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“Ser diferente é normal”: Nexa diz que Aripuanã já opera com 20% de mulheres e inclui trabalhadores indígenas

Da Redação - Jardel P. Arruda

A Nexa Resources, mineradora que opera em Aripuanã (noroeste de Mato Grosso), afirma que vem implantando políticas de diversidade que vão além do discurso formal e que já estão em campo na operação da mina subterrânea no município. Segundo o vice-presidente de Pessoas e Relações Institucionais da empresa, Carlos Alberto Hilário de Andrade, cerca de 20% da força de trabalho em Aripuanã é composta por mulheres, índice considerado alto para o setor de mineração pesada, e há a presença de trabalhadores indígenas contratados localmente.

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“Nosso desafio é criar um ambiente em que as pessoas possam ser quem são, sem medo de retaliação. Isso vale para as mulheres na mina subterrânea, para trabalhadores indígenas e para funcionários LGBT. A lógica é simples: ser diferente é normal”, afirmou o executivo.

A Nexa opera uma mina subterrânea em Aripuanã desde 2022. O município está inserido na Amazônia Legal e cercado por comunidades tradicionais e aldeias indígenas. A presença da mineradora alterou a economia local, ampliando renda e oferta de emprego formal, mas também acendeu discussões sobre o tipo de cultura corporativa que chega junto com o investimento.

Para Carlos Alberto, a mudança não pode ser só técnica. Ele defende que esses territórios recebem historicamente “indústrias de homens”, onde a norma é masculina, branca e heterossexual. A Nexa, diz ele, está tentando quebrar essa norma desde a base: “Nós temos hoje em Aripuanã algo em torno de 20% da mão de obra formada por mulheres. Isso não era imaginável há alguns anos para uma atividade subterrânea. E é resultado de desenvolvimento de mão de obra local, de preparar as equipes para receber essa mudança e garantir que essas profissionais tenham estrutura para trabalhar.”

Segundo ele, isso inclui desde adaptação física dos espaços até mudança de mentalidade. Ele citou como exemplo a criação de áreas de convivência e descanso pensadas para trabalhadoras mulheres nas áreas operacionais, e não só no administrativo, e programas internos para “letramento” das equipes, ou seja, treinar as equipes sobre respeito, linguagem, formas de tratamento e limites de conduta.

“A mineração historicamente foi um ambiente masculino. As características e competências naturais da mulher hoje são essenciais. Sensibilidade, capacidade de enxergar várias coisas ao mesmo tempo, leitura de contexto. Isso é necessidade de negócio, não favor. Quando a indústria percebe que a contribuição da mulher faz diferença, ela começa a abrir espaço”, disse.

O executivo também afirma que há funcionários indígenas trabalhando em Aripuanã e que esse vínculo não é só econômico. Segundo ele, a empresa mantém diálogo com comunidades do entorno e apoia ações de preservação cultural, incluindo a transmissão de ofícios tradicionais e de língua entre gerações. Ele relatou, por exemplo, que anciãs indígenas de mais de 100 anos estão sendo apoiadas para repassar técnicas artesanais a jovens das aldeias, para que o conhecimento não desapareça. “Esse trabalho é sobre identidade, autoestima e continuidade de cultura. Se a cultura quebra, a pessoa perde referência de quem ela é”, disse.

Além da pauta de gênero e povos originários, o VP cita que a Nexa mantém grupos de afinidade internos — mulheres, gerações, raça e etnia, e grupo LGBT+ — com cerca de 200 voluntários atuando nas unidades do Brasil e do Peru. A ideia, segundo ele, é que as demandas não cheguem só de cima (RH), mas que surjam de quem vive a operação todos os dias.

“Nós trabalhamos para que a liderança seja inclusiva e para que a cultura diária deixe claro o que é aceitável e o que não é. A pessoa precisa saber que pode se posicionar, discordar, denunciar assédio ou discriminação sem medo. Hoje nós temos canais formais de denúncia, comitê de conduta e retorno ao funcionário. Isso precisa ser rotina, não campanha”, afirmou.

Carlos Alberto, que é negro e psicólogo de formação, diz que vê diversidade como eixo estratégico — e não como marketing moral. Para ele, ignorar diversidade custa produtividade. “Isso não é pauta moral. É pauta de competitividade. O mundo mudou depois da pandemia, depois da aceleração tecnológica. Resposta pronta acabou. Você precisa de visões diferentes na mesa para achar solução nova. Se você fecha esse espaço, você perde capacidade de resposta.”

Ele afirma que a Nexa já tem pessoas negras na diretoria (ele cita dois executivos negros na alta gestão) e defende que a presença em cargos de decisão importa porque modela o que é considerado normal dentro da empresa. “Quando a diretoria deixa de ser só homem branco, isso muda a régua de referência do resto da organização. As pessoas entendem que pertencem.”

Apesar de defender avanço consistente, ele admite que há limites: nem todos os recortes identitários estão mapeados com clareza e nem todos os números estão maduros. Ele cita, por exemplo, que a empresa ainda não tem um levantamento completo de funcionários LGBTQIA+ declarados, embora já haja dados preliminares de pessoas trans; e que ainda não existe, no detalhe, uma demografia consolidada por raça, cor e etnia em todas as unidades. “Estamos evoluindo. A empresa está criando espaço para que as pessoas tenham liberdade de se declarar. Esse espaço não existia alguns anos atrás.”

Para ele, a chave é continuidade. “Não é fazer uma campanha bonita e depois sumir. É manter todo dia na rotina. É isso que vira cultura. Cultura é aquilo que as pessoas entendem como normal e repetem sem precisar de ordem.”
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