Esta moça de vez em quando vinha conversar comigo. Trazia uma queixa que se repetia em todas as conversas: “As pessoas que começaram nesta empresa junto comigo já foram promovidas e eu ainda não fui.” Emaranhada nessas palavras está uma emoção muito humana e muito dolorosa: a inveja.
Você já sentiu inveja de colegas de trabalho?
É difícil admitir a inveja porque ela vem com uma carga cultural negativa, imagens da madrasta invejosa de Branca de Neve, as irmãs invejosas de Cinderela, e assim por diante. Em nossa cultura, sentir inveja é errado. Mas só que todo mundo sente, inclusive no trabalho. E agora?
Em seu artigo sobre o lado bom da inveja para o Harvard Business Review, Nihar Chhaya enfrenta o monstro da inveja de frente. Chhaya recomenda várias estratégias para interromper a agonia da comparação e tirar algo de bom da inveja. Nos meus mais recentes encontros com a inveja profissional, usei duas delas: trocar a comparação pela curiosidade, e aproximar-se – ao invés de afastar-se – das pessoas que você inveja.
Decidi que a inveja é uma porta para o auto-conhecimento.
Com curiosidade, fui buscar ouvir as mensagens que a inveja estava me trazendo. Por que estou sentindo inveja? O que essa pessoa conseguiu profissionalmente que eu também gostaria de conseguir? Como ela conseguiu isso? Posso aprender com ela? Para aguentar essa difícil reflexão, precisei também de humildade e coragem para olhar para as minhas próprias emoções. A humildade foi para reconhecer que pode haver algo em meu comportamento que possa estar funcionando como um empecilho aos meus objetivos profissionais. A coragem foi para não criar desculpas esfarrapadas ou culpar os outros pelas minhas insatisfações.
Depois de ouvir, abraçar.
Descobri que a essência da inveja é a admiração. E que se eu admiro alguém, quero estar perto dessa pessoa, celebrar seu sucesso com sinceridade, aprender com ela, permitir que ela seja uma inspiração para mim. A aproximação ajuda a combater a inveja de muitas formas. Ao conhecer melhor uma pessoa, a gente dissipa algumas das fantasias que tínhamos a respeito dela e começamos a enxergar mais claramente a sua humanidade, o que traz à tona a nossa empatia.
Liberte-se da inveja.
Na filosofia budista, que me encanta, a inveja é uma emoção humana normal, mas é também um estado aflitivo, ligado à competição e à comparação, e exacerbado com a adição do desprezo. Não se iluda. A inveja pode lhe ser nociva. Em seu lindíssimo livro Emotional Awareness (Sabedoria Emocional), o Dalai Lama e Paul Ekman, pesquisador da Universidade de Stanford, conversam sobre a importância de fortalecer as emoções positivas para diminuir as distrações e distorções causadas pela raiva, inveja, etc. Estas emoções atrapalham a qualidade das nossas interpretações da realidade e das nossas decisões. Já pensou como isso pode afetar sua saúde mental e sua carreira? O antídoto para a inveja é o reconhecimento do êxito da pessoa que invejamos e as suas virtudes, e a alegria pelo que ela está alcançando e pelo bem que está fazendo.
O método do pavão.
Fechando com um pensamento inspirador. Na arte e iconografia budista, a habilidade que tem o pavão de consumir plantas venenosas e transformar o veneno em penas das cores mais exuberantes, simboliza a transformação das emoções negativas tais como a raiva, a inveja e a ignorância em emoções positivas tais como a compaixão e a sabedoria. Ao ouvir e digerir a nossa inveja, podemos criar um arco-íris de autoconhecimento e crescimento profissional e espiritual.
Quer aprender mais sobre emoções? Recomendo os livros de Brené Brown, começando por A Coragem de Ser Você Mesmo, e Atlas of the Heart (ainda sem tradução para o Português).
Sucesso e muitas cores lindas para você!
Beatriz Coningham é doutora em Desenvolvimento de Recursos Humanos pela George Washington University em Washington, D.C., e presidente da empresa de consultoria HabilisGlobal.