado positivo ao crescer 0,3%. “Bens de capital, mesmo crescendo na margem nesses dois primeiros meses de 2016, ele cresce em cima de uma base muito depreciada. E mais do que isso, o crescimento em nada suplanta as perdas observadas no ano de 2015”.
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