A possibilidade de o BNDES vier a financiar US$ 1 bilhão para a construção de um superporto no Uruguai gera reações no setor produtivo, que há anos cobra do governo federal a realização de investimentos para melhorar a infraestrutura nacional.
Para o coordenador do movimento Pró-Logística Edeon Vaz, o Brasil deveria concentrar esforços no Brasil, investindo em hidrovias, ferrovias e na recuperação da malha rodoviária nacional.
“Não se justifica utilizar dinheiro público do Brasil para financiar obras em outros países. O Uruguai é um país soberano e possui outras fontes de recursos. Vai prejudicar o porto de Rio Grande, não o de Paranaguá”, afirmou ao
Agro Olhar.
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Edeon Vaz pondera, no entanto, que a construção do porto uruguaio de Rocha faz sentido quando se analisa o potencial de utilização da hidrovia Paraná Paraguai, que desembocará na foz do Rio da Prata, entre Uruguai e Argentina.
No entanto, ainda que o novo terminal ficasse disponível para o transporte de cargas provenientes do centro-oeste, ele não é imprescindível ao país, na avaliação do coordenador.
“Hoje temos portos fluviais que já atendem a hidrovia do Paraguai, como os portos de Santa Fé, Rosário e Nueva Palmira, que podem receber embarcações com capacidade para transportar até 50 mil toneladas de grãos”, observou.
O projeto uruguaio tem calado (profundidade) de 20 metros, o que permitirá a atracação de navios com capacidade para até 180 mil toneladas. Os portos do Sul do Brasil têm, no máximo, 14 metros de calado e recebem navios com até 78 mil toneladas.
O governo uruguaio publicou na Internet estimativas sobre o novo porto. Em 2025, deve movimentar 87,5 milhões de toneladas, mais do que a soma dos terminais de Paranaguá (com 44,7 milhões de toneladas em 2013) e Rio Grande (com 33,2 milhões de toneladas em 2013).
É esperado que uma empreiteira brasileira faça as obras em Rocha. É o mesmo modelo adotado pelo BNDES para financiar com 685 milhões de dólares o porto cubano de Mariel, reformado pela Odebrecht.
Em entrevista ao jornal uruguaio República, em janeiro, o presidente uruguaio, José Mujica, afirmou que o Brasil financiaria 80% do porto, que deve começar a ser construído em 2015. O percentual equivale ao suposto aporte bilionário do banco. "O Brasil nos deu e nos dará uma grande mão com esse trabalho. O Uruguai não tem a capacidade para financiar isso por si só e depende, por enquanto, de ajuda externa", disse Mujica à época.
A participação em obras de infraestrutura no Exterior foi negada pelo presidente da instituição, Luciano Coutinho, no final de março, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, mas fontes ligadas à negociação projetam que o apoio poderia chegar a US$ 1 bilhão. O governo bradileiro já vem senod critiado por ter financiado o empréstimo de US$ 685 milhões para construir o porto de Mariel, em Cuba.