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Notícias / Energia

Captação de usinas com recebíveis deve crescer

Canal do Produtor

 Nos últimos dois anos, a saída encontrada por alguns grupos foi a emissão de bonds. Com a piora do humor no mercado internacional, porém, a taxa de juros cobrada nessas emissões subiu e as tornaram inviáveis, o que fez algumas companhias até abortarem captações em curso.

Agora, a nova onda deverá envolver a emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Os títulos têm lastro em créditos que as empresas do segmento têm a receber com a venda de seus produtos, como cana, etanol e açúcar. O investimento em CRA conta com isenção de imposto de renda e permite às companhias levantarem recursos a custos menores do que o das linhas de crédito tradicionais.

O potencial de mercado para esse tipo de emissão em 2014 pode chegar a R$ 1,4 bilhão somente entre as usinas prospectadas pela securitizadora Gaia Agro, diz o diretor da empresa, João Paulo Pacífico. Mas, dado que no próximo ano haverá eleições e Copa do Mundo no Brasil, Pacífico avalia que a demanda será menor. Ele acredita ser factível realizar cerca de oito operações em 2014, que poderão levantar, juntas, de R$ 400 milhões a R$ 600 milhões para usinas.

As emissões lastreadas em contratos de etanol deverão liderar o formato das captações em 2014, diz Daniel do Valle, um dos principais executivos da área de finanças corporativas da Czarnikow, parceira da Gaia nessas operações no segmento. Como esses recebíveis são em moeda local, não é preciso contratar instrumentos de proteção cambial, o que encareceria a emissão.

Esse é o perfil da captação de R$ 120 milhões feita pelo grupo Nardini, proprietário de uma usina em São Paulo. Na oferta, coordenada por Banco do Brasil e Santander, a empresa usou um contrato de cinco anos de fornecimento do biocombustível com a distribuidora Ipiranga.

Com vencimento em 2019, o CRA da Nardini é o de prazo mais longo já emitido com base em recebíveis de uma usina. Ao investidor, a remuneração do papel é de CDI mais 3% ao ano. "Não existe oferta de crédito com esse perfil e prazo para a maior parte das empresas desse setor", diz Pacífico.

A intenção é que, das cerca de oito emissões de CRAs que devem ser realizadas pela securitizadora, pelo menos quatro sigam o formato da operação da Nardini - captações de longo prazo lastreadas em contratos de etanol com distribuidoras.

Operações lastreadas em contratos de exportação de açúcar também poderão ser feitas em 2014. Para eliminar o risco cambial, a securitizadora e a Czarnikow tendem a prospectar usinas que sejam sócias da Copersucar, cujo contrato é fechado em moeda nacional.

A captação de recursos para fornecedores de cana também está no radar da Gaia Agro e da Czarnikow. Essas emissões devem ter lastro nos contratos de compra e venda da matéria-prima entre o fornecedor e a usina. No início do ano, a securitizadora fechou uma emissão de CRA com fornecedores de cana da Odebrecht Agroindustrial.

Os bancos têm cerca de R$ 60 bilhões emprestados ao segmento sucroalcooleiro e dificilmente conseguirão atender à demanda de investimento dos próximos anos, na avaliação do diretor da FG Agro, Gustavo Correa. "Quem sair na frente na criação de alternativas, terá uma vantagem relevante", diz Correa.

Tanto as emissões no mercado local como no internacional seriam alternativas, conforme o diretor da FG Agro. No entanto, algumas usinas já "queimaram a largada" no mercado de dívida externa - ou seja, após a emissão do bond, apresentaram resultados ruins ao mercado, já conturbado com a turbulência derivada da crise. Com isso, afirma Correa, foram inviabilizadas, pelo menos temporariamente, novas emissões com taxas competitivas para o segmento.

"Atualmente, os bonds de algumas usinas estão sendo negociados a valores equivalentes a CDI mais 16% ao ano. Companhias com uma vida financeira saudável tomam financiamentos entre CDI mais 2% e CDI mais 4% ao ano", diz.

A FG Agro, que também atuou como assessor financeiro da operação da Nardini, prepara entre seus clientes novas captações com base na emissão de CRAs no próximo ano. Entre elas está uma operação de R$ 50 milhões, segundo Correa. "O potencial desse mercado é de R$ 1 bilhão ao ano, o equivalente a 10% das emissões de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI)", avalia o diretor da FG Agro.

A Cetip, responsável pelo registro dos títulos, tinha em estoque em dezembro mais de R$ 850 milhões em operações de CRA. "Trata-se de um número ainda pequeno em relação ao "primo" CRI, cujos estoques na Cetip somam quase R$ 43 bilhões", afirma o diretor da Gaia Agro.

Pacífico acredita que, se usinas de cana com boa reputação acessarem o mercado de CRAs, no longo prazo, essas empresas, atualmente desconhecidas dos investidores, deverão passar a gozar de maior credibilidade e, por consequência, podem passar a captar a taxas menores. "No futuro, parte do ganho do investidor do CRA, que tem isenção de IR equivalente a 15% e 20%, pode ser repassado ao emissor", diz Pacífico.
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